Imagine voltar de férias, entrar em um táxi e, em seguida, abrir o celular para pedir um delivery. Você está com o aparelho desbloqueado quando alguém o puxa de sua mão. Foi o que aconteceu com o agente de talentos Bruno de Paula, que compartilhou o relato na conta dele do Twitter nesta quinta-feira (5/5).
Ele conta que, nas horas seguintes, foram feitos diversos empréstimos e transferências nos aplicativos do banco, que possuíam reconhecimento facial. Uma compra de seis garrafas de uísque no valor de R$ 329 foi feita pelo app de delivery. De acordo com o jovem, foram gastos mais de R$ 160 mil.
Pessoal: nunca fiz algo assim, mas é o papo mais sério e importante que já postei aqui. Então quem puder dar uma atenção, agradeço de verdade.
%u2014 VanDep (@MrVanDep) May 5, 2022
Passei 3 semanas em Barcelona, a melhor viagem que já fiz.
Antes de eu chegar em casa, minha vida virou um pesadelo sem precedentes.
Ainda segundo o relato, os bancos foram acionados e o valor será restituído.
A publicação dominou as discussões da rede social nesta sexta-feira (6/5), com várias pessoas compartilhando casos parecidos, e outros dando dicas de proteção. O nome do Nubank, um dos bancos envolvidos na história, foi parar nos trending topics.
Falta de bloqueio facilitou ação
De acordo com a especialista em cibersegurança e professora do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, Michele Nogueira Lima, o fato do celular estar desbloqueado facilitou a ação dos assaltantes. “A gente não sabe o que havia no dispositivo de conteúdo pessoal, mas é possível pensar que, com o aparelho desbloqueado, o atacante teve acesso às informações”, afirma.
A especialista explica, ainda, que muitas vezes temos algumas informações no celular que podem favorecer empréstimos, aberturas de contas e outros golpes financeiros. É o caso dos documentos digitalizados, por exemplo.
“Muitas vezes, a gente coloca determinados dados e esquece de apagar. Especialmente hoje em dia, com os documentos digitalizados, como a CNH. Numa situação dessa, facilmente o assaltante pode se passar por ele. Outro aspecto que eu vejo são os aplicativos que têm acesso a diversos serviços, como conta de luz e de água. Com certeza, tinha algum documento que comprovava a residência dele, o que leva aos empréstimos”, explica.
“Nesse caso, é como se ele tivesse esquecido a porta de casa aberta. O principal bloqueio que ele tinha já estava aberto e os demais não estavam muito protegidos”, compara. De acordo com Michele, existe um mecanismo chamado wipe out, que rastrea e apaga todos os dados que estão no dispositivo, desde que o aparelho esteja conectado à internet, que poderia ser útil em situações como a relatada.
Mas ela destaca que a tecnologia ainda não é popularizada e está disponível apenas nos celulares da Apple.
Saiba como se proteger
A professora Michele Nogueira Lima deu algumas dicas para evitar sofrer golpes pelo celular:
Evite ter documentos pessoais digitalizados salvos no dispositivo, bem como comprovantes de residência;
Tenha senha para desbloquear o celular e utilize o fator de autenticação múltipla para acessar aplicativos;
Lembre-se se sempre deslogar de site e aplicativos, seja no browser ou no dispositivo, para dificultar o acesso;
Nunca guarde documentos ou notas no celular com as senhas;
Não utilize a mesma senha em e-mails, bancos e redes sociais;
Use senhas fortes, com pelo menos oito caracteres, que não sejam palavras que constam em dicionários ou que sejam relacionadas à família, como nomes ou datas de aniversário;
Troque as senhas com frequência;
Utilize fator de múltipla autenticação;
Faça cartão de crédito virtual ou digital e coloque um limite baixo, apenas para atender o que você precisa. Em casos de fraudes, é possível bloquear o cartão virtual sem prejuízos para a conta.