Jornal Estado de Minas

GAMBIOLOGIA

Coletivo mineiro abre exposição que tem a gambiarra como fonte de inspiração

Shirley Pacelli
Obra Das coisas quebradas, de Lucas Bambozzi, que usa aparelhos celulares, correntes e outros apetrechos tecnológicos - Foto: LUCAS BAMBOZZI/DIVULGAÇÃO

Brasileiro que é brasileiro nasce com o dom da gambiologia – a ciência da gambiarra. Um barbante, clipes e um fio metálico e voilà: o rádio funciona melhor que antes. A tradição brasileira de adaptar, improvisar e encontrar soluções simples e criativas para pequenos problemas cotidianos virou a essência do projeto Gambiologia (www.gambiologia.net), focado em arte eletrônica. Um trio de artistas de Belo Horizonte – Frederico Paulino, o Fred, de 36 anos; Lucas Mafra, de 30; e Paulo Henrique Pessoa, de 58, conhecido como Ganso, criam artefatos multifuncionais que podem ser reconhecidos como eletrônicos, esculturas ou objetos decorativos. Eles são responsáveis pela exposição Gambiólogos 2.0 - a gambiarra nos tempos do digital, que será aberta hoje e fica em cartaz até 17 de agosto no Oi Futuro, em Belo Horizonte.

Fred Paulino, curador da exposição, conta que o tema é a continuação da primeira exposição de 2010, que propôs a apresentação das gambiarras tecnológicas. “A ideia foi expandir a proposta reconhecendo similaridade com obras de outros artistas”, explica. Segundo Fred, a curadoria foi feita por meio da pesquisa que ele já desenvolve desde 2008.

“A questão da gambiarra, apesar de ser original do Brasil, pode ser ampliada. Há também a cultura do improviso em outros países – uma questão ligada à sobrevivência, à necessidade do ser humano resolver seus problemas utilizando os recursos disponíveis”, afirma.

O curador brinca que espera que a visitação seja proporcional à dedicação de todos ao projeto. “Já estamos pensando também em fazer a intinerância com recortes da exposição”, avisa. Para ele, esse tipo de evento traz à tona a problemática do lixo eletrônico, mas não só ela. “Trazemos a reflexão sobre os resíduos como um todo, como as antiguidades descartadas. Usar resíduo como fonte criativa, de alguma forma, é uma ação política dos artistas”, afirma.

Escape, dos artistas Anthony Goh e Neil Mendoza: analogia a ave - Foto: Asas à imaginação

Pássaro interativo construído a partir de sucatas de telefones celulares, esculturas em madeira que se utilizam de propriedades eletromagnéticas e fenômenos da natureza, câmeras improvisadas que captam imagens em 3D de forma analógica e precária, ampulheta digital montada com tubos de TV antigos e espelhos, uma máquina que reproduz sons e luz do trovão... Na mostra não há limites para a criatividade e o improviso.

A exposição ocupará duas galerias do Oi Futuro. Na principal, cerca de 30 artistas apresentarão suas obras. O público poderá conferir trabalhos inéditos e originais criados por artistas internacionais que participarão pela primeira vez da mostra, como a dupla Anthony Goh e Neil Mendoza, da Inglaterra. Também estarão presentes os gambiólogos Joseph Morris e Mark Porter (EUA), Zaven Paré (França) e Ujino (Japão).

Entre as obras mais aguardadas dos brasileiros estão as de Farnese de Andrade e Bispo do Rosário.

Na galeria 2 (lounge) estará uma instalação do Coletivo Gambiologia, anfitrião do evento, em progresso durante a mostra. Haverá ainda oficinas gratuitas. Para se inscrever, basta ficar ligado nas datas a serem divulgadas no Facebook (https://goo.gl/ZUoZGq).

 

Lixo eletrônico é problema mundial
Um levantamento feito por uma iniciativa liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU), no início do ano, revelou que cada pessoa descarta, em média, sete quilos de lixo eletrônico anualmente. Só os brasileiros são responsáveis por 1,3 milhão de toneladas desses resíduos. No mundo, são descartados, em média, 48 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos/ano. Nesse cenário, iniciativas como a do coletivo Gambiologia são sempre bem-vindas. Se a criatividade está escassa para criar novos objetos com os resíduos eletrônicos, você pode doá-los para uma das entidades listadas abaixo:

  Curador da exposição, Fred Paulino diz que trabalho é uma reflexão sobre os resíduos e ação política dos artistas - Foto: NIDIN SANCHES/NITRO/DIVULGAÇÃO

Pontos de descarte
» Associação Municipal de Assistência Social (Amas)
Aceita qualquer material eletrônico.
Rua Resende Costa, 212, Bonfim, Belo Horizonte. Aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
(31) 3277-5158
amas.org.br

» Centro Mineiro de Referência
em Resíduos
Não recebe resíduos, só equipamentos de informática que estejam em condições de recondicionamento. É preciso ligar e marcar com antecedência.

Assina-se um termo de doação, se o material for aprovado para a coleta.
Avenida Belém, 40, Esplanada, Belo Horizonte
(31) 3465-1204
www.cmrr.mg.gov.br

» Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC)
Recebe somente equipamento de informática para recondicionamento.
Rua José Clemente Pereira, 440, Ipiranga, Belo Horizonte
( 31) 3277-6259

» ONG Comitê para Democratização em Resíduos (CDI) de Minas
Aceita equipamentos de informática e periféricos, inclusive que não estejam funcionando, salvo monitores queimados. É preciso entrar em contato antes da doação.
(31) 3280-3313/ 8403-9956
cdimg.org.br

» Empresa Mineira de Lixo Eletroeletrônico (Emile)
Coleta eletrônicos e eletrodomésticos. É só ligar e agendar que a empresa busca o material na sua casa. Há também pontos de doação em shopping de Nova Lima, escolas e universidades de Belo Horizonte.
Rua Maria das Mercês Lima, 256, Betim Industrial, Betim
(31) 3044-5280/ 9950- 3312
emile.net.br

 

Exposição: Gambiólogos 2.0 –  a gambiarra nos tempos do digital

De hoje a 17/8. Terça-feira a sábado, das 11h às 21h, e aos domingos das 11h às 19h.
Local: Oi Futuro BH – Avenida Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras
A entrada é gratuita.
(31) 3229-2979
www.gambiologos.com

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