A veracidade da evolução darwiniana, considerada incontestável pela ciência durante quase 150 anos, está sendo questionada por um grupo de cientistas, que acreditam que aquilo que trouxe a vida até aqui não foi a ação exclusiva das forças dos processos naturais não guiados, e sim resultado da ação de um projeto intencional. É o que sustentam os cientistas adeptos da Teoria do Design Inteligente (TDI), segundo a qual fomos planejados por uma ação inteligente. A ideia é que há eventos do universo e aspectos da vida que nem em milhões de anos seriam viabilizados a partir da evolução, como prega a teoria darwiniana. Isso significa, entre outras coisas, que o nosso tão cantado parentesco com os chimpanzés nunca existiu (por falta de tempo e de evidências).
Marcos Eberlin, doutor em química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pós-doutor pelo Laboratório Aston de Espectrometria de Massas da Universidade Americana de Purdue (EUA), explica que os chimpanzés têm 24 pares de cromossomos e nós, apenas 23 e que os DNAs das duas espécies são 33% diferentes e as proteínas, 80%. “A fusão cromossômica que se imaginou um dia reduzir nossos cromossomos de 24 para 23 nunca ocorreu. O cromossomo é a coisa mais preservada do mundo, ninguém mexe em software. Nosso cromossomo Y é totalmente diferente do cromossomo Y dos chimpanzés, e somos tão parecidos com eles em cromossomo Y como o somos com as galinhas”, afirma o químico. O assunto será discutido durante o 1º Congresso Brasileiro de Design Inteligente, que reunirá a comunidade científica e interessados para debater a teoria, que propõe uma reinterpretação dos dados científicos sobre os eventos que deram origem à vida e ao universo. O evento ocorrerá de 14 a 16 deste mês, no resort The Royal Palm Plaza, em Campinas (São Paulo).
Cunho científico
Kelson Motta T. Oliveira, doutor em fisioquímica pela Universidade de São Paulo (USP), professor de fisioquímica da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e coordenador do Grupo de Pesquisa em Química Teórica e Computacional da mesma universidade, defende que a TDI é uma abordagem de cunho científico, e não religioso, ainda que sua premissa básica seja a de que o funcionamento das coisas tal qual as vemos hoje não é fruto de colisões ao acaso e de uma evolução não racional, mas de um planejamento inteligente. Entre os membros dessa comunidade científica, existem representantes de ateus, agnósticos, católicos, batistas e de muitas outras religiões, mas isso, segundo Kelson, é irrelevante para a fundamentação teórica da TDI.
“É possível encontrar marcas desse planejamento em todos os projetos da natureza”, afirma. Por trás dessa ideia, estaria o fato de que, pela complexidade, os sistemas biológicos não podem ser reduzidos a valores inferiores, como prega a teoria darwiniana. “Se você olhar para trás e pensar na evolução, estará dizendo que os sistemas biológicos mais evoluídos e atuais são fruto de sistemas menos evoluídos. O problema é que não importa o sistema biológico, você não consegue demonstrar um sistema de complexidade mais reduzido que tonou-se mais evoluído. Só é possível encontrar sistemas biológicos irredutíveis em termos de complexidade”, esclarece Oliveira.
Por trás do código genético
“Um século e meio depois que foi criado esse paradigma da ciência, a gente percebe que ele não está sendo capaz de responder às questões sobre a origem da vida. A experiência fala contra os processos naturais não guiados. Isso está cada vez mais evidente”, concorda o cientista Marcos Eberlin. Segundo ele, descobertas feitas durante o projeto Genoma Humano – uma iniciativa internacional iniciada em 1990, com o objetivo de identificar e fazer o mapeamento dos genes existentes no DNA das células do corpo humano, determinar as sequências das 3 bilhões de bases químicas que compõem o DNA humano e armazenar essas informações em bancos de dados acessíveis – revelaram que existe uma inteligência “absurda” por trás do código genético.
“São, pelo menos, oito códigos embutidos dentro de um mesmo código. É como se os arquivos estivessem zipados ou mesmo encriptados, com informações interligadas em vários níveis de codificação”, explica o cientista. Segundo ele, aquilo que a evolução um dia acreditou ser “lixo” do DNA agora é considerado metainformação, ou seja, é a informação que rege a informação. “Isso quer dizer que nada menos do que 97% do DNA, que se acreditava ser resíduo deixado pela evolução, se sabe hoje que são instruções de como usar os outros 3%”, comenta.
Combinações
Marcos Eberlin explica que o código genético do DNA está disposto em quatro bases, alinhadas de três em três, o que resulta em 64 códons ou combinações. “Ocorre que temos apenas 20 aminoácidos. Acreditava-se que isso era um exagero da evolução de um processo natural não guiado, mas, hoje, já se sabe que é uma estratégia de inteligência extrema”, observa o químico. Quem fez isso, segundo relata um artigo científico recente, criou códigos diferentes para conectar na proteína, sendo formado o mesmo aminoácido, mas com velocidades diferentes, sabendo de antemão que, para cada tipo de proteína, seria necessário um tempo diferente de ligação, com o objetivo de oferecer o tempo certo para que a proteína se enovele corretamente. Um ajuste extremamente elegante e fino de velocidade de fabricação.
O que a TDI pretende é que as duas causas prováveis da origem do universo e da vida – a ação de processos naturais não guiados ou o planejamento inteligente – sejam recolocadas em pauta na mesa das discussões científicas sobre as origens do cosmos e da vida. “Para todas as outras questões, a ciência trabalha sempre com essas duas causas prováveis. Mas quando se trata da origem da vida, a ciência naturalista tem simplesmente fechado seus olhos para a segunda probabilidade”, alerta Eberlin. (ZF)
Enquanto isso...
... Princípio supremo
No início da semana passada, o papa Francisco afirmou que a Teoria da Evolução e o bigue-bangue são reais, criticando a interpretação das pessoas que leem o Gênesis, achando que Deus “tenha agido como um mago, com uma varinha mágica capaz de criar todas as coisas”. Para ele, a criação do mundo “não é obra do caos, mas deriva de um princípio supremo, que cria por amor” e o bigue-bangue não contradiz a intervenção criadora, mas a exige. A declaração, feita pelo pontífice na inauguração de um busto de bronze em homenagem ao papa emérito Bento XVI, repercutiu positivamente na comunidade científica.