Mais um passo gigante foi dado para desvendar os costumes de povos mineiros pré-históricos. Pesquisadores encontraram no sítio arqueológico Lapa do Santo, em Matozinhos, na Grande BH, dois esqueletos sepultados há 10,8 mil anos, 600 anos depois de Luzia, cujo crânio de 11,4 mil anos foi descoberto em 1975, em Lagoa Santa, na mesma região, considerado o fóssil humano mais antigo com datação no Brasil. Trata-se de um sepultamento duplo de um homem e de uma mulher entre e 50 e 60 anos, considerados idosos para os padrões da época, pelo desgaste dos dentes, artrose nas articulações e crescimento ósseo nas vértebras lombares.
Desde 2001, cerca de 40 pesquisadores de diversas áreas trabalham no local, coordenados pelo antropólogo paulista André Strauss, do Instituto Max Planck, da Alemanha. Com esse achado, já são 38 esqueletos em 13 anos de trabalho. O sítio fica próximo a Lagoa Santa, berço da espeleologia brasileira, explorada pelo cientista dinamarquês Peter Lund no século 19 e outros estudiosos do século passado. Na região, está a gruta Lapa Vermelha, onde Luzia foi encontrada há 39 anos. O rosto dela foi reconstituído em 1998 e está exposto no Museu Nacional, no Rio de Janeiro (RJ).
Do sítio Lapa do Santo saiu o terceiro esqueleto mais antigo do Brasil e um dos mais antigos da América, segundo o antropólogo.
O trabalho é importante para estudar rituais funerários da época do povo de Luzia, que vai de 12 mil a 8 mil anos atrás “Os rituais na Lapa do Santo eram muito sofisticados. Não eram elaborados através de acompanhamentos, como potes de ouro, mas através da manipulação do corpo do falecido”, disse o pesquisador. Há um caso de uma criança que teve a calota craniana removida e usada como espécie de urna funerária, pintada de vermelho. A caixa óssea guardava cerca de 80 dentes humanos, muitos deles de crianças, de, no mínimo, cinco pessoas. “A minha ideia é que eles guardavam os dentes por um período para lembrar os seus mortos e em algum momento faziam o ritual enterrando-os. Acredito que seja relacionado ao mesmo grupo. Não interpreto como dentes de inimigos”, afirma.
Outro costume era amputar as extremidades dos ossos longos dos mortos. “Ninguém sabe e nunca saberá o motivo.
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