A Floresta Amazônica e a caatinga estão entre os ecossistemas mais vulneráveis às mudanças climáticas e podem sofrer mais do que a maioria das regiões do globo com a variação da temperatura e das chuvas causada pelo aquecimento global. A descoberta faz parte de um estudo publicado ontem na revista Nature que descreve um novo método de avaliar a sensibilidade de diferentes áreas do mundo às alterações do clima. Entre os biomas mais ameaçados, também estão a tundra, típica das regiões geladas do ártico; porções da Floresta Boreal, que cobre parte do Canadá e do Alasca; o leste da Austrália; e as matas temperadas encontradas em regiões alpinas.
A tendência é que esses espaços eventualmente atinjam um ponto crítico, no qual os biomas se tornarão permanentemente instáveis e responderão de forma mais grave às perturbações extremas. Os dados obtidos pelo índice fornecem uma nova forma de quantificar a resposta dos ecossistemas às mudanças naturais e causadas pelo homem, podendo ser uma importante ferramenta para a proteção dessas áreas ameaçadas.
O grupo de pesquisadores baseou a avaliação em imagens obtidas pelo satélite MODIS, da agência espacial norte-americana, a Nasa, entre 2000 e 2013. “É difícil obter medições de uma forma consistente, particularmente em locais remotos”, comenta Alistair Seddon, principal autor da pesquisa e estudante de pós-doutorado da Universidade de Bergen, na Noruega. “Os dados de satélite revolucionaram a pesquisa em ecologia, porque eles fornecem um quadro global tanto do clima quanto das condições do ecossistema. Agora, temos informações suficientes para revelar como os ecossistemas têm respondido ao longo desse período”, ressalta Seddon.
Com base nos dados de alta resolução, os cientistas foram capazes de acompanhar as variações da produção vegetal e relacionar as mudanças com a alteração de outros fatores, como a temperatura do ar, a disponibilidade de água e o grau de cobertura de nuvens. As informações foram combinadas para a criação de um índice de sensibilidade de vegetação (VSI, na sigla em inglês), que descreve com precisão inédita a vulnerabilidade de cada região às mudanças climáticas.
Reações distintas O índice revelou que diferentes biomas respondem às mudanças climáticas de formas distintas.
“Não sabemos se essas são características permanentes desses sistemas ou se podem mudar com o tempo. Conforme mais dados forem registrados, nós poderemos examinar tendências no índice e ver como elas mudam com o tempo”, ressalta Seddon. “Precisamos avaliar se (a sensibilidade) é relacionada com o tipo de vegetação, como certos tipos de taxas de crescimento, ou se é o resultado de distúrbios antigos e da história do uso da terra. Essa é a próxima questão que queremos responder”, aponta o pesquisador.
Um desafio está no que os especialistas chamam de “efeito de memória”. Ao longo dos meses analisados pelo estudo, algumas regiões não pareciam responder às variações climáticas, mas ainda guardavam traços deixados por condições registradas tempos antes. Os pesquisadores ainda não sabem dizer por que esse fenômeno acontece nem quais serão os efeitos desse processo a longo prazo.
Observação Medir a reação de diferentes tipos de vegetação ao clima tem sido uma tarefa difícil. Os modelos ecológicos atuais dependem de modelos que procuram simular tendências em cada bioma, uma estratégia pouco precisa que pode minimizar os danos causados a áreas mais dinâmicas. “Houve outras tentativas similares de avaliar as respostas da vegetação à água, à temperatura e à luz. Como não havia a extensão de dados de satélite usados nesse estudo, eles dependiam de modelos para ajudá-los a compreender as sensibilidades da vegetação ao clima”, ressalta Alfredo Huete, professor da Universidade de Tecnologia de Sydney e especialista em mudanças climáticas.
O índice criado por Seddon e colegas, acredita Huete, muda esse modelo analítico. “Esse estudo apenas usa observações do satélite, já que eles têm 14 anos de dados globais para analisar. Nenhum modelo é necessário.