Brasília – Todos os anos, a dengue põe em alerta as autoridades de saúde de todo o país. A doença, no entanto, ainda não conta com um teste eficaz que confirme a infecção rapidamente, o que, muitas vezes, adia o início do tratamento adequado do paciente. Uma tecnologia criada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) pode tornar a confirmação quase instantânea. Um biossensor desenvolvido no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) se mostrou capaz de detectar a enfermidade em apensas 20 minutos. O teste, além de rápido, pode ser barato, com custo calculado em R$ 100.
“Acreditamos que a dengue é uma das muitas doenças negligenciadas e que precisa de métodos que auxiliem o diagnóstico, pois, quanto mais rapidamente obtivermos esse resultado, mais armas poderão ser usadas para tratá-la”, diz Alessandra Figueiredo, pesquisadora envolvida no projeto. “Temos casos mais graves que ocorrem quando a pessoa contrai a enfermidade pela segunda vez, o que exige mais cuidado ainda”, completa.
Alessandra explica que a grande inovação do biossensor está no tipo de anticorpo utilizado para reagir com o vírus presente no sangue do paciente. Diferentemente dos testes já existentes, a equipe optou por usar uma estrutura encontrada nas galinhas – os outros usam anticorpos de mamíferos. “Optamos pelo gene da galinha, pois ele tem muito menos semelhanças com o humano.
Além do anticorpo da ave, os pesquisadores produziram em laboratório uma molécula anti-NS1, que, como o nome indica, reage à proteína NS1, que se prolifera no sangue dos pacientes infectados com o vírus da dengue, transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti. A combinação das duas microestruturas funciona como uma sinalização da presença do organismo causador da doença. Caso o plasma sanguíneo testado contenha o agente infeccioso, haverá uma reação que confirmará a doença.
O exame ocorre em um equipamento supersensível munido com um fio de ouro, capaz de detectar uma carga de energia mesmo muito pequena. “Nosso suporte é feito de um material condutor que, após a reação entre a amostra de sangue e o anticorpo de reconhecimento, emite o sinal elétrico caso o vírus da dengue esteja presente”, explica Nirton Cristi Silva, pós-doutorando do IFSC e coautor do projeto.
A tecnologia já foi patenteada e aguarda a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Testes com amostras humanas estão sendo executadas. “O próximo passo é miniaturizar o biossensor para que ele possa ser vendido em escala industrial. Nossa ideia é que ele possa ser usado em lugares mais distantes, o que facilitaria muito a vida das pessoas que moram em regiões rurais, por exemplo”, destaca Alessandra Figueiredo.
Inovação necessária Para Wagner Rodrigues, professor de física do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o trabalho dos pesquisadores da USP é louvável, principalmente por favorecer o tratamento de uma doença que não é priorizada por especialistas na área de tecnologia no exterior. “Esse tipo de solução para enfermidades que consideramos negligenciadas é essencial para países tropicais como o Brasil, onde a incidência é maior. Precisamos que inovações tecnológicas como essa surjam para minimizar os problemas que a dengue pode causar, que, já sabemos, são muitos”, avalia.
O especialista também acredita que o novo biossensor possa beneficiar locais com maior incidência da doença, já que a praticidade servirá como maior aliada do diagnóstico precoce. “Uma tecnologia que seja de fácil manuseamento, além de ser pequena e de transporte fácil, pode ser levada a locais mais distantes. Um resultado em 20 minutos é uma grande evolução”, frisa.
Palavra de especialista
Alberto Chebabo, infectologista
Rapidez fundamental
“Parece ser uma metodologia interessante, por ser rápida e de baixo custo. Claro que precisa ser validada e também necessita de mais informações sobre a sensibilidade e a especificidade do teste para utilização na prática clínica. Quanto mais precoce o resultado, melhor o cuidado prestado no atendimento ao paciente. Com o diagnóstico confirmado, medidas como hidratação oral ou venosa, a depender da gravidade, podem ser realizadas com mais segurança.
medicina atual.” .