De acordo com um estudo apresentado recentemente na 67ª Reunião Anual da Academia Americana de Neurologia, em Washington (EUA), nessa fase da vida, indivíduos que se mostram mais exploradores têm um processo cerebral diferente dos que buscam menos experiências. Os autores defendem que estudar essa distinção pode dizer muito sobre o ímpeto humano.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco realizaram um experimento com 62 meninas entre 11 e 13 anos de idade. Elas completaram tarefas que tinham como objetivo medir o comportamento exploratório e experimental. Foram feitos também exames cerebrais com ressonância magnética funcional. Com isso, foi possível dividi-las em dois grupos: mais exploradoras (41 delas) e não exploradoras (21).
Os experimentos eram baseados em recompensa e tinham como protagonista a face de um relógio.
Em um segundo momento, os exames cerebrais de todas foram comparados. Os autores perceberam, então, que nas garotas que experimentavam mais havia uma conexão maior entre o córtex pré-frontal rostrolateral (relacionado à tomada de decisões de alto risco) e outras duas regiões, chamadas ínsula posterior e putâmen (partes do cérebro sensíveis ao estado geral do organismo e realização de ações, respectivamente). Curiosamente, a atividade no putâmen e na ínsula parecia influenciar o córtex pré-frontal rostrolateral, e não o contrário, como imaginavam os pesquisadores.
Para Andrew Kayser, um dos autores do estudo, esse resultado traz evidências de que o cérebro de pré-adolescentes que exploram coisas novas com mais frequência acaba tendo um funcionamento diferente. Ele acredita que entender melhor essas conexões deve tornar possível identificar melhor os adolescentes com mais chances de adotar comportamentos perigosos ou de risco. “Essa pesquisa é fascinante, pois pode nos ajudar a entender como a exploração pode levar a bons e maus comportamentos, que promovem ou reduzem o bem-estar em adolescentes”, disse. O pesquisador lembra que o início da adolescência está associado à busca de novas experiências e ao aumento de comportamentos exploratórios, mas pouca pesquisa foi feita para medir esse aumento.
Ver e prever
A investigação sobre formas de prever o comportamento de risco também é feita por Eric Lacourse, da Universidade de Montreal. Ele acredita que crianças com desordens de conduta, mesmo aquelas que não demonstram violência, têm mais chance de se tornar adolescentes delinquentes. O especialista ressalta que nada é tão determinista, mas acredita que, ao observar uma criança, seja possível ver se ela tem chances maiores de praticar atos como roubo, destruição de propriedades, luta e bullying durante a adolescência.
E os pais cujos filhos se envolvem em atos desse tipo na pré-adolescência devem ficar atentos.
Os dados são baseados em coletas do Grupo de Pesquisa em Desajustamento Psicossocial em Crianças (Grip), no Canadá. “Nas idades de 12 e 13 anos, os comportamentos que levam à insubordinação estão bem documentados”, garante Lacourse. “No entanto, os programas de intervenção são principalmente direcionados para as crianças mais jovens e ajudam muito pouco pré-adolescentes.”
Intimidação infantil
Estudos indicam que as crianças que são constantemente vítimas de colegas parecem ser mais propensas a desenvolver, no início da adolescência, sintomas psicóticos, como alucinações e delírios. Por esse motivo, têm maior risco de desenvolver psicose na idade adulta..