Jornal Estado de Minas

Resíduos eletrônicos servem de inspiração para objetos de arte e acessórios

Grupo na Pampulha transforma CDs em utilitários e arrecada dinheiro para creche

Shirley Pacelli
Shirley Pacelli

Os gambiólogos Lucas Mafra, Paulo Henrique Pessoa (o Ganso) e Frederico Paulino se divertem com sucata tecnológica - Foto: Juliana Gontijo/divulgação

Lucas Mafra tem formação autodidata em eletrônica e se enveredava pela área desde criança, por simples curiosidade. Paulo Henrique Pessoa – o Ganso – é designer de produto. Fred Paulino fez o curso de ciência da computação. O trio forma o coletivo Gambiologia: mestres da ciência da gambiarra. Eles criam objetos diversos com um mix de sucata, tecnologia e muita imaginação. O objetivo, de acordo com Fred, é exercer a criatividade dentro da área de formação de cada um, valorizando a cultura brasileira. “Precisamos pensar a tecnologia de forma espontânea e até mais divertida, humanizá-la. É preciso abrir os mistérios dessa caixa-preta.

A prática da gambiarra tem a ver com isto: colocar a mão na massa”, ressalta.

Desde 2009, o trio rodou o Brasil e o mundo, passando por países como Áustria, Japão e Estados Unidos, com suas oficinas e exposições. Em 2010 foi realizada em BH, no Espaço Centoequatro, a exposição coletiva Gambiólogos, com 26 artistas brasileiros e do exterior. Em junho será lançada a terceira edição da revista Facta (imperativo do verbo fazer em latim), produzida por meio de lei de incentivo à cultura e com tiragem de 1.720 exemplares. É uma publicação sobre gambiologia que conta com a participação de artistas de áreas diversas, como fotografia, ilustração, poesia, moda, escultura… São mais de 50 colaboradores envolvidos no projeto. A inspiração para o conteúdo da revista será a cultura hacker, que também será um dos temas para a curadoria da segunda edição da mostra Gambiólogos, prevista para este ano.

 As oficinas têm público de 8 a 80 anos. O coletivo já fez mais de 30 edições, em universidades, festivais de arte e projetos sociais. Em BH eles passaram em janeiro pelo Museu dos Brinquedos e já levaram a ciência da gambiarra para a organização não governamental Contato, a Escola de Arquitetura e a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O grupo recolhe ferro-velho e leva para as aulas na expectativa da transformação. No meio do processo, ensina noções básicas de eletrônica, circuitos, LEDs, motores etc. “Queremos destravar a criatividade. Com aquele monte de sucata as pessoas começam a perceber que é possível criar coisas interessantes”, ressalva.
Oficina do coletivo Gambiologia no Marginalia Lab, espaço de experimentação colaborativa com novas tecnologias - Foto: Marginalia Lab/divulgação
RECICLAGEM CRIATIVA

Imaginação, técnica e boa vontade não faltam para um grupo de 13 senhoras voluntárias da creche Obras Sociais da Pampulha (obrasociaisdapampulha.blogspot.com.br).

Percebendo que os CDs estão ficando obsoletos diante da popularidade de arquivos MP3 e recentemente de aplicativos de streaming de música, como Spotify, Deezer e Rdio, resolveram usá-los como matéria-prima para artesanato.

A entidade atende cerca de 200 crianças de baixa renda, até 7 anos. Trabalhando na creche há 14 anos, Ivete Couto Nunes Mansur, de 57, conta que o grupo se reúne todas as tardes de segunda-feira para produzir os objetos que são guardados para um bazar no fim do ano, realizado durante um festival de tortas. Normalmente, elas conseguem arrecadar cerca de R$ 18 mil no ano, somando os valores cobrados pela entrada. “Somos 13 voluntárias, mas é pouco tempo. Sempre levamos trabalho para casa”, conta Mansur.

Costura e bordado são as atividades mais procuradas, mas também há espaço para a criação de novidades por meio da reciclagem. No ano passado, elas produziram cerca de 100 porta-copos com CDs. A meia dúzia era vendida em caixinhas por R$ 18. O disco ganha acabamento de tecidos estampados em um lado e papel contact liso do outro.
Os CDs descartados também servem de base para divinos espírito santos vendidos a R$ 22. Elas já conseguiram vender cerca de 150 unidades. Este ano, os CDs arrecadados vão se transformar em agulheiros, ainda sem preço.


PONTOS DE DESCARTE
Sabe aquela pilha de mouses e teclados que está criando teia de aranha no armário do quartinho de despejo? Que tal fazer uma limpeza geral? Descarte e doe
Associação Municipal de Assistência Social (Amas)
Aceita qualquer material eletrônico.
Rua Resende Costa, 212, Bonfim. Aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
(31) 3277-5158
amas.org.br

Centro Mineiro de Referência em Resíduos
Não recebe resíduos, só equipamentos de informática que estejam em condições de recondicionamento. É preciso ligar e marcar com antecedência. Assina-se um termo de doação, se o material for aprovado para a coleta.
Avenida Belém, nº 40, Bairro Esplanada – Belo Horizonte
(31) 3465-1204
www.cmrr.mg.gov.br

Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC)
Recebe somente equipamento de informática para recondicionamento.
Rua José Clemente Pereira,
nº 440, bairro Ipiranga –
Belo Horizonte
( 31) 3277-6259

Comitê para Democratização em Resíduos (CDI) Minas
Aceita equipamentos de informática e periféricos, inclusive que não estejam funcionando, salvo monitores queimados. É preciso entrar em contato antes da doação.
(31) 3280-3313/ 8403-9956
cdimg.org.br

Empresa Mineira de Lixo Eletroeletrônico (Emile)
Coleta eletrônicos e eletrodomésticos. É só ligar e agendar que a empresa busca o material na sua casa. Há também pontos de doação em shopping de Nova Lima, escolas e universidades de Belo Horizonte.
Rua Maria das Mercês Lima, nº 256, Bairro Betim Industrial – Betim
(31) 3044-5280/ 9950- 3312
emile.net.br

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