Descoberta por Galileu Galilei em 1610, Europa ganhou popularidade recentemente, depois que observações feitas a distância comprovaram que ela tem um vasto estoque subterrâneo de água. Desde os anos 1990, pesquisadores acreditam que o líquido é tão abundante que literalmente jorra da superfície do satélite. Mas foi no ano passado que dados do telescópio espacial Hubble mostraram que a lua expele jatos de vapor d’água de até 200m de altura. A descoberta parece ser a prova que a Nasa esperava para fazer uma investigação mais detalhada.
Os cientistas acreditam que os gases são apenas uma mostra de um oceano salgado protegido por um grosso escudo de gelo.
“Europa é um dos locais mais interessantes no Sistema Solar para a busca de vida fora da Terra. A vontade de explorá-la tem estimulado não somente o interesse científico, mas também o talento de engenheiros e pesquisadores com conceitos inovadores”, declarou, em um comunicado, John Grunsfeld, administrador da Diretoria de Missão Científica da Nasa em Washington. “Essa é uma oportunidade de ouvir os grupos criativos que têm ideias para realizar a ciência a um custo mínimo”, ressaltou.
Desafio
O chamamento publicado pela Nasa lista cinco objetivos para entender a habitabilidade de Europa. Além de estudar o ambiente espacial que rodeia a lua, a espaçonave terá de investigar a estrutura em busca de potenciais lugares para uma exploração mais detalhada. Os instrumentos também devem analisar as composições da superfície e caracterizar a camada exterior de gelo. A prioridade da agência será o estudo do oceano submerso, para entender quão grande ele é e como ele se relaciona com o interior do satélite.
Especialistas acreditam que Europa é um dos melhores candidatos do Sistema Solar para revelar os primeiros sinais de vida fora da Terra. “A superfície certamente não é um bom lugar para a vida, pois recebe bombardeamentos de partículas carregadas. Ela também está em vácuo, não tem atmosfera, e as temperaturas são baixas”, esclarece Douglas Galante, do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia (AstroLab) da Universidade de São Paulo (USP). “Mas, debaixo da capa de gelo, existe um oceano, e ele deve ter condições bem razoáveis para a vida. Ele é líquido e, provavelmente, salgado, muito parecido com os nossos oceanos”, acrescenta.
O congresso dos Estados Unidos liberou US$ 80 milhões para o desenvolvimento de novas tecnologias para o estudo, e mais US$ 15 milhões podem ser concedidos no ano que vem. O veículo enviado para Marte em 2012 custou US$ 2,5 bilhões à Nasa, mas o equipamento que será enviado para a vizinhança de Júpiter deve ser muito mais modesto que o rover Curiosity, mesmo porque não pousará em Europa – as análises devem ser feitas a distância, com a ajuda de avançadas tecnologias de sensoreamento. A verba total de US$ 1 bilhão exclui os gastos com o lançamento da espaçonave.
Até o momento, Europa só foi observada de longe por equipamentos capazes de analisar a composição do ar e de gerar imagens na discreta resolução de 70km por pixel.
Medições
Roth acredita que a sonda possa usar esses jatos de vapor d’água para estudar a lua sem ter de pousar, mas seriam necessários instrumentos que medissem as partículas das plumas expelidas por Europa enquanto a espaçonave passasse por ela. “No entanto, é necessário saber exatamente onde a espaçonave precisa estar, e em que momento”, ressalta o especialista, enfatizando que uma análise feita na superfície da lua forneceria melhores dados para entender a habitabilidade do corpo celeste. “No entanto, medições diretas das partículas com um espectrômetro permitiriam um aprofundamento mais exato da composição”, especula Lorenz Roth.
Se pousasse diretamente no corpo celeste, a sonda poderia procurar por grânulos de gelo, partículas de gás e outros elementos que fossem expelidos pelos gêiseres lunares. Análises anteriores também mostraram que a superfície de gelo é contaminada por material do ambiente, como dióxido de carbono, sódio e potássio. Mas a Nasa deixa claro que buscará garantir que nenhum organismo terrestre seja levado por acidente pela sonda para a superfície da lua jupiteriana. O projeto da sonda também deve levar em conta a altíssima radiação que é bombardeada sobre Europa e que pode prejudicar os instrumentos ou alterar as leituras científicas. Isso significa que a espaçonave deve contar com uma proteção capaz de manter o equipamento a salvo da deterioração radioativa.
A agência já considera há alguns anos um conceito de missão que enviaria uma espaçonave para a orbitar Júpiter e investigar Europa de perto. O veículo resistente à radiação faria uma longa órbita em torno do planeta para realizar um número estimado de 45 passagens próximas à lua gelada. Entre os instrumentos considerados para o trabalho estão um radar capaz de enxergar através da cobertura de gelo do satélite, uma câmera topográfica de alta resolução, um espectrômetro de massa para analisar a atmosfera e um espectrômetro infravermelho para investigar a composição da superfície.