Todos os dias, quando o sol começa a tocar a linha do horizonte, um ritual inicia-se na Praia do Leão, em Fernando de Noronha. É nessa hora que funcionários e biólogos do Projeto Tamar e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) interditam a conhecida praia, das 18h30 até as 8h, para acompanhar a desova das tartarugas marinhas no local. É durante o período da noite que as tartarugas costumam deixar as águas para cavar seus ninhos na areia. Este importante trabalho tem evitado a extinção da espécie da tartaruga-verde. "Não pode ter visitação porque poderia prejudicar a desova. Um turista andando por aqui poderia assustar uma tartaruga e ela deixaria de desovar. Essas limitações em algumas praias são muito importantes para a conservação da fauna, flora e da tartaruga marinha", explica a bióloga Bruna Canal.
No mês passado, o arquipélago ganhou o noticiário com as críticas de Jair Bolsonaro à taxa federal cobrada na ilha. O presidente alegou que ela seria um “roubo” e, por conta dos valores, poucos visitantes procuram o destino pernambucano.
A consciência ambiental é o que faz do arquipélago, formado por 21 ilhas com praias quase desertas, um santuário intacto no planeta. As regras que impõem restrição ao número de visitantes – apenas 240 pessoas podem pernoitar no arquipélago ao mesmo tempo – ajudam a preservar e garantir a sustentabilidade deste paraíso na costa do estado de Pernambuco, que completa no próximo sábado 516 anos de história.
Desde que virou destino das celebridades, Noronha tem recebido um fluxo maior de turistas. Todos querem viver as mesmas experiências dos famosos. Tanto, que no ano passado, de acordo com ICMBio, aproximadamente 100 mil pessoas turistas visitaram Noronha (o plano de manejo previa 89,7 mil visitantes ao ano). O número recorde deve se manter este ano.
Localizada a 540 quilômetros da capital pernambucana Recife, a ilha de Fernando de Noronha é dividida entre dois mares, o de dentro (entre o Brasil e a ilha) e o de fora (entre a ilha e a África). Quem visita o santuário dispõe de 14 praias paradisíacas, três baías e uma enseada que são cenários naturais de extrema beleza que encantam todos que passam por lá.
Difícil escolher uma preferida para passar mais tempo só nela. O Mar de Dentro – parte da ilha voltada para o Brasil – tem praias de areias claras e mar tranquilo a maior parte do ano. Esse cenário de calmaria muda de dezembro a março, com a chegada de tempestades no hemisfério norte, que refletem ondas enormes no Mar de Dentro, dando início à temporada de surfe na ilha.
Do outro lado da ilha fica o Mar de Fora. De um azul impressionante e com muitas formações rochosas, o mar é agitado pelos ventos vindos da África. Em alguns pontos, os arrecifes protegem e acalmam as águas, possibilitando o banho de mar. É como mergulhar em um aquário infinito. A vida marinha na região é bastante rica, garantindo o sucesso de qualquer mergulho para observar peixes coloridos de diversas espécies, tartarugas, golfinhos e muito mais. Algumas praias também contam com excelentes ondas, atraindo surfistas e esportistas náuticos o ano todo.
História
Considera-se como data oficial do descobrimento de Fernando de Noronha o dia 10 de agosto de 1503, a partir dos registros documentais existentes do navegador e escritor florentino Américo Vespúcio. O arquipélago surgiu há aproximadamente 12 milhões de anos, por meio de uma série de erupções vulcânicas, e foi a primeira capitania hereditária do Brasil. https://www.noronha. com.br/praias.php
Mais turistas para a ilha
Há menos de um mês, o presidente Jair Bolsonaro classificou como "roubo praticado pelo governo federal" a cobrança de ingressos (R$ 106 para turistas brasileiros e R$ 212 para estrangeiros) para visitar o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, no litoral de Pernambuco, realizada desde 2012. Além do ingresso para visitar o parque, os turistas que vão a Noronha desembolsam uma taxa de preservação ambiental, a TPA( cobrada pelo governo pernambucano), que varia de acordo com a quantidade de diárias na ilha. Ela começa em R$ 73,52.
De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, que administra os parques nacionais, cerca de 70% do valor arrecadado pela concessionária é aplicado em melhorias na unidade, como limpeza, manutenção e construção de trilhas e estrutura de acesso e proteção ambiental. O parque abriga espécies ameaçadas de extinção e é patrimônio mundial da humanidade pela Unesco.
Quatro dias após a fala do presidente, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, visitou o arquipélago. No local, ele quis entender como essa taxa é cobrada e qual o destino do dinheiro arrecadado. No mesmo dia, ele teve uma reunião com pescadores. O ministro estuda a possibilidade de rever a proibição da pesca de sardinha em Fernando de Noronha. Para os ilhéus, a pesca não seria prejudicial ao ecossistema e poderia gerar renda para eles. Outro assunto abordado pelo ministro seria a liberação dos voos norturnos. O ICMBio justifica que a iluminação noturna das aeronaves seria prejudicial ao meio ambiente. Ricardo Salles disse estudar todas as demandas e o governo, em breve, teria uma resposta para todos os assuntos pautados na visita à ilha.
Contrapartida Ambientalistas criticam a possibilidade de o presidente extinguir a cobrança do ingresso para visitar Noronha. Para eles, a isenção do valor do ingresso inviabiliza a visitação no arquipélago. O professor do Instituto Oceanográfico da USP e responsável pela cátedra Unesco para sustentabilidade dos oceanos, Alexander Turra, a possível isenção da cobrança de ingresso é uma medida imediatista do governo. “Em um primeiro momento, (a extinção da taxa) pode parecer que traz benefícios, mas a longo prazo traz degradação ao ambiente. A cobrança de taxa é feita para que se tenha uma estrutura apropriada, para que o turismo seja feito de forma qualificada. Esse é o princípio”, disse. De acordo com Turra, o ambiente não suporta mais gente. “A ideia é trabalhar a visitação em função da capacidade de carga (coleta e tratamento de esgoto, coleta de água, coleta de lixo, hospital etc). Tem uma lógica e não se pode romper isso”, explicou.
De acordo com Claudio Maretti, vice-presidente da Comissão Mundial de Áreas Protegidas, com o fim da cobrança do ingresso a qualidade de Fernando de Noronha vai cair. “Fernando de Noronha é um arquipélago com fragilidades muito sérias e um turismo maior vai prejudicar o local. A visitação tem que ser limitada. A concessão à iniciativa privada permite ter estrutura de apoio com muito mais qualidade do que a precária qualidade com orçamento enxuto”, disse Maretti.
Ângela Kuczach, diretora-executiva da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação, discorda da insenção da taxa e vai além: “Uma pessoa não vai deixar de ir a Fernando de Noronha porque ela tem que pagar R$106 de ingresso para entrar no parque. Ao contrário, o fato de você ir até lá, ter acessos de boa qualidade, ter trilhas bem manejadas, ter estrutura, acessibilidade, tudo isso é resultado da concessão”, explicou.
Foco na sustentabilidade
Administração de Noronha fala da importância da taxa de preservação ambiental e comemora a política de Plástico Zero adotada no arquipélago. para 2030, somente carros elétricos poderão circular na ilha
O arquipélago de Fernando de Noronha – santuário de preservação da fauna e da flora terrestre e marinha – aplica aos visitantes a taxa de preservação ambientl (TPA). O tributo cobrado pelo governo de Pernambuco varia de acordo com a quantidade de diárias na ilha. Ele começa em R$ 73,52. De acordo com o administrador de Noronha, Guilherme Rocha, a taxa é fundamental para manter todos os projetos ambientais, manutenção e manejo, ações socioculturais e administrativas do arquipélago. “A taxa constitucional é totalmente revertida para uso na preservação e melhorias em Fernando de Noronha. Com ela, investimos em melhorias no Hospital São Luiz, na creche e escola, além da construção de casas populares aos moradores locais. Sem ela, quebraria a gestão pública”. Sobre a isenção da taxa federal, o administrador observa que o aumento dos visitantes poderá acarretar uma ocupação de forma desordenada. “Nosso foco é cuidar do meio ambiente e das pessoas. A proliferação não controlada de visitantes pode tornar a ilha um lugar insustentável”, finaliza
E para manter a alma de santuário mundialmente reconhecido pelas belezas naturais, Noronha começa a ficar livre do uso de alguns dos materiais que mais poluem o meio ambiente. Em abril deste ano, entrou em vigor o Decreto Distrital 002/2018, que proíbe a entrada de plásticos descartáveis na ilha. A medida, conhecida como Plástico Zero, impede o uso e a comercialização de recipientes e embalagens como garrafas plásticas de bebidas abaixo de 500ml, canudos, copos, talheres descartáveis, sacolas de supermercado, isopor e demais objetos compostos por polietilenos, polipropilenos ou similares.
As normas se aplicam a todos os estabelecimentos e atividades comerciais de Fernando de Noronha, incluindo restaurantes, bares, quiosques, lanchonetes, ambulantes, hotéis e pousadas (cerca de 120), além dos cerca de 5 mil moradores da ilha e os 100 mil turistas esperados neste ano. Pioneira no país, a iniciativa é inspirada na legislação vigente nas Ilhas Seychelles, um paraíso turístico no Oceano Índico.
De acordo com Guilherme Rocha, a proposta é inédita no país por restringir todos os tipos de plásticos poluentes. Não apenas sacolas ou canudos descartáveis. A adesão de todos na ilha ao projeto do Plástico Zero merece ser comemorada. “De abril para maio, recolhemos 350 quilos de plásticos; no mês seguinte, foram apenas 5 quilos. Todos os ilhéus, turistas e comerciantes abraçaram a campanha para preservar ainda mais o meio ambiente.
A comunidade noroense já tem consciência de preservação ambiental. Isso ajudou muito. Devemos a partir de agora repensar os nossos hábitos e fazer as substituições necessárias, porque isso vai refletir em um local ambientalmente correto e, consequentemente, na melhoria da qualidade de vida dos ilhéus. Isso é apenas o começo de uma nova era para o arquipélago, porque a intenção é banir o plástico de uma forma geral na ilha nos próximos anos. Noronha, dessa forma, vai servir de exemplo para muitos outros lugares”, comentou o administrador de Fernando de Noronha.
E esse exemplo já se percebe com a constante procura de prefeituras, de diversas partes do Brasil, que desejam implantar o projeto Plástico Zero em suas cidades. Segundo Guilherme Rocha, “o decreto, que pode ser baixado no site do arquipélago, é uma ação prioritária em consonância com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que não fala apenas em reciclagem e reutilização, mas em descarte ambientalmente adequado de materiais e a substituição por outros recipientes como papel ou vidro ”.
Carbono zero Outra proposta inovadora, em prol da sustentabilidade no arquipélago, será implantada pela administração de Noronha. O projeto Carbono Zero propõe acabar com a emissão de carbono dos veículos automotores. De acordo com Guilherme Rocha, em 2030, somente veículos elétricos vão poder circular na ilha.
Praias desertas e paradisíacas
Arquipélago abriga 14 praias banhadas por águas quentes, de um azul-turquesa e areia branca que impressionam os visitantes, Um convite para o mergulho. Confira as 10
mais conhecidas
Baía dos Porcos
Quando o assunto é a praia mais bonita de Noronha, a Baía dos Porcos é a grande adversária da Baía do Sancho. O local é perfeito para a prática de mergulho com snorkel e observar a riquíssima vida marinha do arquipélago. Cartão-postal de Noronha, o mirante próximo garante a vista sem igual de todo o local.
Praia do Cachorro
Com maior infraestrutura turística da ilha, a Praia do Cachorro está localizada na Vila dos Remédios. Ela é a preferida dos visitantes para se divertir. Nela se encontram as melhores pousadas e boas opções de lazer, como bares e restaurantes. Nela há uma piscina natural formada pelas rochas esculpidas pelas águas, chamada de Buraco do Galego. Um lugar incrível para praticar snorkel e curtir o mar cristalino de Noronha. Na parte alta também estão as ruínas do Parque de Sant'Ana, com uma vista incrível da enseada dos Cachorros.
Praia da Atalaia
Uma das praias dentro da área de proteção ambiental, ela tem rigoroso controle de acesso. Devido à piscina natural que existe na praia, que forma um aquário de vida marinha na maré baixa, ela é berçário de várias espécies. A entrada deve ser programada com antecedência, do contrário poderá não conseguir entrar. O turista também precisa seguir algumas regras antes de se deliciar nas águas de Atalaia, como não usar protetor solar para não contaminar a água e obedecer às orientações do guia local. O mergulho com snorkel é obrigatório nesta visita
Baía do Sancho
A praia mais famosa de Fernando de Noronha também pode ser considerada a melhor do arquipélago. A praia da Baía do Sancho foi eleita pela terceira vez a mais bonita do planeta. A avaliação foi feita pelo site TripAdvisor. Como o acesso por terra é difícil, ela não costuma ficar muito cheia. A vista de cima de quem chega pela trilha no mirante é de tirar o fôlego. Depois de caminhar, o trajeto chega a rochas com uma escada, mas definitivamente o esforço compensa. As águas cristalinas de Noronha ganham ainda mais belezas por lá. Mergulhadores admiram a visibilidade e a diversidade subaquática no local.
Praia do Leão
Conhecida por receber tartarugas marinhas em período de desova, a Praia do Leão é deserta e exige que o turista desça o morro todo a pé para chegar lá. Também belíssima e extensa, chama a atenção pela cor do mar e tem esse nome por conta da formação rochosa que lembra um leão marinho deitado. É a principal do chamado Mar de Fora, a parte do arquipélago voltada para a direção contrária à costa brasileira.
Praia e Mirante do Boldró
E é no Mirante do Boldró que a tradicional foto de Fernando de Noronha fica registrada para sempre! Do alto do rochedo há as ruínas do antigo Forte de São Pedro do Boldró, que garante a vista do Dois Irmãos e do Morro do Pico. Na praia, a piscina natural formada com a maré baixa torna o local um refúgio para os banhistas. É também procurada pelos apreciadores de surfe por conta das boas ondas.
Praia da Conceição
Conhecida como a Praia dos Famosos, a Praia da Conceição é a mais badalada de Fernando de Noronha. Entre novembro e fevereiro, vira point de surfistas. Também é a preferida dos atletas do vôlei e futebol de areia. Por ser uma enseada de águas tranquilas, os praticantes de stand up paddle e canoagem estão sempre presentes, enfeitando a paisagem paradisíaca. O local é perfeito para apreciar o maravilhoso pôr do sol em Fernando de Noronha.
Praia da Cacimba do Padre
Localizada no Mar de Dentro, a Praia da Cacimba do Padre é paraíso dos surfistas. De lá dá para avistar a formação rochosa Dois Irmãos por inteiro, mostrando o outro lado do cartão-postal de Fernando de Noronha. Com mar esverdeado e areias claras, ainda conta com ondas de até 5 metros em alguns dias – para fazer a alegria dos surfistas – e muitas piscinas naturais para toda a família aproveitar com muita tranquilidade!
Baía do Sueste
A Baía do Sueste se destaca pela possibilidade de mergulhar com tartarugas marinhas. O acesso é fácil e existem guias-mergulhadores disponíveis nos quiosques. Como faz parte do parque marinho de Fernando de Noronha, é preciso de ingresso para acessar a praia, mas diferente da Praia de Atalaia, não tem limite diário de visitantes, sendo a preferida para os mergulhos.
Praia do Americano
Pequena e deserta, a Praia do Americano é a menos conhecida do grande público. Fica ao lado da Praia do Boldró e ainda chama a atenção pelo mar bastante azul e cristalino. Antigamente, costumava ser praia de nudismo e, em alguns dias de menor movimento, os adeptos do naturismo se encontram por lá.