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Decapitação era usada por vários povosEsqueletos encontrados em Matozinhos devem potencializar patrimônio arqueológico de MGFósseis localizados em Matozinhos são analisados no exteriorDescoberta de sítio arqueológico em Matozinhos vai revelar pré-história mineiraDescoberto em 2007, o sepultamento descrito no trabalho é o de número 26, entre os já encontrados em Lapa do Santo. O esqueleto enterrado pertencia a um homem jovem do Povo de Luzia, nome dado ao grupo de caçadores-coletores que habitava a região (leia Palavra de especialista). O crânio decapitado estava coberto pelas duas mãos do morto, amputadas e posicionadas com cuidado: a direita sobre o lado esquerdo da face, com os dedos apontando para o queixo; e a esquerda, colocada da porção direita do rosto, mas na direção contrária. Análises feitas com um microscópio que gera modelos tridimensionais de marcas e cortes indicaram que os tecidos moles foram removidos com lascas de pedra.
A interpretação dos detalhes é fruto de um amplo trabalho de equipe, que inclui pesquisadores da Universidade de São Paulo e renomados peritos forenses, como antropóloga Sue Black, diretora do Centro de Anatomia e Identificação Humana da Universidade de Dundee, no Reino Unido. Curiosamente, a especialista conta que os padrões de decapitação da Lapa do Santo lembram o de um caso moderno, criminoso, no qual ela trabalhou.
A configuração peculiar e cuidadosa na qual a ossada foi enterrada sugere que ela não pertencia a um inimigo, mas, provavelmente, a um indivíduo de status único, como alguém venerado. Não foram encontradas, por exemplo, marcas de violência nem características típicas de uma cabeça-trófeu, como buracos preenchidos com cordas que facilitariam a exposição do crânio. O enterro ocorreu pouco tempo após a morte. “O sepultamento 26 faz parte de um padrão mortuário em que a redução de cadáveres frescos e a remoção de partes do corpo eram um elemento central, mas o foco não era, necessariamente, a cabeça”, diz Strauss.
Reformulação Esse achado levou o pesquisador a repensar suas impressões sobre as práticas funerárias de Lapa do Santo. “Durante muito tempo, os arqueólogos acreditaram que o enterro dos mortos em Lapa do Santo era um processo simples e trivial. Foi justamente com a descoberta do sepultamento 26 e de outros semelhantes que começamos a perceber que essa visão estava equivocada”, explica Strauss.
O novo trabalho também oferece novos dados sobre a geografia desse tipo de ritual, pois achava-se que a prática, em tempos pré-coloniais, era registrada apenas na região dos Andes, no lado oposto do continente. “O desafio agora é entender como o caso que reportamos se relaciona com os do outro lado do continente. Se é que há alguma relação”, diz Strauss. Enquanto a questão permanece aberta, os estudos em Lapa do Santo seguem a todo vapor, com esforços concentrados em extrair o DNA do Povo de Luzia e estudar os microfósseis do sítio. “E claro, seguimos escavando o sítio. A cada ano, descemos cerca 40cm. É um processo de longa duração.”.