Bruno Freitas
Danos ambientais causados por derramamento de petróleo poderão ser amenizados por uma nova tecnologia de absorção de origem mineira. Um filtro hidrofóbico, que separa água e petróleo com eficácia de até 99%, desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (Icex) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), permite que a separação seja feita em alto-mar. Com isso, o processo torna-se mais rápido e barato. Hoje, quando há esse tipo de acidente, o óleo misturado à água necessita ser transportado até terra firme para então receber o tratamento que separa as duas substâncias. Sessenta por cento do líquido transportado geralmente é água. Processo caro e bastante oneroso.
“Com o filtro não há gasto para transporte da água contaminada até terra firme. O equipamento é levado para a plataforma e a água é bombeada para o filtro. Depois do processo de separação, a água é devolvida limpa ao mar. O petróleo é depositado nos compartimentos do navio, estando pronto para uso e comercialização”, explica o coordenador do projeto, professor Jadson Belchior. Pelo menos cinco grandes acidentes culminaram em vazamentos de grandes quantidades do óleo poluente em alto-mar no Brasil nas últimas três décadas. Todos envolvendo plataformas de petróleo.
Por meio da aplicação de tecnologia hidrofóbica, o filtro desenvolvido pelo Icex consegue repelir a água: somente o óleo é armazenado em compartimento, sendo a água diretamente lançada de volta ao mar. A tecnologia consiste no tratamento químico do tecido usado na construção do filtro. Processo realizado em laboratório. “As moléculas do óleo não interagem com a água. Utilizamos polímeros que tratam o tecido em deposição e fazem com que ele tenha afinidade com as moléculas apolares do óleo. Tratamento químico que consiste em deixar o tecido em solução por certo período de tempo. Na sequência, ocorre o tratamento térmico”, explica Belchior.
A equipe da UFMG busca novo financiamento para a construção de um filtro maior, capaz de simular uma filtragem mais próxima da realidade. A versão desenvolvida em laboratório tem capacidade de gerar 80,5 gramas de petróleo em um minuto de filtragem, considerando um metro quadrado de tecido tratado quimicamente.
O protótipo inicial tem 40 centímetros de comprimento e ainda vai passar por testes de vazão de água e durabilidade. Belchior destaca a versatilidade da tecnologia empregada, que pode ser repetida em várias escalas e usada em diversos ambientes.
OUTRAS UTILIDADES Além de acoplado a navios, o filtro pode se tornar útil em outras aplicações, como descarte incorreto de óleo de cozinha em residências, separação de óleo em oficinas mecânicas e uso por empresas de abastecimento de água. Para os dois primeiros casos, segundo Belchior, já foram feitos testes, com resultados promissores.
Duas perguntas para...
Jadson Belchior, professor e coordenador do projeto
1 - Como o petróleo separado pelo filtro pode ser depositado nos compartimentos do navio?
Os navios que coletam o líquido de vazamento têm um compartimento para armazenamento. Nossa proposta é usar todo o aparato já disponível para coleta e passar a mistura (água%2bpetróleo) pelo filtro. Dessa forma, até essa etapa, todo o procedimento já está disponível no estado da técnica. O aparato pode ser desenhado de acordo com a necessidade, uma vez que é produzido em módulos.
2 - Qual a média de custo do transporte nesse caso?
Não temos explicitamente o custo, mas é similar ao custo hoje aplicado para transportar um navio cargueiro rebocador que coletou todo o líquido (água%2bpetróleo) em um vazamento em alto-mar e efetuou o transporte para terra firme.