Um trajeto cercado por fazendas antigas, montanhas e ar puro já transmite a exata sensação de paz e tranquilidade que o turista deseja quando se aventura por um simpático povoado de Minas Gerais, destino preferido por muitos visitantes. Situado próximo ao caminho que leva à Serra de São José, em Tiradentes, o pequeno distrito de Bichinho – pertencente desde 1938 ao município de Prados, distante 14 quilômetros, no Campo das Vertentes – é um roteiro para quem quer aliar história, cultura e culinária típica mineira.
Com origem no século 18, o vilarejo na Região Central de Minas surgiu nas primeiras descobertas de ouro por lá, sobretudo em São José del-Rei (atual Tiradentes) e São João del-Rei. O famoso sítio Gritador, ou, segundo a linguagem popular, “Greta D’ouro”, foi o local mais produtivo do mineral, despertando a atenção no período, fato que contribuiu para a expansão do povoado.
Na realidade, Bichinho foi batizado como Vitoriano Veloso, alfaiate, escravo alforriado e único negro a participar ativamente do movimento da Inconfidência Mineira. Não acaso, casas particulares, pousadas e estabelecimentos comerciais convencionaram usar os trincos das portas em formato de tesouras para simbolizar a profissão da figura que dá nome ao local.
O vilarejo se caracteriza pelas concentrações de artesãos. O artesanato de móveis, esculturas de pedra, tapetes, adornos, bordados de pano e pinturas, além da produção de doces, é a principal fonte de arrecadação dos mais de 1 mil habitantes. Ao longo do tempo, porém, o povoado ganhou múltiplas atrações.
Gradativamente, o Bichinho atrai mais visitantes e moradores. Durante os meses de fechamento das atividades com a COVID, o produtor cultural Betho Leão, de 50 anos, deixou Ribeirão Preto-SP, onde morava, para se confinar numa chácara próxima ao pequeno vilarejo. Depois, optou por ficar de vez. Em sociedade com um amigo, montou uma pousada de luxo numa das ruas mais movimentadas, com diárias de R$ 300 a R$ 800. “Me apaixonei por tudo em Bichinho. Estou aqui há um ano e meio e não pretendo sair. É um local com potencial para crescer e tem tudo a ver com o turismo”, afirma.
Quem também apostou alto no povoado é Robson Loureiro, de 45, um dos tantos produtores de doces típicos caseiros. Natural do Rio de Janeiro, está no lugar há três anos. “Estamos conquistando nosso público aos poucos. Vejo que aqui há uma quantidade grande de pessoas, sobretudo aos fins de semana, querendo saborear a culinária mineira”. Dessa maneira, Bichinho vai turbinando suas atividades. O Estado de Minas separou 10 atrações imperdíveis para um fim de semana.
Serra de São José
Os amantes das caminhadas ecológicas contam com um visual exuberante da Serra de São José, que se localiza entre os municípios de São João del-Rei, Tiradentes, Coronel Xavier Chaves, Santa Cruz de Minas e Prados. Nos séculos 18 e 19, foi uma das grandes fontes de extração de ouro em Minas. Há muitas trilhas com boas sinalizações. Outras atrações são as belas cachoeiras no topo do morro. Trekking, pedaladas, cavalgadas e passeios de jipe ou quadriciclo também são comuns.
Casa Torta
Um dos locais mais famosos de Bichinho, a Casa Torta se diferencia por sua arquitetura bucólica. Frequentemente, é possível ver turistas em frente fazendo fotos ou simplesmente admirando o formato fora do habitual. Em seu interior, o local oferece lazer para crianças e adultos, com brinquedos (bambolê, corda, totó, entre outros), além de um café e uma lanchonete.
Oficina de Agosto
Criado pelo artista plástico Antonio Carlos Bech, mais conhecido como Toti, é o espaço adequado para quem gosta de artesanatos típicos. Além da comercialização de peças de decoração, oferece oficinas para ensinar a aproveitar materiais reciclados, dando ênfase à preocupação com o meio ambiente. Também são produzidas pequenas esculturas humanas, mesas, cadeiras, cômodas e armários de cozinha.
Museu do Automóvel
Para quem é apaixonado por carros antigos, é possível mergulhar na história automotiva do Brasil. Fundado em 2006, o local reúne cerca de 90 veículos com modelos entre os anos 1920 e 1980, todos muito bem cuidados e com documentos em dia. É considerado o primeiro museu de carros antigos de Minas Gerais. O empresário Rodrigo Cerqueira, de 40 anos, até aluga parte dos veículos para casamentos, filmes ou novelas de época.
Restaurante da Ângela
Se o turista quer comer bem e barato em Bichinho, o Restaurante Tempero da Ângela é excelente opção. O espaço é simples, rústico e acolhedor, sempre muito movimentado. Não por acaso, em 2009 o estabelecimento foi parar nas páginas do “The New York Times”. O cardápio mineiro reina, tudo no fogão a lenha. E o cliente é sempre muito bem tratado. Dona Ângela e suas assistentes fazem questão de mostrar pratos típicos, como costelinha, feijão-tropeiro, torresmo, frango com quiabo, carne de panela, pernil de porco e mandioca cozida.
Igreja da Penha
A igreja teve sua construção concluída em 1771 e é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Apesar da fachada simples, reúne belíssimas pinturas no estilo rococó em seu interior. A criação é atribuída ao artista mulato Manoel Victor de Jesus, famoso por diversas obras nas demais igrejas da região. As torres foram acrescentadas no início do século 20.
Casa Leão de Gana
É uma pequena construção situada próximo à Igreja da Penha. De propriedade do produtor cultural e empresário Betho Leão, ela teve toda sua cobertura retirada, deixando os tijolos de adobe à mostra. No século 18, a casa pertencia a uma fazenda e era habitada por escravos. Posteriormente, teve uma parte desmanchada e ficou por anos abandonada. Reúne artesanatos variados que remetem à cultura africana.
Galeria Bichinho
Um aconchegante espaço na área central. O núcleo tem restaurante, lojas de queijos e doces, sorveterias. É nele que fica o letreiro de Bichinho, onde turistas gostam de fazer fotos. Reúne adornos antigos, como colunas de madeira do período do Império, relógios, a primeira caixa de Correio do Brasil e a o globo usado no primeiro Rock in Rio (1985). A galeria tem também esculturas de pedra, como a do alfaiate alforriado Vitoriano Veloso (e seu cavalo).
Cachaçaria Mazuma
O projeto de montar uma cachaçaria surgiu em 2017, quando o mineiro Fábio Mattioli se aposentou e decidiu voltar ao estado natal, depois de viver por três décadas em Santa Catarina. O nome escolhido para a aguardente se refere ao jeito linguístico mineiro de falar. Mazuma é o jeitinho carinhoso de se pedir “mais uma”. O visitante conhecerá os processos da produção das cachaças brancas e amarelas, uma das mais tradicionais da região.
Capelas
As diversas capelas religiosas no povoado representam um charme à parte. Abertas durante todo o dia para visitação, elas ganham importância na tradicional celebração da Semana Santa, sobretudo na procissão de dores de Maria. Ao longo do ano, as capelas recebem ornamentos distintos.