Há uma fábula de Esopo na qual um mercador grego pergunta ao seu escravo qual é a melhor e a pior comida do mundo. O escravo, em sua sabedoria, apresenta a língua para ambas as condições, justificando que ela pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal. A alegoria encaixa-se perfeitamente à tecnologia. Se por um lado essa ciência é utilizada para disseminar malwares, promover conteúdos discriminatórios e fortalecer o submundo do crime, por outro ela pode servir a projetos que mudam positivamente a vida das pessoas.
A plataforma combina as tecnologias web, mobile e de hardware com a cultura de colaboração, para ajudar as pessoas a solucionar problemas coletivos e de alto risco. Com o aplicativo, o usuário tira uma foto, escolhe o tipo de aviso (incêndio, acidente etc.) e envia para o sistema. Instantaneamente, a central recebe o dado no mapa, que também pode ser visualizado pelo cidadão. É possível ainda ver o status do seu aviso como solucionado ou falso, já que trotes são recorrentes. A resposta da central chega para você em forma de notificação push.
Cidades seguras
Em Santiago, no Chile, a plataforma está sendo usada pelos bombeiros, que recebem informações de acidentes e incêndios diretamente da população. Maltrato a animais e falta de acessibilidade em percursos do município também são reportados. Na Venezuela, tomada por protestos, as prefeituras das cidades de San Cristóbal, Hatillo e Caracas, além do organismo Global Shapers, estão utilizando a plataforma em suas centrais. Eles recebem em tempo real informações sobre desaparecidos e feridos, facilitando a distribuição de oficiais e ambulâncias. Por meio do aplicativo ou de hashtags no Twitter, os venezuelanos já repassaram cerca de mil notificações geolocalizadas.
Os sócios Daniel Ponce e Mauro Trigo dizem que a ideia é utilizar a tecnologia para construir cidades mais seguras. No Brasil, a startup terá diferentes alvos. Em Belo Horizonte, ela negocia uma parceria com o governo estadual para lançar uma campanha durante a Copa do Mundo a fim de reportar a violência. Outro foco são as empresas de segurança que atuam em condomínios. Os moradores poderiam informar a uma central de controle interna diferentes problemas, desde lâmpadas queimadas até tentativas de assaltos.
Uma curiosa aplicação vista por Daniel é o uso da solução em aglomerados brasileiros. A plataforma, interligada a detectores de fumaça, poderia automaticamente soar alarmes em casos de incêndio – salvando muitas vidas. A mesma informação seria recebida pelas autoridades. Para viabilizar a ideia, todo produto vendido a condomínios pagaria parte dos destinados às favelas. “Fomos ao Morro do Papagaio em BH e compreendemos que eles não podem pagar por essa solução. Por isso pensamos nessa espécie de programa social”, afirma Daniel. A versão em português do aplicativo, em testes, ainda não foi liberada. Conheça nesta edição outras startups mineiras que lançaram produtos e programas capazes de fazer a diferença na vida das pessoas.