Seu casamento está destruído. De Zurique, onde a ex-mulher, Mileva Mari, se refugiou com os filhos, os pequenos Hans Albert, 11 anos, e Eduard, 5, enviam cartas suplicando por uma resposta que demora a chegar. Einstein desconfia que Mileva é quem dita as missivas.
A essa altura, Einstein é um cientista consagrado entre os pares, mas o grande público desconhece suas ideias. Ele só se tornará uma celebridade mundial em 1919, quando um eclipse solar comprovará a teoria geral da relatividade, concluída quatro anos antes. É sobre esse trabalho que o jovem alemão está debruçado no conturbado momento da separação. Há pelo menos três anos, Einstein persegue uma equação para exprimir um conceito de gravidade jamais postulado pela ciência: a força que rege o fenômeno de curvatura espaço-tempo. E o físico não é o único a buscar essa fórmula. Ele está em uma corrida contra David Hilbert, um matemático alemão que, após acompanhar as ideias de Einstein, resolveu, ele mesmo, solucionar o mistério gravitacional.
Enquanto os dois quebram a cabeça com cálculos improváveis para o resto da humanidade, é bom voltar no tempo e se acomodar em Berna, capital da Suíça, onde um Einstein de 26 anos trabalha no escritório de patentes, enquanto conclui seu doutorado em física. Depois de publicar a tese Uma nova determinação de dimensões moleculares — dedicada ao amigo e matemático suíço Marcel Grossmann —, Einstein enviou quatro manuscritos à revista científica Annalen der Physik (Anais de Física), sendo que três deles foram publicados ainda em 1905. Esse é um dos periódicos mais antigos de que se tem notícia, inaugurado em 1799 — e ainda em circulação, editado atualmente pela Wiley.
O fascículo 6 do volume 322 da Annalen der Physik traz o primeiro deles: Uma visão heurística a respeito da produção e da transformação da luz. No texto, Einstein propõe que a radiação eletromagnética consiste de fótons, uma partícula elementar. A teoria explicava o efeito fotoelétrico, descoberto por Henrich Hertz no século anterior, mas somente elucidado pelo físico alemão. Por trás desse fenômeno, estão, por exemplo, os sistemas automatizados de iluminação, as portas que abrem e fecham sozinhas e os alarmes que ligam e desligam sem precisar que alguém aperte um botão. De imediato, o texto não despertou comoção entre cientistas, que, na verdade, torceram o nariz para sua teoria.
Em seguida, ainda no mesmo volume da revista, foi publicado Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento. Nesse artigo, Einstein delineia os princípios da relatividade especial, que versa sobre “objetos integrantes de diferentes sistemas coordenados movendo-se em velocidade constante relativa para cada um”. Em outras palavras, o clássico exemplo de uma pessoa dentro do trem, observada por outra, do lado de fora. Com o trabalho, o físico oferece uma nova interpretação sobre a concepção do espaço e do tempo. Pouco depois, também no volume 322, é publicado A inércia de um corpo depende de seu conteúdo energético?. Pela primeira vez, o mundo vê a fórmula e=mc².
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Einstein não foi um sucesso imediato. “Por oito anos, ele foi consumido pela tensão entre a gravidade newtoniana e a estrutura espaço-tempo da relatividade especial.
“O nome de Einstein, de fato, tornou-se sinônimo de ciência. Se você perguntar a uma criança como um cientista se parece, ela vai desenhar um ‘doido’ com cabelo branco e espetado”, observa Brian Schwartz, professor de física da Universidade de Nova York. “O ‘ano do milagre de Einstein’, de muitas formas, inaugurou a era moderna, com seus pontos de vista discordantes e chocantes para as verdades estabelecidas”, diz. “Em 1905, Sigmund Freud também publicou seu ensaio Chistes e suas relações com o inconsciente; Pablo Picasso mudou da fase azul para a rosa; James Joyce completou seu primeiro livro, Dublinenses. Ainda assim, ninguém repensou as verdades universais de forma tão profunda quanto Eisntein”, decreta o escritor científico Richard Panek, autor do livro The 4% Universe (O Universo 4%, sem tradução no Brasil).