Ao entrar no centro de compras nos deparamos com uma infinidade de lojas de artigos do prazer ao lado de lojas de perucas, materiais para festas infantis, barbearias, bijuterias e tantas outras. Impossível não parar diante delas e ver os produtos expostos nas vitrines. Antigamente, raramente se encontravam os chamados sex shops em locais de grande circulação de pessoas. Ficavam em estabelecimentos escondidos em galerias e salas nos prédios comerciais da cidade. Ao passar em frente do Sex Shop 5 Estrelas, observava a vitrine com manequins usando fantasias sensuais quando sou fisgado pela vendedora Iolanda Souza Leite: “Venha conhecer a loja e ver as novidades”. Lá dentro, uma variedade de produtos para esquentar a relação na hora H. E ainda com direito a degustação e teste de alguns deles... como se estivesse numa das lojas da Apple, onde somos convidados a ter uma experiência única com os produtos da marca.
“Os clientes aqui são bem variados. Tanto o público hétero quanto o LGBT entram numa boa em busca de algum produto, seja uma fantasia para a noite ou carnaval. Um gel ou um vibrador. As dançarinas de boates são as minhas maiores clientes. Atendo clientes de 18 (idade mínima para frequentar o local) até 89 anos. Aqui explico cada produto e como ele deve ser usado”, ressalta Iolanda. Escuto de longe outra vendedora do sexy shop, a jovem Letícia Gomes, explicando a uma cliente sobre a linha BDSM, como algemas, chicotes, vendas e alargadores de pernas. “O filme 50 tons de cinza impulsionou as vendas aqui na loja. O que era tabu virou uma forma de prazer. Mesmo que seja pela dor”, finaliza.
Memória viva
Muito perto dali, um andar abaixo, o cabeleireiro Nero Almeida é a memória viva do centro de compras. “Vim pra cá quatro anos após a inauguração, em 1968. Na época, os lojistas somente ocupavam os pisos São Paulo e Curitiba. Os andares superiores estavam completamente vazios. Decidi abrir aqui um salão unissex. Foi um reboliço na época. Homens e mulheres frequentando o mesmo salão de beleza.?” Mesmo com horários diferenciados de atendimento, mulheres na parte da tarde e os homens no horário da noite, as esposas sempre vinham acompanhadas dos maridos. Nero se lembra da escada rolante e os elevadores da Galeria do Ouvidor e como as famílias iam ao local conhecer a novidade. “Era como se fosse um visita ao parque da Disney. Famílias vinham do interior somente para andar na escada rolante como se fosse um brinquedo de um parque de diversão”, conta, morrendo de rir. E finaliza: “Acredito que, com essa variedade de lojas, a Galeria do Ouvidor está cada dia melhor. Todo mundo que vem gosta e prestigia este local no centrão de BH”.
O administrador da Galeria do Ouvidor, Valter Faustino, fala dos vários ciclos econômicos vividos no local nestes 54 anos. “Temos hoje 250 lojas espalhadas em seis pisos. Aqui começou como um polo de roupas de alfaiataria e depois com a produção dos jeans. Depois veio a fase do couro (jaquetas, bolsas, cintos e vestidos). Na década de 1980, foi a vez das lojas que vendiam peças para bijuterias e, em seguida, as de lojas especializadas em artigos para artesãos e embalagens. Nos últimos anos, tivemos uma popularização de relojoarias, e, agora, as casas que vendem perucas (são mais de 30) e os sexy shops. Aqui é o segundo centro de compras de referência em BH. Primeiro é o Mercado Central. Recebemos aqui,
diariamente, entre 40 mil e 45 mil pessoas. No período do Natal temos um ligeiro aumento. Queremos transformar aqui em um local cultural, com eventos de música e teatro. No próximo dia 15, teremos a folia de reis, das 10h30 às 11h. Estão todos convidados!”, finaliza. Então, já sabe: reserve o próximo sábado para conhecer o local e, quem sabe, dar uma espiadinha nas chamadas ‘novidades” nas sex shops espalhadas pelo local.