Jornal Estado de Minas
PANDEMIA

Fama de negacionista prejudica entrada de brasileiros em outros países

Alguns países começaram a liberar o acesso de turistas brasileiros, mas o Brasil continua sendo, ao lado da África do Sul, o local que mais sofre com restrições severas (como quarentena) na hora de entrar no exterior, devido à pandemia da covid-19. Os dados são da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata, na sigla em inglês).

O infectologista Jonas Brant explica que, apesar do avanço da vacinação no país, a má gestão da pandemia ainda afeta a imagem internacional do Brasil. "Somos vistos como um país que não adotou as medidas mais básicas que a ciência propõe para o enfrentamento da pandemia. Ainda somos vistos como um país negacionista", afirma.

Além disso, os números recentes de casos e mortes por covid-19 continuam altos aos olhos do mundo. "Mantemos, apesar de agora em níveis mais baixos, um número muito grande de casos por dia. Por exemplo, Brasília segue com mais de 500 casos, em média, por dia. O Brasil hoje segue com uma imagem de país que não controlou a pandemia, o que fragiliza nossa imagem internacional", explica o infectologista.

Outro motivo que faz o turista brasileiro ser visto com certa desconfiança é o surgimento de novas cepas no país e na América do Sul em geral. "Isso levou a um fechamento do mundo aos brasileiros, pela preocupação que essa variante (gama) chegasse a outros países.
Também temos a variante lambda, que surgiu no Peru. Então existe esse cenário de que a América do Sul em geral seja um celeiro de novas variantes, o que preocupa muito o mundo", avalia Brant.

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Apesar disso, países do mundo inteiro voltam lentamente a retirar parte de suas restrições aos turistas brasileiros. Nos últimos meses, países como Espanha, Alemanha e França liberaram a entrada de brasileiros totalmente vacinados em seu território. O caso da Alemanha é diferente, o país ainda não aceita a entrada de turistas vacinados pela CoronaVac.

Viagem adiada

A estudante Julia Rossi está entre os brasileiros que tiveram de adiar sua viagem ao exterior na pandemia. A viagem com a família à Alemanha teve de ser postergada, devido à quantidade de voos cancelados para o país durante a pandemia. O embarque foi remarcado para o meio do ano que vem, mas ainda com incerteza se acontecerá ou não. "Eu tomei CoronaVac.
Não estão aceitando essa vacina na Europa, mas estamos esperançosos de que em 2022 isso possa mudar", diz a estudante de 23 anos.

Com cidadania alemã, Rodrigo Fischer não encontrou tantas dificuldades para entrar no país neste mês de agosto. "Eu tive que fazer teste PCR e quarentena obrigatória de cinco dias quando cheguei. Tive que fazer outro teste aqui na Alemanha mesmo." O estudante de 24 anos saiu do país para fazer o mestrado e só tem planos de voltar ao Brasil quando a namorada conseguir emitir a permissão de residência.

Expectativa entre as agências de viagem

Com a reabertura gradativa das fronteiras internacionais e o avanço no cronograma de vacinação dos brasileiros, no entanto, já é possível identificar um aumento na movimentação das agências de viagens, tanto para remarcações quanto cotações e reservas com embarque ainda este ano, com especial concentração no terceiro trimestre.

O crescimento vem sendo verificado desde março, com movimento em elevação de até 28% na procura por viagens com embarque entre os meses de setembro e dezembro, segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav). Os destinos com menos restrições ou que se mantiveram abertos para brasileiros são os favoritos, caso de Dubai, México e Maldivas, por exemplo.

Para o infectologista Jonas Brant, o desafio de diminuir as medidas impostas sobre turistas brasileiros em todo o mundo passa por uma boa relação internacional do Brasil com outros países. "Esse fechamento se deu no momento de surgimento da variante gama e, para que haja essa abertura, há uma necessidade de boas relações internacionais. O país precisa apresentar argumentos com documentos que comprovem que já não há mais justificativas para manter esse fechamento aos ministérios de Relações Exteriores de outros países", afirma o especialista.

"Hoje, o Brasil é visto em diversos fóruns como um país negacionista, que não vem cumprindo acordos internacionais básicos para saúde global, o que fragiliza o estabelecimento de boas relações para a abertura de fronteira de outros países, completa Jonas.

Confira a lista de países com restrições de entrada para brasileiros:

Argentina:
o país não aceita ingresso de turistas, independentemente de sua nacionalidade.

Uruguai:
está com a fronteira fechada para brasileiros por enquanto. No entanto, o presidente Luis Lacalle Pou anunciou em agosto que vai liberar a entrada de turistas vacinados do mundo todo, desde que apresentem teste PCR negativo.

Peru: proibida a entrada de pessoas que venham do Brasil, Índia e África (ou que tenham feito escala nesses países nos últimos 14 dias) pelo menos até 5 de setembro.

Chile:
estrangeiros que não moram no Chile estão proibidos de entrar no país, salvo exceções previstas em lei.

Canadá: o primeiro-ministro, Justin Trudeau, anunciou, em 16 de agosto, que o Canadá vai abrir suas fronteiras para estrangeiros que foram totalmente vacinados (duas doses ou dose única) 14 dias antes do ingresso no país a partir de 7 de setembro. No entanto, a CoronaVac ainda não é aceita pelo governo canadense.

Austrália: como regra geral, todos os turistas estão proibidos de entrar no país no momento.

Nova Zelândia: o país ainda não permite a entrada da maior parte dos turistas estrangeiros

Tailândia: está atualmente com as fronteiras fechadas para turistas brasileiros.
Entrada liberada apenas com quarentena

Equador: brasileiros precisam apresentar um teste negativo PCR feito 72 horas antes do voo e fazer quarentena de 10 dias, independentemente do resultado do exame.

Estados Unidos: grande parte dos turistas brasileiros não tem permissão para entrar no país. A alternativa mais usada é fazer quarentena de 14 dias em um país que não tenha restrição do governo norte americano.

Itália: a maioria dos viajantes que estiveram no Brasil nos últimos 14 dias continuam sem poder ingressar em território italiano.

Reino Unido: vacinado ou não, o brasileiro tem de passar por uma quarentena de 10 dias em hotel antes de poder passar a circular no país. Para entra no país, é necessário um teste negativo feito três dias antes da viagem e passar por mais dois testes de covid-19 durante a quarentena no hotel.

China: viajantes brasileiros precisam apresentar um teste PCR negativo feito 48 horas antes de partir para a China. Lá, eles precisam passar por uma quarentena de 14 dias.

Hong Kong: brasileiros terão de fazer uma quarentena de 21 dias, quando terão de fazer seis testes. O monitoramento continua, mesmo após a quarentena

Barbados: turistas brasileiros têm de passar por uma quarentena de sete dias. No oitavo dia, serão submetidos a um teste para serem liberados para circular.

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