Jornal Estado de Minas

Videogames que exigem movimento podem ser fonte extra de atividades para crianças

Vilhena Soares
- Foto: Arte EM/D.A Press

Crianças cada vez menos dispostas a sair da frente da televisão são motivo de preocupação constante para os pais. Quando não estão interessadas em algum programa ou desenho animado, querem só brincar com jogos eletrônicos. O resultado, temem os responsáveis, são pequenos que interagem menos com amigos e se exercitam pouco, o que pode contribuir para o crescente problema da obesidade infantil. Uma forma de minimizar os efeitos desse cenário moderno pode estar na escolha do entretenimento, sugere um estudo recentemente publicado na revista especializada Games for Health.

Na pesquisa, especialistas americanos calcularam o gasto de energia de crianças de 5 a 8 anos enquanto brincavam com games que exigem a constante movimentação dos jogadores e o compararam com o esforço feito durante as tradicionais brincadeiras ao ar livre. Os resultados mostraram que, ao menos para essa faixa etária, os dois tipos de atividade são equivalentes em termos de exercício físico. E mais: podem até servir de estímulo para que os pequenos valorizem a boa forma, para que se tornem melhores jogadores.

Para chegar a essa conclusão, os autores partiram de análises anteriores que indicaram benefícios à saúde aliados a jogos que usam sistemas que captam os movimentos corporais dos jogadores. Assim, para comandar a brincadeira, o usuário precisa realizar uma série de movimentos, como mover-se lateralmente ou imitar movimentos típicos de um jogador de tênis ou um lutador de boxe. Mas qual o grau de exigência desses games?

Para responder a essa pergunta, os cientistas da Universidade do Tennessee instalaram equipamentos que podiam medir com precisão os movimentos corporais das crianças participantes. Os aparelhos foram colocados nos pulsos e no quadril delas, que participavam de sessões de 20 minutos tantos dos jogos quanto de brincadeiras externas. Após três semanas de coletas de dados, os autores puderam calcular quanta energia havia sido gasta em cada tipo de atividade. Os resultados mostraram que o esforço era semelhante, sendo que o jogo eletrônico se mostrava mais intenso em alguns momentos.

“Estudos anteriores investigaram os videogames ativos, mas não analisaram o gasto de energia que proporcionam em comparação com a recreação ao ar livre. Segundo nosso estudo, jogos que pedem dedicação de todo o corpo de uma criança podem ser considerados uma fonte de atividade física”, afirma, em um comunicado, Hollie Raynor, coautora do trabalho. “Ninguém ainda tinha usado medidas com esse grau de precisão nessa comparação”, completa.

- Foto: A especialista ressalta que, em nenhum momento, o estudo mostra que games de movimento são substitutos ideais para brincadeiras ao ar livre. Esse último tipo de atividade, lembram, envolvem uma série de fatores que a diversão eletrônica não contempla, como contato com a natureza, maior possibilidade de interação social e necessidade de lidar com situações imprevistas. “Nós não estamos dizendo que os videogames devem substituir jogos ao ar livre, mas há melhores escolhas que as pais podem fazer ao selecionar os tipos de jogos para seus filhos”, completa a autora.

Variedade

O estudo norte-americano sugere que, dentro do universo dos videogames, há uma variedade de possibilidades, algumas muito mais benéficas que outras. “A pesquisa é interessante. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que o gasto energético é similar. Isso mostra que, atualmente, os jogos também podem ser uma atividade dinâmica, e não apenas algo que estimula o sedentarismo”, avalia Rogerio Cardoso dos Santos, vice-coordenador do curso de tecnologia em jogos digitais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que não participou do estudo.

Santos também acredita que a pesquisa pode incentivar o uso dos jogos eletrônicos como uma atividade complementar na promoção de saúde. “O videogame pode ser usado, além do entretenimento, como ferramenta de ensino e aprendizagem, tornando os conteúdos mais atrativos para diversas faixas etárias. A tevê pode nos fornecer entretenimento e ser utilizada como ferramenta de ensino, mas o videogame fornece uma dimensão a mais: a possibilidade de interação com os conteúdos”, completa. “Existem também games para a terceira idade com finalidade terapêutica, como jogos para memória e raciocínio que buscam prevenir ou retardar o aparecimento do mal de Alzheimer”, lembra.

Luiz Augusto Riani Costa, médico do Laboratório Exame e clínico especializado em medicina do esporte, acredita que os jogos eletrônicos de movimento possam ajudar no desenvolvimento físico. “Há uma linha de pesquisa semelhante à desse estudo americano na Universidade de São Paulo (USP), no qual jogos de movimento são usados por pessoas que sofreram AVC e que têm dificuldade de realizar atividades. Temos tido sucesso”, destaca. Para o especialista, games que exigem uma grande movimentação em seus comandos podem servir de incentivo para que os jovens pratiquem mais atividades físicas. “Acredito que esses jogos possam servir como um elemento motivador. Ao ter um preparo físico melhor, a pessoa pode se sair mais vitoriosa”, destaca.

 

Mal comum
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um terço das crianças e dos adolescentes já está obesa. No Brasil, 15% dos indivíduos dos 10 aos 19 anos encontram-se acima do peso e, na faixa de 5 a 9, a gordura corporal em demasia chega a atingir 38,8% da população.