O pequeno robô Philae se separou nesta quarta-feira da sonda espacial europeia Rosetta e seguia para tentar pousar sobre um cometa, o que representaria um marco na história da exploração espacial.
O robô científico de observação desacoplou da Rosetta como estava previsto às 8H35 GMT (6H35 de Brasília) e iniciou a viagem de quase sete horas para pousar sobre o cometa 67P/Churyumov-Geramisenko. "Funcionou bem, estamos muito contentes, não aconteceram problemas", declarou Andrea Accomazzo, diretor de voo do centro de operações da Agência Espacial Europeia (ESA) em Darmstadt (Alemanha).
Desde 6 de agosto, a sonda não tripulada Rosetta se desloca a poucos quilômetros do corpo celeste a mais de 450 milhões de quilômetros da Terra, acompanhando o cometa em sua viagem à medida que se aproxima do Sol.
O módulo Philae permitirá explorar diretamente o núcleo do cometa, ou seja, a parte sólida que, com o efeito da radiação solar, gera a "coma" ou cabeleira e deixa uma cauda visível de gases e poeira.
O cometa está atualmente viajando entre as órbitas de Júpiter de Marte. Tem quatro quilômetros de diâmetro e formato irregular, que lembra um patinho de borracha.
Origem do Universo
Rosetta foi enviada para o espaço em março de 2004 e, desde então, atravessou o Cinturão de Asteroides, visitou os arredores de Marte, passou três vezes pela Terra e encontrou os asteroides Steins e Lutetia. Depois, entrou num longo período de hibernação, para poupar energia, até acordar em janeiro deste ano e percorrer mais 9 milhões de quilômetros. “O pouso da Philae é apenas uma parte da missão Rosetta, que complementa os vários objetivos da missão principal”, frisa o pesquisador Nicolas Altobelli.
Com ou sem o pouso da sonda, a espaçonave ainda vai seguir em direção à sua missão final: acompanhar o cometa quando ele der a volta no Sol, em dezembro. O corpo celeste passa pela estrela a cada seis anos e meio, quando é aquecido pelo Astro-Rei e parte do seu núcleo entra em ebulição. Os cientistas acreditam que o fenômeno deve fazer o objeto expelir jorros de gás cheios de um valioso material antes inacessível para pesquisadores e que pode guardar respostas sobre a origem do Universo.
Moléculas orgânicas
Os cometas são alguns dos objetos mais antigos do espaço, e, por isso, estima-se que eles sejam feitos de elementos que existiam na época primordial.
A sonda vai usar uma dezena de diferentes instrumentos científicos para encontrar assinaturas químicas que deem aos cientistas uma ideia de como era o Cosmos no começo. De acordo com o pesquisador Colin Snodgrass, da Open University, no Reino Unido, o contato direto com o 67P é a única forma de descobrir do que exatamente o objeto é feito. “O cometa interage com a luz do Sol, o que significa que há reações químicas na coma (nuvem de gás do cometa). Então, o que vemos com um telescópio pode não ser a mesma coisa que deixou a superfície dele”, explica. Snodgrass é um dos cientistas que acompanham a missão da Terra por meio de telescópios, sendo integrante de uma das várias equipes que participam da análise dos dados coletados.
A Open University desenvolveu um dos equipamentos da espaçonave, projetado para analisar o gás do objeto espacial. Chamada Ptolemy, a ferramenta pode identificar elementos como carbono, oxigênio e água, importantes ingredientes para a formação da vida. “Uma crucial tarefa para Rosetta é testar quão similar é a composição do cometa em relação à água da Terra, o que vai ajudar a provar, ou não, que os nossos oceanos realmente vieram do gelo de cometas”, conta o cientista.
Descoberta ucraniana
O 67P/Churymov-Gerasimenko foi batizado assim em homenagem aos astrônomos ucranianos que o viram pela primeira vez, no Cazaquistão, em 1969. Desde então, o cometa passou pela Terra outras seis vezes: em 1976, 1982, 1989, 1996, 2002 e 2009. Embora os pesquisadores tenham conseguido produzir diversas imagens dele, inclusive com o telescópio espacial Hubble, seu brilho aumenta consideravelmente sempre que ele passa perto do Sol, tornando muito difícil fazer estimativas sobre o seu formato ou a sua composição a partir da Terra. Rosetta foi o primeiro equipamento a obter imagens em alta resolução do objeto.
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