São Paulo – Eventos de gigantes tecnológicos respiram aquela falsa espontaneidade de sempre: na verdade, tudo ali se calcula rigorosamente, como o timing, piadinhas e sincronia com o telão evidenciam. No palco do Google for Brasil, megaevento que a gigante de buscas realizou esta semana no auditório Oscar Niemeyer, no Ibirapuera, Berthier Ribeiro-Neto cumpre corretamente o protocolo, seguindo o script do teleprompter posicionado atrás da plateia. Mas é quando a imagem que você vê aqui aparece na tela, que ele se empolga de verdade. “Este foi o time que renovou o nosso mecanismo de buscas para a Copa. Palmas para eles”, conclama o diretor de engenharia para a América Latina do Google. Na foto, ao fundo, está a Serra do Curral. E o time de engenheiros – que hoje conta com mais de uma centena de profissionais – vai crescer: o escritório do Google em BH busca profissionais para preencher 50 novas vagas até o fim do ano.
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E não é que faltem profissionais em BH, como explica Berthier: “A gente contrata na América Latina inteira, com um processo seletivo.
O processo seletivo é bastante intenso, adianta Berthier. “Mas encorajo a quem quiser desenvolver uma carreira de engenharia da computação de verdade a se candidatar”. Para o diretor, trata-se de um salto grande para o centro de desenvolvimento, “que vem com a senioridade”.
Ele detalha a mudança de perfil no escritório: “Temos hoje uma liderança, em Belo Horizonte, vários profissionais em posição muito alta na engenharia, trabalhando com a gente há seis, oito anos, então sentimos que temos senioridade para absorver um número maior de profissionais.” Ele se esquiva de informar o limite orçamentário para as contratações: “Se forem salários mais altos, para profissionais mais experientes, serão”.
Rede No evento dedicado ao país, a empresa divulgou que investiu, nos últimos 15 meses, R$ 700 milhões no Brasil. Para se ter ideia, entre 2013 e 2016, foram US$ 500 milhões. Além da renovação do mecanismo de buscas – tecnologia criada em Belo Horizonte e aplicada globalmente –, a empresa apresentou novidades como a ativação de novos cabos submarinos entre a Flórida e o Brasil, com 10.556 quilômetros de extensão e seis pares de fibra óptica, capazes de entregar até 64 terabytes de dados por segundo.
“Uma infraestrutura de rede robusta é essencial para deslanchar o potencial da internet na América Latina, com novas oportunidades de desenvolvimento econômico, social e cultural.
A gigante de tecnologia ressalta institucionalmente como o mercado brasileiro é estratégico para seus negócios, com os consumidores colocando o Brasil entre os 5 países que mais usam as principais plataformas da companhia. O cenário político e econômico dos últimos anos não desanimaram a empresa, conforme defende Berthier: “O Google não olha para o país num curto horizonte, de um a dois anos. Diante da nossa instabilidade econômica de hoje, então, o Google olha para o país num horizonte de meia década, de uma década. E de cinco, 10 anos para frente, a cena, no nosso entendimento é boa”.
Busca pela melhor busca
Quando você fizer uma busca no Google por um jogo de futebol durante a Copa do Mundo, vai experimentar uma solução que foi inteiramente desenhada em Belo Horizonte. O time formado por Jefferson Monteiro, Luzia Romanetto, Rafael Hermano, Alice Scarpa, Torsten Nelson, Tiago Mota e Erik Perillo (que não está na foto) desenvolveu a renovação das buscas com foco no mundial. “Já fizemos as mudanças pensando em poder replicar isso para outros torneios que funcionam de forma semelhante aos de futebol. Fo desenhado com isso em mente”, conta Berthier. O Brasileirão, por exemplo, deve incorporar as mudanças.
O diretor evidencia, sempre que pode, a importância de posicionar internacionalmente a tecnologia criada em “terra brasilis” - expressão que ele, aliás, usa muito.
No escritório de Belo Horizonte, aproximadamente 70 engenheiros se dedicam a buscas, até por razão histórica, como Berthier frisa (a empresa que ele criou ainda na UFMG era um mecanismo de buscas - o Google enxergou o potencial do algoritmo e fez a oferta. O valor da compra permanece sob sigilo). “Entendemos que havia como melhorar aquilo e levamos para oferecer a ideia para a Califórnia (a sede da empresa fica em Mountain View). Os engenheiros perceberam que o futebol corresponde sozinho à metade das buscas por modalidades esportivas - e isso no mundo todo, não apenas no Brasil. Com a aproximação do Mundial, a janela de oportunidade se abriu. “Eles deram o ok e nós corremos para entregar”. O envolvimento dos engenheiros com o tema sobre é a chave. “É claro que a inquietação que levou à proposta, na verdade, tem a ver com a paixão, né? Você ver pronto, pegar aquilo ali e contar que foi você que fez é muito legal”. (FB)
Gigante em Minas
» O que muda para a Copa
Em vez de apenas o horário e local das partidas (como é hoje) a busca vai levar a painel completo da partida. Enquanto a bola rolar, o placar será atualizado em tempo real, além da incorporação de um lance a lance – em parceria com uma empresa internacional que fornece este serviço.
» E nas eleições
As buscas do Google também foram renovadas para as Eleições 2018. Por meio de parceria com o TSE, a empresa vai prover informações completas sobre todos os candidatos ao pleito, além de perfis dos presidenciáveis, atualizados diretamente pelas equipes de comunicação das campanhas. A apuração das urnas em tempo real, logo na página do Google, é outra novidade.
(*) O jornalista viajou a convite do Google.