Chicago (EUA) — Importante para prevenir a recorrência do câncer depois da cirurgia de remoção do tumor, a quimioterapia, contudo, é uma abordagem agressiva, acompanhada de diversos efeitos colaterais.
O estudo foi baseado em seis ensaios clínicos realizados em 12 países da América do Norte, Europa e Ásia, com um total de 12,8 mil pacientes de câncer de cólon de fase 3 (quando o tumor se disseminou para linfonodos próximos, mas não se espalhou para outros órgãos) submetidos à cirurgia de remoção do tumor. Financiado por um conglomerado de empresas farmacêuticas, o trabalho teve como objetivo determinar se três meses de quimioterapia preventiva são tão eficazes quanto os seis meses habituais para evitar a recorrência da doença.
A substância usada na quimioterapia para câncer colorretal é a oxaliplatina, que tem um nível alto e cumulativo de toxicidade. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão diarreia, fadiga e queda na contagem de células do sangue. O principal deles, porém, é a neuropatia, condição caracterizada por dor, fraqueza e paralisia nos nervos das mãos e dos pés. De acordo com os autores do trabalho, por causa dessas intercorrências, alguns pacientes chegam a interromper o tratamento preventivo. Diferentemente de outros efeitos da químio, como a queda de cabelo, que é passageira, essa complicação pode durar por toda a vida.
Os ensaios clínicos compararam o risco de retorno da doença três anos depois da cirurgia em pessoas submetidas à quimioterapia por três e seis meses.
Os dados fazem os pesquisadores defender uma mudança nas recomendações do tratamento de pacientes que passaram por cirurgia para a remoção de câncer do cólon. No caso dos que se encaixam no perfil de baixo risco, eles sustentam que o ideal é o regime de três meses. O estudo também mostrou que as pessoas que fizeram químio por esse período tiveram menos efeitos colaterais: de 15% a 17% sofreram neuropatia, enquanto que, no grupo de seis meses, os percentuais variaram de 45% a 48%.
“Nossa descoberta pode beneficiar cerca de 400 mil pacientes de câncer de cólon em todo o mundo, a cada ano”, disse Qian Shi, pesquisadora da Clínica Mayo em Rochester, e primeira autora do artigo apresentado na Asco, que terminou ontem em Chicago. Esse número corresponde a 60% dos casos anuais globais da doença, caracterizados como baixo risco. “Há mais de 10 anos, não acontecem mudanças de paradigma no tratamento”, alertou. Nos EUA, há 95,5 mil novas ocorrências da doença por ano. No Brasil, a estimativa do biênio 2016-2017, segundo o Instituto Nacional de Câncer, é de 34.280 novos diagnósticos.
Já os pacientes de alto risco, definidos como portadores de tumores do nível 4, os pesquisadores defendem que a escolha entre três e seis meses deve ser ponderada. A pesquisadora Cathy Eng, do Centro de Câncer MD Anderson, da Universidade do Texas, que não participou do estudo, por outro lado, não recomenda mudanças no regime antes que se realizem mais ensaios clínicos. “A duração final da terapia é sempre uma questão de discussão entre o médico e o paciente, com base nas toxicidades do tratamento. Seis meses de quimioterapia para pacientes de câncer de cólon no estágio 3 continua sendo o tratamento padrão”, acredita.
* A repórter viajou a convite da Sirtex
PALAVRA DE ESPECIALISTA: Renata D’Alpino Peixoto - oncologista especializada em câncer colorretal do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e participante da Asco
Prática para a maioria
“Quando você olha para as curvas de risco do paciente desenvolver metástase depois de três ou seis meses, elas são muito parecidas. Mais de 60% dos pacientes têm doença menos agressiva; ou seja, é um tumor que não está tão grande, e os linfonodos não tomaram a parede do intestino.