São Paulo – No princípio, era o verbo – falado ou escrito no papel. Depois vieram o teclado, o mouse e, por fim, o toque na tela. Os próximos degraus da evolução tecnológica, no entanto, não serão escalados com as mãos. Tudo indica que retornaremos (com toda força) ao verbo. A diferença é que os principais interlocutores, desta vez, são os smartphones, a quem já nos dirigimos oralmente para perguntar se vai chover ou como está o trânsito, por exemplo. Gadgets como a Alexa e o Google Home - caixinhas inteligentes que pedem até pizza sem trejeitos de robô - também tendem a se tornar cada vez mais populares.
O desenvolvimento de soluções e tecnologias voltadas à interface de voz, portanto, é para ontem – e a Google sabe disso. Não por acaso, o enfoque da quarta edição de seu programa de residência é a assistência virtual. Formada por empreendedores de dez startups que oferecem serviços diversos - de delivery a acompanhamento médico - a nova turma passará os próximos seis meses no Google Campus de São Paulo. A ideia é que, imersa em códigos, algoritmos e inovações, os participantes saiam de lá com a “prosa virtual” bem aprimorada.
Vinte e cinco por cento de todas as buscas no Google já são feitas por voz. Até 2020, a expectativa é de que o percentual aumente para 50%
Lauren Pachaly, Head de Marketing do Google Assistente no Brasil
“Nossa realidade, hoje, é a do consumidor ‘empoderado’, ou seja: cada vez mais exigente e impaciente. A assistência é, portanto, a principal oportunidade de crescimento para as empresas de Tecnologia da Informação ”, explica Lauren Pachaly, Head de Marketing do Google Assistente no Brasil. Com 220 milhões de celulares em funcionamento (dados divulgados em abril de 2018 pela FGV-SP), o Brasil é um mercado especialmente profícuo nesse sentido. Números apresentados por Pachaly mostram que somos o terceiro país que mais usa o Google Assistente - aplicativo da gigante americana que conversa com o usuário. O Português é o segundo idioma mais utilizado na interação com o app. “Dados globais apontam ainda que 25% de todas as buscas no Google já são feitas por voz. Até 2020, a expectativa é de que o percentual aumente para 50%”, projeta a executiva.
O principal critério utilizado na seleção das startups foi o potencial de integração de seus produtos e serviços com os comandos de voz. “Mais do que isso, levamos em conta como esses empreendimentos se projetavam dentro dessa nova realidade”, ressalta André Barrence, diretor do Google for Startups no Brasil.
Mineiros bons de prosa
O que queremos agora é que os usuários possam interagir com mais naturalidade, dirigindo-se ao smartphone para fazer perguntas como 'qual a dica de leitura para hoje?'
Guilherme Mendes, CEO da startup 12Min
A empresa mineira 12min está entre os negócios contemplados pelo projeto. Disponível nos sistemas Android e iOS, a plataforma oferece microbooks em áudio sobre desenvolvimento pessoal e negócios, a serem consumidos por, no máximo, 12 minutos. Com cerca de um milhão de usuários ativos, o app nasceu em 2016 elaborando resumos de livros no formato texto. Segundo o CEO Guilherme Mendes, a partir da incorporação do áudio, os textos ficaram, definitivamente, preteridos: 90% do público passou a interagir com o app por meio dos audiobooks. Ele acredita que o mergulho na assistência virtual significará significativa expansão nos horizontes da plataforma.
“Hoje, a grande maioria dos nossos usuários acessa nossos conteúdos por meio de áudio, já que é mais prático. Assim dá para usar o app no carro, a caminho do trabalho, na academia, entre um compromisso e outro. O que queremos agora é que os usuários possam interagir com mais naturalidade, dirigindo-se ao smartphone para fazer perguntas como ‘qual a dica de leitura para hoje?’. Acreditamos que a residência vai nos ajudar a aperfeiçoar essa comunicação, bem como a superar outros desafios”, diz Guilherme Mendes. Em 2019, o jovem empreendedor de 27 anos espera dobrar o público do app, além de oferecer audiobooks também em Inglês e Espanhol.
Outra participante da mineira residência é a EduSim, que aposta no uso de chatbots como potencializadores do aprendizado da língua inglesa. Acelerada pelo programa de desenvolvimento Seed MG, a ferramenta é voltada a estudantes do Ensino Fundamental e Médio e funciona por meio do Whatsapp e Facebook-Messenger. A ideia é permitir a conversação entre professores nativos e alunos, bem como a realização de exercícios interativos.
“Ainda não funcionamos sob comandos de voz, mas acreditamos que a Google, com seus recursos e visibilidade, nos ajudará com o desafio de desenvolver esse potencial, bem como em nossa missão de fortalecer o movimento bilíngue no Brasil”, esclarece o empreendedor Jan Krutzinna.
Na área de saúde, há a startup Memed. O aplicativo de prescrição digital promete melhor interação entre médicos, pacientes e farmácias, com maior comodidade e adesão a tratamentos.
Google for startups
O projeto Google for Startups - antigo Google for entrepreneurs - surgiu há quatro anos, com o objetivo de fomentar o ecossistema de startups mundo afora. A iniciativa conta com cinco campi, situados em Londres, Madrid, Seul, Telavive, Varsóvia e São Paulo. Entre as empresas brasileiras que já passaram pelo programa estão a Smarttbot, a Cuponeria, IDWall, Gupy, Tera, Nama e Social Miner.
"No fim das contas, não temos participação nessas empresas, não investimos recursos financeiros diretos. Mas todas elas fazem parte desse momento de evolução de tecnologia. E se o Google se mantiver relevante dentro da área em que atua, fatalmente, essas startups vão se tornar empresas grandes. Nós então já teremos uma relação estabelecida, que, eventualmente, pode evoluir para uma relação de clientela, ou até mesmo de aquisição”, diz André Barrence, diretor do Google for Startups no Brasil.
Veja a lista dos novos residentes do Google
Plataforma que permite que livros de negócios, carreira e desenvolvimento pessoal sejam resumidos e tenham seu conteúdo consumido por áudio a qualquer momento e de qualquer lugar em apenas alguns minutos.
Assistente digital que ajuda pequenos negócios a conquistar mais clientes, melhorarem a imagem de suas marcas e proporcionar conteúdo de qualidade por meio de redes sociais.
Uma plataforma que permite a criação e gestão de chatbots de atendimento ao consumidor.
Ferramenta que combina interação humana e robôs inteligentes para garantir interação de qualidade e aprendizagem entre professores de inglês e alunos de escolas.
Ferramenta de prescrição digital que conecta médicos, pacientes e farmácias, possibilitando a compra de medicamentos com desconto, com maior comodidade e adesão a tratamentos médicos.
Com planos individuais e empresariais, a N2B oferece cuidados com a saúde por meio programas nutricionais. A solução conta com um chat com nutricionistas, além de um feed que permite que usuários recebam feedback em tempo real sobre suas refeições.
App que permite pedidos e pagamentos antecipados a restaurantes. A solução busca trazer economia e comodidade aos usuários, com organização e planejamento aos estabelecimentos, minimizando desafios gerados em horários de pico de demanda.
Plataforma de conhecimento e produtividade para equipes. A solução se conecta a ferramentas e fluxos de trabalho permitindo fluidez das informações e maior aprendizado de funcionários.
Com chatbots para gestão da saúde populacional, a TNH cria robôs de inteligência artificial que enviam mensagens de texto para ajudar organizações de saúde a conscientizar e engajar populações em larga escala.
Por meio de posts em áudio, a solução oferece uma experiência rápida para consumir conteúdo digital. Para editores e donos de blogs, a ferramenta possibilita aumento de alcance, engajamento e leads.