Minas reafirma a sua importância no cenário nacional de arqueologia e paleontologia e tem valorizado o potencial da região cárstica. Especialistas definem como “espetacular” a descoberta de dois esqueletos sepultados há 10,8 mil anos na Lapa do Santo, em Matozinhos, na Grande BH, como mostrou com exclusividade nessa quinta-feira o Estado de Minas. O professor de paleontologia da PUC Minas, Castor Cartelle, disse que vibrou ao ler a reportagem. “É um achado fantástico, que potencializa a riqueza do estado e se torna mais um elemento da Rota Lund”, afirmou Cartelle, se referindo ao projeto que liga o Museu de Ciências Naturais da universidade, no câmpus Coração Eucarístico, na Região Noroeste da capital, à Gruta do Maquiné e ao Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo, na Região Central.
Para Rosângela Albano, diretora do Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire (Caale), vinculado à Prefeitura de Lagoa Santa e localizado no Centro da cidade, a descoberta vai motivar outras e revelar o vasto patrimônio de fósseis existentes na região cárstica. “Esses sepultamentos antigos vão levar a novos achados”, observou a diretora, lembrando que as pesquisas vêm desde os tempos do paleontólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880), que viveu na região por 45 anos e fez escavações em cavernas e grutas com resultados de relevância. As escavações demandam muito tempo e, segundo os especialistas, é um “trabalho de formiguinha”, o que significado demorado, com doses de paciência e delicadeza para não danificar os vestígios encontrados sob a terra (veja o passo a passo).
Desde 2011, um grupo de pesquisadores trabalha na Lapa do Santo, sob coordenação do antropólogo paulista André Strauss, do Instituto Max Planck, da Alemanha. Com o atual achado, já são 38 esqueletos em 13 anos de trabalho. Conforme foi revelado agora, os dois esqueletos eram de homem e mulher idosos, em torno de 50 e 60 anos, e apresentam desgastes dos dentes, presença de artrose nas articulações e crescimento ósseo nas vértebras lombares.
Riqueza
Do sítio arqueológico Lapa do Santo, saiu o terceiro esqueleto mais antigo do Brasil e dos mais antigos da América, segundo Strauss.
A gerente de Unidades de Conservação do Instituto Estadual de Florestas (IEF), vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), considerou a descoberta dos fósseis “grande riqueza”, que se transforma em história e conhecimento, com repasse para os visitantes e interessados em conhecer a Rota das Grutas ou Rota Lund.
Passo a passo
Escavações podem demorar décadas e obedecem a um passo a passo permeado de muito trabalho, paciência e delicadeza. Conheça algumas etapas:
1) Inicialmente, é feita uma limpeza minuciosa da área e definição do local da escavação
2) O trabalho começa com raspagem lenta dos sedimentos. A ferramenta usada é colher de pedreiro
3) O terreno é todo esquadrinhado. À medida que vai descendo (na terra), o especialista vai fazendo a interpretação das camadas de sedimento. Nessa “leitura”, ele vai verificar a ocorrência de vestígios arqueológicos
4) Ao aparecer algum material, a exemplo de esqueleto, o profissional passa a trabalhar com pincéis e pinças, instrumentos bem leves, para não gerar impactos na área
Material vai para a USP
“Como sempre acontece, o material escavado está indo para o laboratório do professor Walter Neves, na Universidade de São Paulo (USP), de quem já fui aluno”, disse ontem o antropólogo paulista André Strauss, do Instituto Max Planck, da Alemanha. Em 2011, Strauss assumiu a coordenação do projeto, que havia se iniciado 10 anos antes com a descoberta do sítio arqueológico Lapa do Santo, em Matozinhos, onde trabalham cerca de 40 pessoas de diversas áreas do conhecimento.
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