Trilhas de história, riquezas naturais e diversão e gastronomia. No início do Século 19, mais precisamente entre 1816 e 1822, o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire esteve no Brasil e percorreu paisagens à época inexploradas na Serra do Espinhaço em Minas Gerais. Agora, o percurso integra projeto turístico que possibilita aos visitantes conhecer todas as belezas e o modo de vida simples da região, se deslocando por trilhas. Nessa volta no tempo, o caminho é feito a pé ou em bicicleta, por trilhas, como há 200 anos, sem “modernidades” como carro.
Batizada como Caminho Saint-Hilaire – CaSHi, a rota tem 170 quilômetros entre Conceição do Mato Dentro e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, marcada por paisagens deslumbrantes, cachoeiras, mirantes e lugares pitorescos que conservam o casario do período colonial.E se encarar a extensão da trilha a pé é uma aventura, o contato com os tudo que está no seu entorno é puro deleite.Na região da Serra do Espinhaço, colocar o pé na estrada é ter diante de si tudo o que a natureza oferece e ainda a oportunidade de conhecer – e experimentar – as potencialidades da gastronomia da região. No destaque, o famoso queijo do Serro, os aromas dos vinhos finos de Diamantina – sim, a terra de Juscelino Kubitschek também produz a bebida extraída da uva, assim como se destaca pela vesperata, seresta e pelos tapetes arraiolos, junto com suas igrejas e outros atrativos que a transformaram em patrimônio cultural da humanidade.
“O projeto Caminho Saint-Hilaire foi planejado para estimular o turismo por meio da conservação da natureza, do patrimônio histórico e cultural da região”, define o turismólogo Luciano Amador Santos Júnior, presidente do Instituto Auguste de Saint-Hilaire. A entidade foi criada para gerir e implementar o projeto homônimo, idealizado por Amador.
O turismólogo explica que a rota é explorada com a formação de grupos de 10 a 15 pessoas que percorrem os 170 quilômetros a pé durante cerca de 10 a 11 dias, com 10 quilômetros de caminhada por dia, em média, e paradas em cachoeiras e outros pontos encantadores, pernoitando em pousadas nas comunidades situadas ao longo do percurso.
Luciano Amador detalha que o roteiro começa em Conceição do Mato Dentro, passando pela Cachoeira do Tabuleiro, a maior queda d água de Minas Gerais, com 176 metros, e terceira mais alta do Brasil, sendo também considerada uma das mais bonitas do país. Ainda no município de Conceição do Mato Dentro, um ponto de visita é o distrito de Córregos, seguindo pela comunidade de Tapera (no mesmo município), até alcançar Itapanhoacanga, distrito de Alvorada de Minas.
Na sequência, integram o “Caminho Saint-Hilaire” as localidades de Mato Grosso e Riacho da Porta – no município do Serro –, a cidade do Serro, Condado, Três Barras, Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras. Por último, os caminhantes passam pelas localidades do Vau, Capão Maravilha e Extração, antigo Curralinho, no município de Diamantina, até chegar à sede urbana da terra de JK.
“O Caminho Saint-Hilaire é um turismo de base comunitária. Queremos levar o viajante a vivenciar os saberes e fazeres, as coisas simples e pitorescas das comunidades, aliadas à apreciação das belezas naturais do Cerrado e dos campos rupestres”, afirma Luciano Amador. Ele salienta que o projeto abrange o trecho da reserva da biosfera da Serra do Espinhaço e interliga dois importantes circuitos turísticos: dos Diamantes e do Parque Nacional da Serra do Cipó. Por essa razão, foi inserido na “Via Liberdade”, rota turística que abrange belezas históricas e culturais de Minas, Goiás, do Distrito Federal do Rio de JaneiroAo percorrer a rota entre Conceição do Mato Dentro e Diamantina, o turista poderá conhecer também a medicina tradicional praticada nos povoados da região, envolvendo as benzedeiras, raizeiros, terapias holísticas e hervanarias (plantas medicinais).
No tocando à culinária, os visitantes podem experimentar a comida caseira feita em fogão a lenha e saborear quitandas e doces. Um destaques do roteiro é a possibilidade de conhecer a gastronomia do Serro, terra de Dona Lucinha – nome de batismo Maria Lúcia Clementino Nunes–, uma das maiores estrelas da cozinha mineira, fundadora da rede de restaurantes com o seu nome, falecida em abril de 2019, aos 86 anos. “O Serro é o berço da culinária mineira”, afirma Luciano Amador, destacando também o famoso queijo artesanal da região, produzido há mais de 300 anos.
O custo, aliás, investimento, por pessoa para trilhar a rota turística na região de Conceição do Mato Dentro, Serro e Diamantina é de cerca de R$ 200 por dia, considerando alimentação e hospedagem. O passeio é planejado e acompanhado por guias, com o atendimento por meio de duas agências de turismo credenciadas.
MOUNTAIN BIKE Além de percorridas a pé, as trilhas do “Caminho Saint-Hilaire” também é opção passeios de bicicletas. O coordenador Luciano Amador explica que o projeto está sendo estruturado para implantação de trilhas voltadas para os praticantes do cicloturismo (mountain bike) e ecoturismo (trekking) com a sinalização rústica da “pegada direcional da trilha”, conforme diretrizes da Rede Brasileira de Trilhas um Programa do Ministério do Turismo, por meio do financiamento de edital da WWF Brasil, Ministério do Meio Ambiente e Instituto Estadual de Florestas de Minas Geris (IEF/MG).O Projeto Caminho Saint-Hilaire conta com apoio da Embaixada da França no Brasil, por meio do seu Consulado em Minas Gerais. Tem ainda a parceria da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), IEF/MG e a Rede Brasileira de Trilha de Longo Curso.
Livro documenta a rota
As belezas naturais e os atrativos históricos e culturais do Caminho Saint-Hilaire estão documentados em um livro – e-book –, disponível gratuitamente no endereço https://caminhosainthilaire.com.br/livro/. Intitulada “Minas Gerais e Orléans – olhares cruzados no caminho Saint-Hilaire”, a obra, organizada por Luciano Amador Santos Júnior, foi dividida em quatro partes.Na primeira parte, o e-book mostra um pouco da vida de Saint-Hilaire na França: sua origem, vocação e a carreira como botânico antes de sua vinda ao Brasil, em 1816. Apresenta a concepção do "Caminho Saint-Hilaire" e seu território, que margeia a Reserva da Biosfera na Serra do Espinhaço Meridional. Na segunda parte, explica Amador, é destacada a importância paisagística e sua biodiversidade e do uso tradicional das plantas medicinais, quando da passagem de Saint-Hilaire pela Serra do Espinhaço.
Na sequência, a terceira etapa do livro descreve as obras do naturalista francês, a riqueza das construções históricas situadas no “caminho”, como a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Conceição do Mato Dentro; e a igrejinha de Nossa Senhora do Rosário, de Milho Verde. São abordados ainda aspectos da cultura gastronômica, com destaque para os vinhos e queijos produzidos na região histórica. O livro faz também referências a duas fortes mulheres que ganharam famosas: “Donzela de Orléans”, Joana d'Arc; e a “Rainha do Tijuco, Chica da Silva. Com o título “Caminho Saint-Hilaire, a quarta parte do livro apresenta detalhes dos principais atrativos das 12 comunidades situadas na rota turística e histórica, chamando atenção para os costumes dos moradores e para a medicina tradicional. (LR)
Serviço:Caminho Saint-Hilaire
Para agendar passeios
– Agência Sertão Espinhaço (Sertaoespinhaço@gmail.com) – tel. (38) 99941- 0044 e Agência Caiporas Turismo – (38) 99994-0450
Onde ficar
– Pousada do Garimpo (www.pousadadogarimpo.com.br), telefone (38) 3531 2782– Pousada Reliquias do Tempo (www.pousadareliquiasdotempo.com.br, telefone (38) 3531 1267
Onde comer
– Restaurante Angu Duro, em Milho Verde, telefone (38) 98828-2322
Onde comprar
Artesanato: Treliça Artesanato – Rua Macau do Meio, 238, DiamantinaPlanta medicinais: Ervanaria Marcos Guião (www.ervnariamarcosguiao.com) – São Gonçalo do Rio das Pedras – (38) 98823-6119
Mais informações
www.caminhosainthilaire.com.br (sobre o caminho)https://caminhosainthilaire.com.br/livro/ (sobre o e-book)
Saiba mais - Caminhada com ciência
Auguste de Saint-Hilaire (1779/1853) foi um botânico e naturalista francês. Ele integrou os primeiros grupos de cientistas, vindos da Europa, que realizaram pesquisas e explorações no Brasil entre 1816 e 1822, após a chegada do Rei Dom João VI ao país, no período colonial. Quando retornou à Europa, levou uma coleção de cerca de 30 mil espécies, das quais em torno de 6 mil a 7 mil eram de plantas. Milhares de espécies foram descritas por ele nos três volumes da obra Flora Brasiliae Meridionalis, ligando seu nome de maneira definitiva à flora nativa brasileira. Saint-Hilaire conseguiu captar e descrever não somente a botânica, mas também aspectos geológicos, geográficos, zoológicos, históricos, culturais e sociais do Brasil Colônia. Assim, reuniu um vasto acervo de informações sobre sua viagem de múltiplas paisagens de grande parte do território brasileiro no período colonial.
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