Estudo mostra que extinção em massa de animais está em curso devido à ação do homem

Pesquisadores compararam o número de espécies extintas antes do civilização humana e nos últimos 500 anos. O resultado é desolador

Roberta Machado

O tigre-da-sumatra é uma das espécies ameaçadas de extinção no mundo: 69 tipos de mamíferos estão na mesma situação - Foto: AFP PHOTO / GIL COHEN-MAGEN

 

Brasília – Ainda que existam pessoas que insistem em fechar os olhos diante das consequências da ação do homem sobre o meio ambiente, os efeitos devastadores dessa relação desleal não podem ser negados. Ambientalistas apontam que, mesmo com a mais otimista das projeções, a taxa de extinção atual das espécies de vertebrados é 114 vezes maior do que seria sem a atividade humana. Em uma análise publicada na revista Science Advances, especialistas apresentam evidências de que o Homo sapiens deu início à sexta extinção em massa da história do planeta, um fenômeno que pode causar danos irreversíveis pelos próximos milhões de anos. O estudo serve de alerta para a urgência do problema, que só pode ser amenizado com ações imediatas.


Para medir o tamanho do impacto humano sobre a diversidade dos vertebrados, os pesquisadores compararam o número de animais que desapareceram do planeta nos últimos 500 anos com a chamada taxa de extinção natural, isto é, o número de espécies que eram eliminadas da Terra antes da expansão da atividade humana. Com base em fósseis e no tempo estimado de existência de cada grupo de animais antigos, calculou-se que o mundo perde dois tipos de mamíferos a cada 10 mil espécies todos os séculos.

O número usado pelos pesquisadores é o equivalente ao dobro da taxa de extinção natural empregada em outras estimativas semelhantes. Para chegar a dados considerados mais “realistas” que as projeções tradicionais, os autores produziram duas listas distintas: uma conservadora, com base nas 617 espécies de vertebrados que desapareceram dos seus hábitats desde 1500, e outra ainda mais restrita, que não leva em conta os 279 bichos que só existem em cativeiro ou cuja extinção ainda não foi confirmada.

A ação humana causa uma série de desequilíbrios, prejudicando, por exemplo, a polinização das abelhas - Foto: AFP PHOTO / JOE KLAMAR

Em qualquer uma das projeções, a participação humana no processo de defaunação é clara: a estimativa de desaparecimento das espécies de vertebrados desde o avanço da civilização é de oito a mais de 100 vezes maior do que a taxa de extinção natural. A maioria dos casos se concentra no último século, mostrando que o impacto da civilização sobre a biodiversidade tem acelerado rapidamente.

Sob a estimativa conservadora, seria esperado que nove tipos de animais desse grupo tivessem sido eliminados da natureza, mas a lista tem 468 espécies a mais, incluindo 69 mamíferos, 80 pássaros, 24 répteis, 146 anfíbios e 158 peixes cuja extinção pode ser diretamente responsabilizada ao homem. Sem a atividade humana, seriam necessários entre 800 e 10 mil anos para que esse mesmo número fosse naturalmente eliminado do planeta.

Conservador Os autores do estudo ressaltam que os resultados apresentados são limitados e que o impacto humano sobre a biodiversidade é, provavelmente, maior. “A taxa varia a cada grupo, e nós fizemos suposições muito otimistas”, ressalta Paul Ehrlich, professor da Universidade de Stanford, nos EUA, e um dos autores do estudo.

A estratégia busca desarmar qualquer argumento que se baseie na possível manipulação de índices para superestimar a crise ambiental. “Há vários políticos e outros comentaristas que são ignorantes ou pagos para não compreender (a situação), como aqueles que negam que existe um problema com a ruptura climática antropogênica”, critica Ehrlich. Mas mesmo os questionadores mais incrédulos não podem negar os resultados de uma análise feita a partir de dados conservadores, argumenta.

O fenômeno antropogênico é comparável ao extermínio dos dinossauros, ocorrido há 66 milhões de anos. No entanto, esta pode ser a transformação ambiental mais acelerada em 4,5 bilhões de anos de existência da Terra, em que o desaparecimento acelerado de espécies sempre era causado por atividades vulcânicas ou queda de meteoros. Em vez de severas mudanças climáticas que perduram por milhares de anos, a atual extinção em massa é causada pela introdução de espécies nativas, pela emissão de carbono, pelo desmatamento impulsionado pela agricultura e outros reflexos do desenvolvimento recente da humanidade.

Medidas O sumiço constante dos animais desencadeia uma série de efeitos sobre o ecossistema, como a polinização feita pelas abelhas e o processo de purificação da água, mudanças que devem começar a cobrar o preço da humanidade nas próximas três gerações. “Se isso continuar, a vida vai levar milhões de anos para se recuperar, e a nossa própria espécie provavelmente desaparecerá mais cedo”, alerta Gerardo Ceballos, pesquisador do Instituto de Ecologia da Universidade Autônoma do México.

Para evitar esse cenário, os autores alertam que são necessários “esforços rápidos e intensivos para conservar as espécies que já estão ameaçadas e diminuir as pressões sobre as suas populações, como a perda de hábitat, a exploração exagerada para ganhos econômicos e a mudança climática”. De acordo com a Lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês), cerca de um quinto das espécies de vertebrados é ameaçado de extinção. Em média, 50 novos tipos de mamíferos, aves, répteis e peixes entram para a relação todos os anos.

 

 

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Total de espécies de vertebrados que desapareceram de seus hábitats desde 1500

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