Papa vê teoria do Big Bang como correta

Chefe da Igreja Católica defende que a expansão do universo é real e não contradiz os princípios pregados pelo cristianismo

Também ontem, o papa Francisco, em um encontro em Roma, pediu aos movimentos populares que continuem a lutar pela defesa dos excluídos no mundo - Foto: (Osservatore Romano/Reuters)

Cidade do Vaticano – O papa Francisco afirmou ontem, durante discurso na Pontifícia Academia de Ciências, que a Teoria da Evolução e o Big Bang são reais e criticou a interpretação das pessoas que leem o Gênesis, livro da Bíblia, achando que Deus “tenha agido como um mago, com uma varinha mágica capaz de criar todas as coisas”. Segundo ele, a criação do mundo “não é obra do caos, mas deriva de um princípio supremo que cria por amor”. “O Big Bang não contradiz a intervenção criadora, mas a exige”, disse o pontífice na inauguração de um busto de bronze em homenagem ao papa Emérito Bento XVI.

O Big Bang é, segundo aceita a maior parte da comunidade científica, a explosão ocorrida há cerca de 13,8 bilhões de anos que deu origem à expansão do universo. Já a Teoria da Evolução, iniciada pelo britânico Charles Darwin (1809-1882), que prega que os seres vivos não são imutáveis e se transformam de acordo com sua melhor adaptação ao meio ambiente, pela seleção natural. O papa acrescentou dizendo que a “evolução da natureza não é incompatível com a noção de criação, pois exige a criação de seres que evoluem”.

Segundo Francisco, o homem foi criado com uma característica especial – a liberdade – e recebe a incumbência de proteger a criação, mas quando a liberdade se torna autonomia, destrói a criação e homem assume o lugar do criador. “Ao cientista, portanto, sobretudo ao cientista cristão, corresponde a atitude de interrogar-se sobre o futuro da humanidade e da Terra; de construir um mundo humano para todas as pessoas e não para um grupo ou uma classe de privilegiados”, concluiu o pontífice.

Pobreza

O papa Francisco fez um discurso ontem no Encontro Mundial dos Movimentos Populares e disse que é acusado de ser comunista só por pregar o evangelho. “Terra. Trabalho.

Casa. Estranho, mas se falo de alguns desses temas, alguns dizem que o papa é comunista. O amor pelos pobres é o centro do evangelho”, disse o pontífice. Segundo o líder da Igreja Católica, o evento “não responde a nenhuma ideologia”. Durante o encontro, Jorge Bergoglio pediu que os movimentos populares “continuem com a luta” porque ela “faz bem para todos”.

O Encontro dos Movimentos Populares “é um sinal, um grande sinal: vêm a uma missa com a presença de Deus, da Igreja, pessoas que, muitas vezes, têm suas vozes silenciadas”. Ele ainda ressaltou que os mais pobres “não se contentam com promessas ilusórias, desculpas ou álibis. E nem podem esperar por uma ajuda de ONG, de planos assistenciais ou soluções que talvez não cheguem”, fazendo com que a população, de um modo “perigoso”, seja “anestesiada, seja domesticada”.

O papa Francisco considera que essas pessoas “querem ser protagonistas, se organizando, estudando, trabalhando, protestando e, sobretudo, praticando aquela solidariedade tão especial que existe entre aqueles que sofrem e que nossa civilização parece ter esquecido ou, ao menos, finge esquecer”. Francisco ainda condenou os grupos que ajudam as pessoas para “domesticá-los”, promovendo estratégias que não permitem o desenvolvimento das famílias e das comunidades. “Que tristeza quando algumas pessoas altruístas se reduzem à passividade e negam-se, ou pior, escondem suas ambições pessoais. Jesus disse: ‘hipócritas’”, ressaltou o pontífice. Mas ele elogiou quando os “membros mais jovens e pobres” estão nesses movimentos. Isto, segundo Bergoglio, faz com que se possa sentir “o vento da promessa que alimenta a esperança em um mundo melhor”.
Ao falar sobre a sociedade, o sucessor de Bento XVI destacou que os movimentos populares “exprimem a necessidade urgente de revitalizar as nossas democracias, tantas vezes sequestradas por inúmeros fatores”. De acordo com seu discurso, é “impossível” imaginar um “futuro para uma sociedade sem a participação protagonista da grande maioria”. Ele finalizou dizendo que é preciso “superar o assistencialismo paternal” para ter paz e justiça, criando “novas formas de participação que incluam os movimentos populares” e “a sua torrente energia moral”.

 

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