Jornal Estado de Minas

Ferramentas tecnológicas já ajudam comunidades carentes a obter verbas para projetos

Tecnologia serve até para ajudar pessoas a resolver problemas

Shirley Pacelli

Biblioteca inaugurada na comunidade Eliana Silva foi construída em um mêsemeio e viabilizada com verba obtida por campanha no Catarse - Foto: ANA CAROLINA M. SORAGGI/DIVULGAÇÃO


De dentro da barriga da mamãe Cidiléia, a pequena Laila já fazia coro à campanha de financiamento coletivo da Creche Tia Carminha, da comunidade Eliana Silva, em Belo Horizonte. Agora, com alguns meses de vida, ela será uma das crianças a estrear o novo berçário, que ficará pronto em breve graças ao resultado positivo de crowdfunding no site do Catarse (catarse.me/pt/crecheelianasilva). Laila, Davi, Everton e Ivan, além de outras 200 crianças, ganharam também uma biblioteca comunitária, que foi inaugurada recentemente. Com meta de R$ 40 mil, a comunidade conseguiu arrecadar cerca de R$ 51 mil, possibilitando a construção do espaço em um mês e meio.

A biblioteca tem mil livros de literatura, infantil e didático. A catalogação ainda será feita por voluntários. Já a creche vai garantir a independência econômica das mulheres da comunidade – formada em grande parte por mães solteiras. Garantindo um espaço seguro e de formação para seus filhos, elas poderão trabalhar mais tranquilas.
As vagas nas Unidades Municipais de Educação Infantil (Umei) não suportam a grande demanda da região.
Projeto Bike anjo, onde ciclistas experientes ensinam pessoas a pedalar pelas ruas da capital com segurança, é apoiado pela startup Tysdo - Foto: TYSDO/DIVULGAÇÃO
Verônica Gomes Olegário Leite, de 27 anos, mestranda em literatura na Universidade Federal de Minas Gerais, foi quem organizou a campanha junto a seis outros voluntários. A equipe preparou um calendário semanal para postar textos e imagem. Cineastas produziram os vídeos de divulgação do projeto, que alcançaram cerca de 7 mil visualizações no YouTube. Um grupo no Facebook foi criado especialmente para articular os voluntários antes de cada ação e o perfil oficial do Eliana Silva (https://on.fb.me/1eH7PhP) concentrou os anúncios. Uma grande rede se mobilizou. “Três a quatro pessoas ficavam por conta de promover na internet a iniciativa. Nos planejávamos em relação até do horário para garantir mais visualizações e compartilhamentos”, conta Verônica.

Os R$ 34 mil (R$ 6 mil ficaram para o Catarse) destinados à construção da creche bancarão só a obra, não a estrutura. Será realizada a edificação do primeiro cômodo, com tamanho menor do que o necessário, para atender todas as crianças, com refeitório e berçário. “Geladeira, fogão industrial e todo o restante necessário para o seu funcionamento ficou de fora dessa conta”, alerta Verônica. Inicialmente, ela irá atender só 70 crianças de até 6 anos, com maior necessidade. A creche funcionará com duas turmas, uma em período integral, das 7h às 19h, e outra das 19h às 22h – horário em que as mães poderão estudar no projeto interno de educação de jovens e adultos.
As funcionárias serão as próprias moradoras da comunidade, que vão passar por cursos de formação com pedagogos da UFMG. Para conseguir verba para esses itens e garantir a manutenção mensal do espaço, de cerca de R$ 15 mil, foi lançada uma campanha de apadrinhamento (www.elianasilva.com.br) das crianças, além da Associação Amigos da Creche Tia Carminha.

Realizando sonhos

Sabe aquelas listas clichês das coisas que você deveria fazer antes de morrer? Pois é, a turma da startup mineira responsável pelo aplicativo Tysdo – Things you should do (Coisas que você deve fazer, em português) resolveu trazer isso para o cotidiano. “Aprender a cozinhar, fazer ioga e voltar a dançar estão na minha lista”, avisa Roberta Vasconcellos, de 25 anos, sócia-fundadora. O app, que acaba de ganhar versões web e Android (tysdoapp.com), incentiva as pessoas a compartilhar seus desejos na rede. Para Roberta, a exposição é o primeiro passo para concretizar seu sonho – “pessoas que já fizeram aquilo podem dar apoio”, diz.

Além de novas funcionalidades, como o botão de incentivo, a startup tem feito parcerias para ajudar a realizar os sonhos por aí. Na últimas semanas, ela apoiou o Bike anjo BH (bikeanjo.com.br), projeto onde ciclistas experientes ensinam gratuitamente as pessoas que querem aprender a pedalar nas ruas com segurança. Além disso, eles já apoiaram a árvore dos desejos, projeto de doação de presentes para crianças carentes. Outra iniciativa, em conjunto com a agência Tia Eliane Turismo, lançou cinco desafios na Disney, como provar o picolé do Mickey de frente ao castelo.

Os momentos foram fotografados e compartilhados. As imagens mais curtidas ganharam um iPad mini. “A gente acredita muito nisso de ajudar as pessoas pelas experiências – criar uma corrente do bem”, afirma Roberta.

Atualmente, a plataforma conta com 300 mil usuários do mundo todo, já que tem versões em português e inglês. A grande maioria é de São Paulo, mas os mais engajados estão mesmo na capital mineira. Listas de desejos temáticas e elementos de gamificação estão sendo testadas na plataforma. No final do ano passado, a equipe conseguiu um investimento.

A startup foi escolhida pela Mobile Futures Brasil no projeto Mondelez (Kraft Foods) para trabalhar com a marca Halls, com um investimento de R$ 50 mil. A campanha foi lançada recentemente. A Tysdo estuda três modelos de negócios. O primeiro é o marketing de experiência: recompensa de desejo realizado por marcas. O segundo é criar um market place de listas. Especialistas poderiam indicar experiências incríveis: coisas para fazer antes de casar, perder peso ou curtir a vida em Londres... E o último modelo de monetização seria a publicidade direta.

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