Jornal Estado de Minas

Óleo essencial combate larva do Aedes aegypti

Pesquisa desenvolvida pela Funed, em parceria com a PUC Minas, testa mistura com plantas comuns, como orégano, cravo e alecrim, que eliminou 100% de larvas em água parada. Outra novidade é um kit, feito com apoio da UFMG, que detecta o vírus da dengue em 20 minutos

Jorge Macedo - especial para o EM

Carolina Braga


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Uma incoerência histórica sempre incomodou a pesquisadora da Fundação Ezequiel Dias (Funed) Alzira Batista Cecílio. Como é que em 1955 Oswaldo Cruz conseguiu eliminar o Aedes aegypti do Rio de Janeiro e hoje, com toda a tecnologia disponível, o vetor de doenças como dengue e febre chikungunya continua por aí? É notória a adaptação do mosquito ao nosso meio, mas a falta de programas mais estruturados, acessíveis e assertivos no combate aos criadouros e informação da população também contribuem para sua resistência.

Pensando em solucionar parte dessa equação, a pesquisadora conduz pelo menos dois projetos que têm como objetivo simplificar o combate e o diagnóstico da dengue. Em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Alzira trabalha no desenvolvimento de óleos essenciais, feitos a partir de plantas medicinais, com o intuito de usá-los como larvicida. Já com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entra em fase final um kit capaz de detectar a contaminação pelo vírus em 20 minutos.

Feito a partir de plantas comuns, como orégano, cravo e alecrim, os primeiros testes com o óleo já demonstram 100% de eficácia na eliminação total das larvas em água parada em um prazo de até 24 horas. A vantagem desse método é que o próprio cidadão poderá se responsabilizar na prevenção em casa. “O pó utilizado hoje no combate ao Aedes aegypti só pode ser ministrado pelo agente de saúde porque é químico”, explica a pesquisadora.

No caso do óleo, além de ser natural, ele é rapidamente absorvido e não contamina o meio ambiente. Segundo Alzira Cecílio, inúmeras combinações foram testadas. A fase atual da pesquisa se concentra na confirmação dos primeiros resultados, assim como a seleção de três óleos mais eficazes, de um grupo de 10.
A previsão é de que até o final do ano já exista o produto a ser patenteado. A ideia que sempre norteou o projeto foi trabalhar com algo que pudesse estar ao alcance de qualquer cidadão. Por isso a escolha por tais plantas medicinais, atóxicas e até cheirosas.

Alzira Batista Cecília coordena os dois trabalhos para tentar eliminar o mosquito vetor da dengue e da febre chikungunya, com foco em soluções simples que possam ser replicadas Brasil afora - Foto: MARCELO SANT%u2019ANNA/EM/D.A PRESS %u2013 23/5/03RAPIDEZ NO DIAGNÓSTICO

Paralelamente aos estudos sobre os óleos essenciais, Alzira Cecílio, em parceria com a também pesquisadora Erna Kroon, finaliza os estudos para o desenvolvimento do primeiro kit rápido de diagnóstico da dengue. É um trabalho que vem sendo feito ao longo dos últimos quatro anos. Segundo a pesquisadora, o protótipo laboratorial para testes ficará pronto até o final do ano. “Agora estamos marcando a molécula para aplicar o teste em uma soroteca que temos. Depois vamos repassar para os laboratórios da rede pública”, afirma. O exame surgiu a partir de uma demanda da Secretaria de Estado da Saúde de Minas, preocupada em nacionalizar o método de identificação dos pacientes infectados com o vírus, assim como o seu barateamento.

É possível identificar a contaminação no soro do sangue do paciente e em geral os diagnósticos ficam disponíveis em três dias. O novo teste utiliza a técnica da imunocromatografia, também a partir da coleta de sangue. O método consiste em uma pequena fita, que em contato com a amostra do paciente, se contaminado, reage à presença da infecção e muda de cor. Todo o processo não dura mais do que 20 minutos.

O produto será descartável, capaz de realizar uma análise e sua comercialização será na forma de pacotes com 25 ou 100 testes. Como se trata de tecnologia nacional, Alzira Batista Cecílio acredita que será uma opção viável para atender à demanda do Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, a rede pública concentra 60% da demanda por esse tipo de produto.

Em um primeiro momento, a nova tecnologia será testada pela Funed.

Atualmente, a fundação recebe cerca de 5 mil amostras de pacientes de todo o estado. “Vamos definir melhor o protótipo para estar pronto até o final do ano”, informa Alzira. O kit é um dos 17 projetos da Funed apoiados pelo Programa de Incentivo à Inovação (PII), realizado pelo Sebrae Minas, em parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado de Minas Gerais.

Para a coordenadora estadual do programa de controle permanente da dengue da Secretaria de Estado da Saúde de Minas, Geane Andrade, todas as pesquisas são muito bem vistas, principalmente no que se refere às tentativas de conter a proliferação da doença. “Falar em erradicação é mais complicado porque o mosquito está extremamente adaptado ao meio em que a gente vive”, afirma. Como ressalta, são, em geral, estudos que ainda dependem de testes e validações de resultados para aplicação social. Muito do controle da dengue ainda se relaciona ao comportamento dos cidadãos. Em 2015, segundo Geane Andrade, houve uma queda de 10% em relação a 2014 nos números da doença. A Secretaria de Estado da Saúde está especialmente alerta com os casos registrados nas regiões Oeste, Sul, Sudoeste, Centro-Oeste, Nordeste e no Triângulo Mineiro.

Ao mesmo tempo em que a queda no número de casos pode se relacionar com a seca, Geane faz um alerta sobre a importância da armazenagem correta da água. Segundo ela, por causa da crise hídrica muita gente tem captado água da chuva para reutilização. “Pelas pesquisas que temos feito, as pessoas estão guardando em depósitos domésticos.
Entendemos por que isso está virando um hábito, mas há de se ter cuidado”, afirma. Mesmo a água captada em casa deve ser armazenada em potes com tampas firmes. “Algo que vede e não fique saindo. Não é um papel ou plástico. São cuidados simples e que, de tão simples, são banalizados”, orienta.

Testes importados
Os laboratórios costumam diagnosticar a dengue pelo teste Elisa (do inglês Enzyme Linked ImmunoSorbent Assay). São utilizadas amostras de sangue e demora no mínimo três dias para confirmar ou não a infecção pelo vírus. Outro tipo de teste adota a técnica do PCR, que investiga a presença do vírus por meio do genoma.
É mais rápida, porém mais cara, o que a inviabiliza para testes em escala, como ocorre com as análises para diagnóstico da dengue. Também existem outros testes rápidos similares ao que está sendo desenvolvido na Fundação Ezequiel Dias, porém eles são importados, o que representa um alto custo para sua
utilização em larga escala no Brasil.

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