Bruno Freitas
Você desconfia ou quer saber se o seu filho, funcionário ou uma pessoa próxima está usando drogas? Testes toxicológicos em cabelos são um meio que aponta resultados rápidos para os principais grupos de tóxicos. Entre eles, anfetaminas e metanfetaminas, cocaína (crack), maconha e benzodiazepínicos. Feitos nos Estados Unidos desde a década de 1970, os testes por meio dos fios capilares vêm se tornando rotina no Brasil em diversos segmentos, como concursos públicos, advocacia, magistratura, na área de transportes, órgãos governamentais e militares, além de clínicas de tratamento de dependentes químicos. Comparado a outros métodos, esse oferece a vantagem da fácil coleta, dispensa da necessidade de testemunha e refrigeração, – diferentemente da coleta por urina –, baixo risco de adulteração, possibilidade de detectar o uso da droga num período de até três meses e resultados mais confiáveis, graças ao maior índice de detecções positivas do que o exame de urina. Além disso, permite fazer o exame em cadáveres para perícias e exumações.
“A análise de drogas em cabelo oferece um histórico do uso de drogas dentro de um longo período de tempo, a partir de semanas até alguns meses, dependendo do comprimento do cabelo”, afirma a diretora do ChromaTox, laboratório especializado em testes toxicológicos, Cristina Pisaneschi. Sediado em São Paulo, o laboratório é o único acreditado pelo Inmetro para realização do teste no país. Nos demais, a avaliação é feita fora do Brasil, o que demanda mais tempo para a chegada dos resultados.
De acordo com o mapa interativo da Organização das Nações Unidas (ONU) – que mostra os hábitos de usuários de drogas em todo o planeta –, no Uruguai, primeiro país a legalizar e regulamentar a venda da maconha, 8,3% da população reconheceu ter consumido a droga nos últimos anos. A Islândia, onde há amplo debate sobre a descriminalização de diversas substâncias, é a nação com o maior percentual de usuários: 18,3%. O Brasil tem média de 8,8% de usuários de maconha, à frente da França (8,3%). Apesar disso, pesquisas no país indicam que drogas legais como álcool e tabaco são as mais consumidas, seguidas pela maconha, inalantes, estimulantes, cocaína e crack, hipnóticos e sedativos, alucinógenos e opiáceos.
A escolha da amostra depende da finalidade da análise. Urina e saliva produzem espectros transitórios de uso de droga por um período relativamente curto, refletindo um consumo ocorrido horas antes da coleta – de 24 horas a 48 horas para saliva ou até cinco dias para a urina. As amostras de cabelo, pelo e unha, entretanto, fornecem informação de uso ou abstinência por um período relativamente maior. O cabelo detecta o uso de drogas por um período aproximado de cinco a seis dias até três meses, dependendo do seu comprimento. Isso ocorre porque os fios incorporam as drogas que foram utilizadas através da corrente circulatória que irriga o bulbo capilar. Como o cabelo cresce cerca de um centímetro por mês, para cobrir o período de um ano, o laboratório deverá contar com um fio de no mínimo 12cm de comprimento. Um fio tem cerca de um décimo de milímetro de espessura. “Se segmentarmos o cabelo de um em um centímetro, teremos um histórico de uso mensal de um indivíduo, podemos dizer qual substância foi usada e fornecer um perfil de uso. O cabelo é a única amostra que permite determinar o perfil de uso de um mesmo indivíduo. Isto é, podemos dizer se houve diminuição ou aumento no uso, ou mesmo abstinência”, sustenta Cristina.
No laboratório, drogas e metabólitos são reunidos em grupos de acordo com as classes farmacológicas. Porém, analisados individualmente. Um exemplo é o grupo da cocaína, onde são analisados a cocaína e seus metabólitos, cocaetileno (cocaína com álcool), benzoilecgonina, como também o Aeme, produto da decomposição térmica da cocaína. Normalmente, coleta-se em torno de 50 a 100 fios (espessura de meio lápis) da coroa da cabeça cortados rente ao couro cabeludo. No passo seguinte, o cabelo é armazenado em papel de alumínio com indicação onde é a raiz. O resultado é emitido de três a cinco dias depois da chegada da amostra ao laboratório. O custo médio desse teste é de R$ 350, mas, no caso de ser usado para um candidato a concurso público, o valor chega a ser inferior: R$ 280.
Média positiva
Em um estudo feito em 2013 com 3.800 amostras de um concurso público, o laboratório de Cristina Pisaneschi encontrou 1,2% de amostras positivas, distribuídas entre 64% para cocaína, 9% para maconha, 9% para maconha + cocaína e 4% para ecstasy. No índice, deve-se considerar que o teste toxicológico é uma das fases do concurso. Portanto, uma amostra positiva resulta na eliminação do candidato. Entre as análises de amostras particulares, a média de positivas é de 32%, sendo 17% positivas para cocaína, 17% para maconha e 3,4% para ecstasy. O índice de positividade elevado (32%), segundo Cristina, é explicado pela desconfiança em relação ao uso. “No caso de motoristas, algumas atitudes estão sendo tomadas, como a Resolução 460 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que os obrigará a fazer testes toxicológicos nas renovações de carteiras de habilitação”, afirma a especialista.