Matar as larvas, exterminar o inseto adulto e ainda funcionar como repelente para o Aedes aegypti.
Desde 1997, os cientistas estudam o biossurfactante produzido pela bactéria Pseudomonas aeruginosa LBI. O micro-organismo foi encontrado no terreno onde funcionava um posto de gasolina e levado para o laboratório. A bactéria consome material oleoso e açúcar e sintetiza o detergente biológico. A substância já tem aplicação na indústria petrolífera para a limpeza de tanques e na remediação de contaminações.
“Constatamos que pode ser usado como inseticida, larvicida e repelente. A dengue não conta ainda com vacina e, por isso, é importante atuar nas três frentes”, afirma o mestre em microbiologia Vinícius Luiz Silva, que desenvolveu o estudo junto dos pesquisadores Jonas Contiero, Cláudio José Von Zuben e Roberta Barros Lovaglio. O desafio agora é tornar o custo de produção da substância mais baixo. “Nossas pesquisas agora estão voltadas para que a matéria-prima fique mais barata”, reforça. Apesar do preço, um produto nunca havia se mostrado tão eficaz e versátil contra o mosquito da dengue, cada vez mais resistente a inseticidas.
No primeiro teste, uma solução com a substância foi aplicada em recipiente com água cheio de larvas do inseto. Para respirar e garantir sobrevivência, as larvas precisam se manter na superfície. “O produto, no entanto, reduz a interação entre as moléculas da água e quebra a tensão superficial do líquido, impedindo que as larvas fiquem na superfície”, explica Vinícius. A ação do produto começa a ser percebida 18 horas depois da sua aplicação.
O segundo teste consistiu no combate aos mosquitos adultos e o biossurfactante se mostrou mais uma vez eficiente. O produto foi borrifado nos insetos, que morreram imediatamente. Uma terceira frente de trabalho comprovou a eficácia da substância como repelente. Os pesquisadores passaram o produto em ratos previamente anestesiados e, por 40 minutos, nenhum inseto se aproximou dos mamíferos. Segundo o biológo, não há problema em relação ao uso do biossurfactante na pele.
INTERNACIONAL
Parceria entre os laboratórios de Microbiologia Industrial e de Entomologia do Instituto de Biociências da Unesp Rio Claro e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o estudo foi apresentado no mês passado em congresso nos Estados Unidos. E o coordenador do Laboratório de Entomologia I do Departamento de Zoologia do Instituto de Biocências, Cláudio José Von Zuben, destaca ainda mais uma faceta do biossurfactante.
Segundo Von Zuben, a importância do novo método do combate ao mosquito da dengue cresce diante do aumento da resistência do Aedes aegypti. “A maior parte dos produtos acaba induzindo resistência ao inseto com o passar do tempo. Estamos percebendo a existência de gerações cada vez mais resistentes”, afirma. As larvas do inseto já conseguem se reproduzir em água não muito limpa e os adultos vêm se adaptando a temperaturas mais baixas.
“Toda estratégia que visa controlar a densidade populacional do vetor causa interferência direta na epidemiologia de uma doença transmitida por ele”, reforça o biólogo. De acordo com o Ministério da Saúde, este ano, a dengue matou 213 pessoas no Brasil. No total, 638.404 pessoas foram infectadas pelo vírus. Enquanto o biossurfactante não começa a ser usado, Von Zuben alerta para os cuidados para o combate à doença. “A maior parte dos criadouros está dentro de casa”, ressalta. A principal orientação é não deixar acumular água em nenhum tipo de recipiente.
Ação eficaz
O biossurfactante, produzido pelas bactérias Pseudomonas aeruginosa LBI, atua em três frentes no combate ao mosquito da dengue:
» A substância diminui a tensão do líquido presente nos criadouros do Aedes aegypti, fazendo com que as larvas afundem. Sem conseguir se manter na superfície para respirar, elas morrem
» O biossurfactante é usado em borrifadores no combate aos mosquitos adultos.
» Usado como repelente, o biossurfactante afasta os mosquitos por 40 minutos
COMO COMBATER A DENGUE
» Pneus velhos: entregue-os ao serviço de limpeza urbana. Caso você precise realmente mantê-los, guarde-os em local coberto.
» Piscinas: trate a água com cloro e limpe-a uma vez por semana. Se não for usá-la, cubra-a bem. Se estiver vazia, coloque um quilo de sal no ponto mais raso.
» Lixeiras dentro e fora de casa: feche bem o saco plástico e mantenha a lixeira tampada.
» Caixas-d’água, cisternas e poços: mantenha-os bem fechados e tampe aqueles que não tiverem tampa própria
» Garrafas PET e de vidro: embale para recolhimento todas as que não for usar. Se for guardá-las, ponha sempre a boca para baixo.
» Pratinhos de vasos de plantas e xaxins dentro e fora de casa: elimine-os.
FONTE: SES .