O trabalho com os pescados começou durante a graduação em biologia do hoje doutorando em zootecnia e analista no laboratório de genética da Escola de Veterinária da UFMG, Danilo Alves Pimenta Neto. Em 2010, ele iniciou uma pesquisa em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF) para identificar as espécies de peixes existentes no Rio São Francisco por meio do rastreamento do DNA. O objetivo era identificar as espécies com o intuito de preservação.
Depois de ingressar no mestrado, concluído em 2013, Danilo decidiu estudar outros peixes. Foram escolhidos oito tipos mais comercializados no Sudeste: atum, cação, sardinha, tilápia, bacalhau, merluza, panga e salmão. As amostras estudadas eram compradas em supermercados, restaurantes e lanchonetes, sempre que possível. “Eu comia um bolinho de bacalhau e pegava uma parte para usar como amostra”, lembra Danilo. “A extração do DNA não precisa ser feita somente no peixe cru, pode ser nele processado também”, ressalta. O resultado foi a constatação de um índice alto de fraude em determinados tipos. No caso da merluza, havia fraude em 70% das amostras coletadas. Em segundo vinha o bacalhau, com 63% de fraude; depois o panga, com 43%; e o salmão, 4%. “É muito comum a venda de outro tipo de peixe salgado como bacalhau, mas que não é o bacalhau de verdade. A descrição deveria ser ‘peixe salgado tipo bacalhau’, mas vendem como bacalhau”, alerta Denise. Não foi encontrada fraude nas amostras de atum, cação, sardinha e tilápia.
Parasitas bovinos
Outro tipo de serviço que em breve será oferecido é para identificar parasitas em bois sensíveis (ou não) a um determinado tipo de vermífugo. O objetivo é que a pesquisa ajude os produtores no tratamento dos bovinos, evitando um medicamento muitas vezes ineficaz e que deixa resíduos na carne, depois de o animal ser abatido para consumo.
A pesquisa é desenvolvida pela médica veterinária e doutoranda em zootecnia Lívia Loiola e está em fase de pedido de patente. Ela diz que, ainda em campo, os bovinos são tratados com muito vermífugo, mas pode ocorrer de os parasitas ficarem resistentes a um determinado medicamento, o que o torna ineficaz. O prinípio ativo pesquisado é o benzimidazol.
Lívia explica as vantagens do novo teste, em relação aos clássicos. “No teste clássico, você pega as fezes do animal, faz a cultura, conta quantos ovos de vermes existem e identifica o gênero do parasita para indica o tratamento. Além disso, leva de sete a 10 dias até que os ovos se transformem em larvas. Depois, é preciso contar com um taxonomista para analisar no microscópio qual a espécie. Atualmente, é muito difícil encontrar esse profissional”, diz.
Com a nova técnica, o teste é mais rápido pois o DNA pode ser extraído do ovo, identificando gêneros e espécies. O objetivo é fazer o teste com as fezes dos animais antes e depois do tratamento com o vermífugo, buscando certificar se o medicamento funcionou.
Leite de búfala e carne terão testes
O teste é feito em quatro ou cinco dias e fica em torno de R$ 400 por amostra, devido ao custo elevado dos insumos. Pode ser caro para o consumidor comum, mas não é inacessível a empresas ou entidades de defesa ou fiscalização. Atualmente, o laboratório da UFMG presta o serviço, por exemplo, para o instituto paulista Totum, que coleta amostras a pedido da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos, que atesta o leite e derivados dos associados com um selo de pureza. São certificados os produtos que apresentam 1% ou menos de mistura de leite bovino (quantidade tolerável levando-se em conta que muitos produtores também lidam com o leite de vaca e resquícios podem ficar nas máquinas).
CÁRNEOS
O próximo passo de Lissandra agora é finalizar testes, identificando a origem de 10 tipos de carnes: de boi, búfalo, cabra, ovelha, porco, cavalo, frango, peru, gato e cachorro, além da carne de soja. Serão analisadas carnes in natura e embutidos. Nesse caso, o teste será somente qualitativo, ou seja, identificará se a carne (ou embutido) vendida como de um determinado animal é de fato deste animal ou se há fraude. Mas o teste não apontará em que percentual. Por enquanto, a pesquisa está na fase de padronização: são pegas amostras de carnes sabidamente puras para serem consideradas padrão e, a partir daí, o DNA será extraído. Em uma segunda etapa do trabalho serão comprados todos os tipos possíveis de embutidos disponíveis no mercado para a confirmação da origem. A pesquisadora acredita que até o fim do ano o trabalho já deva estar concluído para ser obtida a patente e, a exemplo dos demais, ser disponibilizado ao mercado..