Ele tem apenas 5cm de comprimento e não mais que 5mm de largura, mas causa enorme estrago por onde passa, sempre em bando. Depois de causar desequilíbrio ambiental em territórios do Pacífico e da Europa, onde ameaça a criação de escargôs na França, o verme-da-nova-guiné foi encontrado pela primeira vez no continente americano, em áreas de Porto Rico e da Flórida, segundo artigo publicado na Peer J. Agora, especialistas temem que o Platydemus manokwari, única espécie de planária na lista das 100 espécies invasoras mais perigosas da União Internacional da Conservação da Natureza (veja quadro), se espalhe pelo continente, podendo chegar até a América do Sul.
As amostras do verme foram identificadas por sua aparência característica e por meio de uma análise histológica frequentemente usada para caracterizar animais. A espécie já havia sido relatada na França, Austrália e territórios do Pacífico, incluindo Nova Caledônia, Taiti, Cingapura e Ilhas Salomão. O registro na Flórida, mais especificamente em jardins de Miami, é de especial preocupação por se tratar de uma região da América continental. Como a grande parte do territórios infestados são ilhas, a propagação da espécie acaba limitada. Agora, sem a água como barreira, esses platelmintos podem mais facilmente avançar pelo solo e se espalhar a partir da Flórida para todo o continente americano. Nos Estados Unidos, encontrou-se o tipo mundo, o mais comum. A outra variedade é o tipo australiano, que só foi encontrado até agora na Austrália e nas Ilhas Salomão.
Como uma brincadeira do destino, o primeiro país europeu a identificar a presença do verme devorador de caracóis foi a França, terra dos escargôs. Em novembro passado, o platelminto foi descoberto em uma estufa em Caen, na Normandia, acendendo a preocupação de cientistas e produtores da iguaria culinária. Após confirmar a identidade do invasor, Jean-Lou Justine fez um alerta sombrio. “Todos os caracóis na Europa podem ser dizimados”, disse à Discovery News. E completou: “Pode parecer irônico, mas vale a pena salientar o efeito que isso terá sobre a culinária francesa”. A notícia é mais um obstáculo para os criadores franceses, que enfrentam a concorrência forte dos escargôs produzidos na Polônia e na Romênia. A saída, contudo, pode estar no frio. Como o verme não se desenvolve bem em temperaturas abaixo de 10 graus, há esperança de que o inverno ajude a combater a praga.
Para Leigh Winsor, pesquisador da Universidade James Cook (Austrália) e coautor do trabalho que identificou a planária nos Estados Unidos, o verme-da-nova-guiné deve ter chegado à América a partir da França, provavelmente a bordo de alguma planta enviada da região do Pacífico.”Temos quarentena de jardins botânicos em Caen. Por isso, é importante a proibição de importação e exportação de vasos de plantas para outros jardins”, alerta Winsor.
Ameaças reais
A lista das 100 piores espécies exóticas invasoras usa como critérios o impacto sobre a biodiversidade e as atividades humanas. Conheça as cinco que encabeçam a relação:
1 Acacia mearnsii (acácia-negra ou acácia-australiana). Arbusto de crescimento rápido, ameaça hábitats competindo com vegetação nativa, reduzindo a biodiversidade e aumentando a perda de água a partir de zonas ribeirinhas
2 Achatina fulica (caramujo-africano). O molusco se alimenta de uma grande variedade de plantas de cultivo e pode representar uma ameaça para a flora local
3 Acridotheres tristis (myna-comum ou myna-indiano). Pássaro que vive em estreita associação com os humanos, compete com pequenos mamíferos e outras aves. Em ilhas como Havaí e Fiji, ele ataca ovos e filhotes de outros pássaros
4 Aedes albopictus (mosquito-tigre). Esse inseto se espalha principalmente pelo comércio de pneus transportados com água da chuva acumulada. É associado a muitas doenças, incluindo a dengue, a febre do Nilo Ocidental e a encefalite japonesa
5 Anopheles quadrimaculatus (mosquito da malária). É o principal vetor da malária na América do Norte. As larvas são normalmente encontradas em locais com abundante vegetação aquática enraizada
Fonte: União Internacional da Conservação da Natureza
Controle
Conforme o nome indica, o intruso voraz vem do sul do Pacífico. Sua eficácia como predador é tanta que o P. manokwari chega a ser criado em países do Pacífico para combater outra espécie exótica, o caracol-gigante-africano ou caramujo-africano, sob controle. A estratégia, no entanto, é considerada muito arriscada pelos cientistas, pois pode acabar prejudicando outras espécies de caracóis, minhocas e insetos.