Flávia Franco
Esses tipos de cobertura são soluções arquitetônicas recentes que buscam tornar a paisagem urbana e o clima ao redor das construções mais agradáveis. Os primeiros consistem em acrescentar uma camada de terra e grama sobre a laje das casas e prédios. Já os telhados frios são compostos por revestimento elastométrico, que aumenta a capacidade de dilatação e concentração do concreto, normalmente brancos, para refletir mais os raios de sol.
Usando um conjunto de simulações climáticas, o grupo coordenado por Matei Georgescu, da Escola de Ciências Geográficas e Planejamento Urbano da Universidade Estadual do Arizona (EUA), avaliou a capacidade de absorção do calor desses telhados. Segundo a equipe, a combinação dessas soluções nas cidades não só pode neutralizar o aumento da temperatura como também compensar uma parte significativa do aquecimento global provocado pelos gases do efeito estufa.
Medidas desse tipo são urgentes, alertam os autores. Segundo eles, na ausência de novas formas de desenvolvimento urbano, a disseminação de centros populacionais como acontece hoje pode acarretar em um aumento de temperatura entre 1°C e 2°C nas regiões de maior concentração populacional dos Estados Unidos ao longo do século 21. E essa elevação dos termômetros pode ocorrer independentemente do aquecimento induzido por gases de efeito estufa.
Dessa forma, as áreas urbanas assumem o papel de crucial na mudança ambiental. O consumo e a produção de recursos para uso em ambientes urbanos têm implicações locais e regionais para o bem-estar humano. Em regiões semiáridas, por exemplo, a transformação do ecossistema em paisagens urbanas tem o potencial de conduzir a uma importante mudança climática local e regional, agravando o aquecimento do planeta, aponta o estudo. “Como as cidades são unidades fundamentais tanto para a adaptação quanto para a mitigação das mudanças climáticas, as escolhas de desenvolvimento neste século levarão ao agravamento ou à redução significativa dos impactos das alterações globais”, afirmam os autores.
Qualidade de vida
Cláudia Amorim, professora de arquitetura da Universidade de Brasília (UnB), aposta nessas soluções alternativas. “O telhado verde ajuda na distribuição de calor. Ele absorve esse calor e o transfere para a edificação com muitas horas de atraso. Em cidades como Brasília, com noites mais frescas, ainda pode passar o calor da tarde durante a noite”, diz.
Professor de ciências exatas e da terra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Theotonio Pauliquevis Júnior concorda: “Acho que esse tipo de intervenção urbana deveria ser estimulado, pois tem muito a contribuir para o conforto térmico. Se a construção tem uma laje com uma camada de terra e outra de grama, fica mais fresca, podendo até diminuir o consumo de energia com ar-condicionado”.
Além da contribuição climática, essas alternativas ainda podem ser usadas de outras formas. “Hoje, já se propõem usos recreativos para espaços com telhados verdes. É uma forma de melhorar a qualidade de vida da população, aumentando o contato com a natureza. Um recurso como esse em um prédio como o Minhocão da UnB, por exemplo, seria interessantíssimo. Tanto do ponto de vista ambiental quanto de uso. Também aumentam a permeabilidade dos ambientes, tornando mais fácil reaproveitar a água pluvial”, acrescenta Amorim.
Custo e manutenção
A professora da UnB, contudo, faz algumas ressalvas em relação a alternativas como os telhados verdes. “Ainda é um investimento muito alto e exige muita manutenção. A construção deve ser muito bem feita para não correr o risco de infiltração para os ambientes abaixo. E não serve para qualquer tipo de edificação. Em prédios muito altos, por exemplo, não compensa construir um telhado verde. O recurso fica mais bem adaptado em casos em que a área construída é maior do que a altura”, explica.
Já Pauliquevis vê vantagens mesmo em edifícios altos. “Telhados verdes podem ajudar bastante. Em uma cidade bastante verticalizada, do ponto de vista do Sol, só se vê o teto dos prédios e os telhados das casas. Se boa parte dessa área for reflexiva ou feita de plantas e jardins, essa energia vai ser devolvida para o espaço ou usada para evaporar a água”, analisa.
Não existem soluções universais para o problema de mudança climática urbana, de acordo com os dois. Cada caso deve ser avaliado individualmente para garantir a escolha correta, já que depende de fatores geográficos específicos que devem ser ponderados na escolha das abordagens ideais para o centro urbano. O professor da Unifesp concorda com a conclusão dos pesquisadores americanos. Para ele, o efeito das ilhas de calor independe do tamanho dos centros urbanos, mas da forma como as cidades são construídas. “O efeito da ilha de calor oscila a temperatura em 3°C ou 4°C, não muda mais do que isso. Mesmo em uma cidade pequena, se todas as árvores forem retiradas e o piso, asfaltado, a sensação térmica vai ficar bastante desconfortável”, garante.