O nascimento de tartarugas marinhas é um espetáculo encantador, transformado em atração turística por uma série de projetos de conservação em todo o mundo. Munidas de câmeras fotográficas e filmadoras, as pessoas registram, admiradas, o momento em que os filhotes conseguem romper a casca dos ovos e correm para o mar, iniciando uma vida que pode durar várias décadas, caso não se deparem com algum predador. O que poucos sabem, porém, é que aqueles bichinhos, quando ficarem adultos, voltarão àquela mesma praia para depositar seus ovos.
Como as tartarugas mães, depois de migrar por milhares de quilômetros mar adentro, conseguem localizar a mesma praia onde nasceram para colocar seus ovos? Essa era uma pergunta que intrigava os biólogos havia décadas e que, agora, parece ter sido respondida por um estudo publicado na revista Current Biology. De acordo com os autores do trabalho, o que orienta esses animais é o campo magnético da Terra.
“As tartarugas marinhas migram por muitos quilômetros de oceano antes de retornar ao ninho, no mesmo trecho do litoral onde foram chocadas. Mas como elas reencontram o lugar é algo que tem intrigado cientistas há mais de 50 anos”, disse à imprensa J. Roger Brothers, pesquisador do Departamento de Biologia da Universidade da Carolina do Norte e um dos autores do trabalho.
Trabalhos anteriores tinham mostrado que esses animais usam o campo magnético do planeta como um guia para encontrar o mar quando estão em terra. Esse achado serviu como ponto de partida para o novo estudo. Para investigar o tema mais a fundo, os pesquisadores analisaram um banco de dados de nidificação (construção de ninho) das tartarugas-marinhas ao longo da costa leste da Flórida, o maior viveiro da espécie na América do Norte. Durante a análise, eles encontraram uma forte associação entre a distribuição espacial de ninhos de tartaruga e sutis mudanças no campo magnético da Terra.
Eficaz
Os especialistas explicam, que durante certos períodos, quando o campo da Terra muda, algumas assinaturas magnéticas ficavam mais próximas, o que faz com que as tartarugas também reduzam a área por onde elas se deslocam no litoral. Já nos lugares em que esses sinais magnéticos divergem, elas se espalham e depositam os ovos em ninhos mais distantes uns dos outros.
Ainda não é possível dizer como os animais detectam o campo, mas já ficou claro que ele serve como uma espécie de bússola para elas. A estratégia é bastante eficiente, porque se as tartarugas encontraram, em determinadas praias, as condições para se desenvolver – como temperatura ideal, poucos predadores e praia de fácil acesso –, aquele hábitat deverá servir também para seus filhotes. “A única forma que uma tartaruga fêmea pode ter certeza de que ela está formando o ninho em um lugar favorável para o desenvolvimento do ovo é fazê-lo na mesma praia onde ela foi chocada. A lógica das tartarugas-marinhas parece ser: se funcionou para mim, deve funcionar para a minha prole”, destaca Brothers.