Bruno Freitas
Você desconfia ou quer saber se o seu filho, funcionário ou uma pessoa próxima está usando drogas? Testes toxicológicos em cabelos são um meio que aponta resultados rápidos para os principais grupos de tóxicos.
“A análise de drogas em cabelo oferece um histórico do uso de drogas dentro de um longo período de tempo, a partir de semanas até alguns meses, dependendo do comprimento do cabelo”, afirma a diretora do ChromaTox, laboratório especializado em testes toxicológicos, Cristina Pisaneschi. Sediado em São Paulo, o laboratório é o único acreditado pelo Inmetro para realização do teste no país. Nos demais, a avaliação é feita fora do Brasil, o que demanda mais tempo para a chegada dos resultados.
De acordo com o mapa interativo da Organização das Nações Unidas (ONU) – que mostra os hábitos de usuários de drogas em todo o planeta –, no Uruguai, primeiro país a legalizar e regulamentar a venda da maconha, 8,3% da população reconheceu ter consumido a droga nos últimos anos. A Islândia, onde há amplo debate sobre a descriminalização de diversas substâncias, é a nação com o maior percentual de usuários: 18,3%.
A escolha da amostra depende da finalidade da análise. Urina e saliva produzem espectros transitórios de uso de droga por um período relativamente curto, refletindo um consumo ocorrido horas antes da coleta – de 24 horas a 48 horas para saliva ou até cinco dias para a urina. As amostras de cabelo, pelo e unha, entretanto, fornecem informação de uso ou abstinência por um período relativamente maior. O cabelo detecta o uso de drogas por um período aproximado de cinco a seis dias até três meses, dependendo do seu comprimento. Isso ocorre porque os fios incorporam as drogas que foram utilizadas através da corrente circulatória que irriga o bulbo capilar. Como o cabelo cresce cerca de um centímetro por mês, para cobrir o período de um ano, o laboratório deverá contar com um fio de no mínimo 12cm de comprimento. Um fio tem cerca de um décimo de milímetro de espessura. “Se segmentarmos o cabelo de um em um centímetro, teremos um histórico de uso mensal de um indivíduo, podemos dizer qual substância foi usada e fornecer um perfil de uso. O cabelo é a única amostra que permite determinar o perfil de uso de um mesmo indivíduo. Isto é, podemos dizer se houve diminuição ou aumento no uso, ou mesmo abstinência”, sustenta Cristina.
No laboratório, drogas e metabólitos são reunidos em grupos de acordo com as classes farmacológicas. Porém, analisados individualmente. Um exemplo é o grupo da cocaína, onde são analisados a cocaína e seus metabólitos, cocaetileno (cocaína com álcool), benzoilecgonina, como também o Aeme, produto da decomposição térmica da cocaína.
Média positiva
Em um estudo feito em 2013 com 3.800 amostras de um concurso público, o laboratório de Cristina Pisaneschi encontrou 1,2% de amostras positivas, distribuídas entre 64% para cocaína, 9% para maconha, 9% para maconha %2b cocaína e 4% para ecstasy. No índice, deve-se considerar que o teste toxicológico é uma das fases do concurso. Portanto, uma amostra positiva resulta na eliminação do candidato. Entre as análises de amostras particulares, a média de positivas é de 32%, sendo 17% positivas para cocaína, 17% para maconha e 3,4% para ecstasy. O índice de positividade elevado (32%), segundo Cristina, é explicado pela desconfiança em relação ao uso. “No caso de motoristas, algumas atitudes estão sendo tomadas, como a Resolução 460 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que os obrigará a fazer testes toxicológicos nas renovações de carteiras de habilitação”, afirma a especialista.
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