O primeiro filme, lan;ado em 25 de maio de 1977 — o título original era Star Wars, depois virou Uma nova esperança —, liderou as bilheterias até 1982 e é marcado por improvisos. A ideia de George Lucas era extremamente ambiciosa para a época, e sua equipe teve que inventar técnicas para torná-la realidade. Um grande exemplo é a Dykstraflex, cuja criação foi encabeçada por John Dykstra (Leia Três perguntas para). O supervisor de efeitos especiais usou câmeras VistaVision de segunda mão, relativamente baratas à época, mas com boa resolução, e computadores customizados para controlar o movimento da câmera.
“Eles criaram um frankenstein de várias câmeras disponíveis no mercado e ligaram em um computador”, diz André Gordirro, escritor, tradutor e especialista em Star Wars. A primeira câmera controlada por computador foi usada para filmar as complexas cenas do filme, como o movimento das naves no espaço e a batalha na superfície da Estrela da morte.
Para o segundo filme da saga, O Império Contra-Ataca, Phil Tippett e uma equipe de animadores da Industrial Light & Magic — empresa de efeitos especiais criada por George Lucas — criaram uma evolução do stop motion, método de animação muito usado à época. “No stop motion, a munheca do animador é que dava movimento ao boneco. O go motion substitui isso por um esqueleto robótico”, diferencia Gordirro. No momento de cada fotografia, um computador move levemente a miniatura, borrando a foto e criando uma sensação mais natural de movimento na animação. O efeito foi usado para animar os AT-ATS, veículos imperiais usados para atacar os rebeldes no planeta gelado de Hote, e os simpáticos Taunenses.
Computação gráfica Mais de duas décadas após a estreia do primeiro filme, A ameaça fantasma chegou aos cinemas com o uso em larga escala da animação computadorizada, tendência que foi seguida na trilogia. Grande parte das cenas, inclusive as de ação, foi gravada contra uma tela verde, e o cenário, inserido na pós-produção. O aliem Jar Jar Links, por exemplo, foi o primeiro personagem interativo feito totalmente em computador, dialogando com os atores e aparecendo em boa parte da narrativa.
Apesar da inovação, há críticas. “Eles usaram muita computação gráfica (CG), quando a técnica não era muito avançada”, avalia Raul Sales, coordenador acadêmico da escola de efeitos visuais AXIS. “Uma cena polêmica é a luta do Yoda, que teve uma CG muito forçada. As pessoas estavam acostumadas com o boneco usado nos outros filmes, parado. De repente, há todo aquele movimento, a aparência emborrachada. Isso abalou muita gente”, ilustra.
A segunda trilogia também esteve à frente de outra inovação que marcaria a história do cinema: lançado em maio de 2002, Ataque dos clones foi o primeiro blockbuster a ser filmado em formato completamente digital, que se tornou o padrão na última década pela praticidade e o custo reduzido.
Volta às origens As técnicas antigas, porém, têm voltado às telonas.
Mas, em produções tão grandes, não poderiam faltar elementos de ponta, como o retorno às telas do ator Peter Cushing, morto em 1994, em Rogue One, lançado em dezembro passado. Peter interpretou o personagem Tarkin no primeiro filme da saga e foi recriado por meio de técnicas de captura de movimento e modelagem digital. “Uma das coisas mais difíceis é representar em 3D o movimento humano”, diz Sales. “Na captura de movimento, você pega um ator, demarca ele e modela o personagem em 3D. Você tem essa sobreposição.” O ator Guy Henry fez a performance física e vocal do personagem, com uma voz muito parecida com a de Peter, e um modelo em 3D do falecido ator foi adicionado à atuação. “O que você tem é uma performance assustadoramente crível”, avalia Gordirro.
* Estagiário sob a supervisão de Carmen Souza
Em etapas
Trata-se de uma técnica muito usada no cinema para animar objetos reais.
três perguntas para...
John Dykstra
um dos fundadores da empresa de efeitos visuais Industrial Light & Magic
1 Qual foi o impacto do primeiro Star Wars no cinema?
Minha opinião é que ele deixou óbvio para as pessoas que fariam filmes de fantasia e ficção científica que algumas imagens que pensavam difíceis demais para produzir eram possíveis. Nesse sentido, acho que o filme abriu o gênero de ficção científica e fantasia para mais produções cinematográficas. Depois, a mesma tecnologia foi expandida para a produção de filmes convencionais. Isso, acho até certo ponto, foi o surgimento de um gênero que influenciou o tipo de filmes que vemos agora, com muitos efeitos visuais, focados na ação.
2 Quais são as diferenças entre fazer efeitos especiais quando você começou e agora?
A grande diferença é que, em vez de inventar a tecnologia para mover a câmera e o objeto filmado e descobrir a física e a mecânica necessárias, agora você pode ir ao computador e, basicamente, criar o objeto, a câmera e seus movimentos, tudo em uma só plataforma. E porque isso é virtual, ou seja, no sentido de que não existe fisicamente, a câmera pode ser tão pequena ou tão grande quanto você quiser, pode se mover da forma como você escolher. De repente, tornou-se menos sobre engenharia e planejamento mecânico e mais sobre o planejamento da cena em si. Nós conseguimos passar mais tempo pensando sobre como a cena se encaixa na história que está sendo contada e menos tempo pensando em como fazer a cena.
3 Muitas produções de hoje usam técnicas antigas, como capturar cenas em filme e efeitos práticos. Você acha que essas técnicas apelam mais ao espectador do que as técnicas digitais?
Isso é terrivelmente subjetivo. Algumas pessoas gostam da qualidade orgânica do filme, em termos da forma como ele captura e apresenta a ima-gem. Outros gostam da imagem de certa forma asséptica, quase estéril, das imagens digitais. Meu chute é sobre o que vai acontecer: a reprodução e a captura eletrônicas de imagens vão ultrapassar a qualidade e a versatilidade do filme convencional. A câmera eletrônica já pode filmar a uma taxa de quadros por segundo muito maior, criando efeitos de câmera lenta muito interessantes. O ponto principal é que a resolução de uma câmera digital está superando a da câmera a filme. Outro aspecto é que você tem muito mais flexibilidade ao manipular a imagem digital. Finalmente, não haverá muitos projetores de filme sobrando no mundo por muito tempo. (VC)
.