O combate ao aquecimento do planeta tem de começar à mesa. O aviso é de um estudo publicado na revista Nature Climate Change. Ao analisar dados sobre o uso da terra na agropecuária em um modelo que compara cenários climáticos para 2050, os autores concluíram que é preciso cortar a quantidade de carne no prato. De acordo com os pesquisadores ingleses e australianos, se o padrão de consumo dessa iguaria se mantiver, sozinho o setor de produção de alimentos alcançará — se não exceder — o máximo de emissão de gases de efeito estufa previsto daqui a três décadas e meia.
“Esse não é um argumento vegetariano radical”, avisa Keith Richards, professor de geografia da Universidade de Cambridge e um dos autores do estudo. “Nosso argumento é o de que as pessoas devem ser mais sensíveis a essa questão, comendo quantidades menores de carne, o que, inclusive, é mais saudável e balanceado. Ao consumir carne com responsabilidade, você não só mantém as populações mais saudáveis como reduz drasticamente pressões críticas sobre o meio ambiente”, afirma. Em média, das 2 mil calorias ingeridas diariamente por um adulto, quase 500 são de origem animal, diz Richards.
No fim do ano passado, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) alertou, em um relatório, que, para suprir a cadeia do setor agropecuário, são emitidas 7,1 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente por ano. Isso representa 14,5% do total de gases de efeito estufa lançados na atmosfera por atividades humanas.
A tendência é que esses números aumentem, à medida que a população mundial incha e o estilo de dieta ocidental, marcado por um forte consumo de carne, se alastra pelo globo.
Consciência
A sugestão dos autores do estudo é consumir cinco ovos por semana, duas porções (de 85g cada) de carne vermelha, também semanalmente, e uma porção de frango por dia. “Não é algo difícil de fazer, é um consumo consciente e saudável”, observa Bojana Bajzelj, pesquisadora do Departamento de Engenharia Ambiental de Cambridge e principal autora do estudo. “A dieta ocidental é caracterizada por um consumo excessivo de alimentos, em particular de industrializados e de carnes altamente emissoras de CO2 equivalente. No nosso modelo, também testamos o que aconteceria se todos os países adotassem uma alimentação mais saudável. O resultado foi que haveria redução de 25% de uso de terra cultivável para o pasto e os níveis de gases de efeito estufa lançados reduziriam 45%”, conta Bajzelj.
“Produtos de origem animal causam mais danos ambientais do que a fabricação de minerais de construção, como areia e cimento, de plásticos e de metais. A biomassa e as plantações para alimentar animais causam tanto dano quanto queimar combustíveis fósseis”, observa Edgar Hertwich, professor do Programa Ecológico Industrial da Universidade de Ciência de Tecnologia da Noruega. Há quatro anos, ele assinou um relatório divulgado pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (Unep) que já alertava para os riscos ambientais associados ao consumo excessivo de carne. Segundo o documento, a agricultura voltada ao suprimento da produção pecuária é responsável pelo consumo de 70% de água fresca do planeta, 38% do uso da terra e 19% da emissão de gases de efeito estufa.
“O preocupante é que os países em desenvolvimento, onde ocorrerá grande parte do crescimento populacional esperado para 2050, estão seguindo o mau exemplo do Ocidente. Eles não devem seguir nossos modelos de consumo”, observa Hertwich. Mas o pesquisador também deixa claro: “Não podemos só dizer para as pessoas que diminuam o consumo de produtos de origem animal.
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