Mas dados sobre a força, a frequência e a origem dos ventos sempre foram incompletos e muitos especialistas tinham a expectativa de que rajadas de vento fortes o suficiente para deslocar a areia fossem raras em um planeta com uma atmosfera tão fina.
"Nós observamos que as dunas de areia marciana estão atualmente migrando e que a velocidade de sua migração varia conforme a temporada, o que está em desacordo com a visão comum de uma paisagem marciana estática com ventos muito raros capazes de deslocar areia", explicou à AFP o co-autor do estudo, François Ayoub, da divisão de estudos planetários do Instituto de Tecnologia da Califórnia.
Ayoub e uma equipe conjunta americano-britânica mediram o deslocamento das ondulações de areia em uma dúzia de imagens de satélite, captadas em uma área de 40 quilômetros quadrados na duna Nili Patera, ao longo de um ano marciano.
"A partir dessas medições, nós estimamos o fluxo de areia e sua variação sazonal", detalhou Ayoub. Em seguida, eles calcularam a velocidade e a força do vento necessárias para mover a areia, assim como a frequência.
"Os ventos em Marte podem ser fortes e atingir a velocidade de furacões (mais de 120 km/h)", afirmou Ayoub.
"Na nossa área de estudo, o vento capaz de mover a areia é registrado quase diariamente" em grande parte do ano, acrescentou.
Compreender as características dos ventos marcianos permitirá aos cientistas fazer previsões sobre a taxa de erosão da paisagem e sobre o clima marciano, que é fortemente influenciado pela poeira atmosférica.
No futuro, os dados poderão auxiliar missões de exploração no planeta vermelho.
"Um prognóstico preciso dos ventos e da carga de areia é importante para evitar que o veículo de exploração receba jatos de areia sem ter sido preparado para isto", explicou Ayoub.
"O robô Curiosity (da Nasa), que está prestes a cruzar uma duna ativa na cratera Gale, muito provavelmente terá que suportar ventos arenosos. De um ponto de vista científico, estas descobertas poderiam indicar áreas de Marte que precisam de mais atenção de orbitadores de observação sobre seu comportamento peculiar de vento/areia/erosão", continuou.
As descobertas não têm implicação direta para orbitadores como a sonda Mangalyaan, que chegou a Marte na semana passada, após ter sido lançada pela Índia dez meses atrás, disse Ayoub.