Jornal Estado de Minas
TURISMO

Semana Santa: o mundo com os olhos voltados para Jerusalém


Jerusalém – Conhecer a cidade sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos concretiza, certamente, o sonho de grande parte da humanidade. Melhor ainda se a viagem ocorrer na semana santa, quando a história da Paixão de Cristo aumenta a peregrinação a Jerusalém e leva milhares de pessoas à Via Dolorosa, à Igreja do Santo Sepulcro e a outros locais milenares da fé.

Na Cidade Velha, cercada de muralhas, há também comidas típicas, bom artesanato e uma atmosfera que parece abrir as portas da percepção e conduzir o visitante a outro tempo. Então, com o coração lá nas alturas, convidamos você a passear “agora” por Jerusalém e fazer suas descobertas à luz da emoção.

Do alto do Monte das Oliveiras, numa manhã ensolarada e quente, vejo a Cidade Velha cercada de muralhas, me lanço aos seus milhares de anos de história e respiro os ares de uma paisagem que se aproxima dos tons das areias do deserto. Solo sagrado para as três maiores religiões monoteístas do mundo e um dos principais lugares de visitação da Terra Santa, Jerusalém transmite força espiritual, louva a cultura e, principalmente, indica os caminhos das crenças.

Do alto do Monte das Oliveiras, a vista da Cidade Velha de Jerusalém - Foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS

Impossível não se emocionar na Via Dolorosa, caminho que Jesus percorreu carregando sua cruz, ficar em silêncio diante das pedras do Muro das Lamentações ou simplesmente contemplar a paisagem, tomando um café na calçada e olhando o vaivém de turistas do mundo inteiro.

E há gente de todo canto mesmo, com vários idiomas convergindo e seguindo a força da cultura. Conforme dados do Ministério do Turismo de Israel, em 2019, portanto, antes da explosão do coronavírus, os números bateram recorde: foram 4,5 milhões de visitantes entre janeiro e dezembro – em comparação a 2018, crescimento de 11%.

Mineiros marcam presença, principalmente em grandes grupos comandados por guias religiosos ou leigos e, com antecedência, muitos agendam a próxima viagem. Momento, então, de se programar. O Brasil está entre os mercados em ascensão, sendo o principal país latino-americano em entrada de turistas. Em 2019, cerca de 82,1 mil brasileiros visitaram o país (5,1 mil só em dezembro), 31% a mais do que em 2018.

Entrada do Muro das Lamentações, onde há um esquema rigoroso de fiscalização - Foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS

PÉ NO CHÃO Mas vamos deixar de lado as asas da imaginação, da vontade de voar rumo ao Oriente Médio, e pousar na terra, na Terra Santa, chamada assim pelos cristãos, pois é Israel para os judeus e Palestina para muçulmanos e árabes.
Ainda lá do alto do Monte das Oliveiras, tenha calma ao admirar a cidade com seus oito portões – aguce os sentidos e aproveite cada instante dessa visão espetacular.

Só para lembrar: foi no Monte das Oliveiras que Jesus passou mais tempo durante sua missão em Jerusalém, que é chamada Dourada, Cidade da Paz, Cidade de Davi, Sião e Zion. Do monte, com vista para o templo, Ele ensinou a seus discípulos, profetizou a destruição de Jerusalém, chorou por seu destino e foi traído. Eis algumas citações bíblicas: “Se eu me esquecer de ti, Jerusalém, seja entregue ao esquecimento a minha mão direita” (Salmos 137:5) e “Seu monte é colina formosa, a exultação de toda a terra, o Monte Sião nas alturas do Norte, é a cidade do grande rei” (Salmos 48:3). E mais: “Assim disse o Senhor Deus: Esta é Jerusalém! Eu a estabeleci no centro das nações, rodeada de terras estrangeiras”. (Ezequiel 5:5).

Caminho florido em direção ao Jardim das Oliveiras, local onde ocorreu a prisão de Jesus - Foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS

Para quem já leu a “Bíblia” ou simplesmente para quem gosta de “se sentir” dentro da história, Jerusalém significa um livro de ensinamentos, de trilhas para reflexão e vias ligadas a todos os sentidos. E espetáculos: brilha ao sol da manhã a cúpula dourada do Domo da Rocha, construção do século 7 sagrada para o islã e parte do conjunto reconhecido como patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Também chamado Cúpula da Rocha, o santuário abriga histórias: teria sido ali o altar de sacrifícios usado por Abraão, Jacó e outros profetas, os quais introduziram o ritual nos cultos judaicos.

E há mais: os reis Davi e Salomão também consideraram o local sagrado.
Mais tarde, foi a vez de a construção ganhar importância na fé islâmica, que leva em conta o ponto de partida da Al Miraaj (viagem aos céus feita pelo profeta Maomé). Segundo a tradição judaica, nessa rocha, Abraão preparara o sacrifício do seu filho, Isaac, a Deus e, mil anos antes de Cristo, o rei Salomão construíra o primeiro templo.

Comida e arte


Passear em cidade tão especial faz bem ao corpo e à alma. E, dos viajantes experientes, vale sempre uma dica: ainda que esteja um calor intenso de dia, à noite pode esfriar – e isso ocorreu com o repórter, que chegou despreparado à cidade (a mala foi extraviada) e enfrentou o vento gelado. Mas nada que o entusiasmo não resolvesse. Afinal, estamos em Jerusalém (uma das palavras mais bonitas que conheço) e ouvir o suave shalom, saudação judaica com significado de paz, aquece o coração.

Impossível não se emocionar na Via Dolorosa, onde Jesus carregou sua cruz - Foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS

Durante os passeios, o viajante encontrará muitas barraquinhas vendendo tâmaras (deliciosas), romãs, laranjas. Há também muitos tipos de pão, doces, bebidas, temperos. Ao longo da Via Dolorosa, com seu comércio movimentado, encontram-se opções de “lembrancinhas” para familiares e amigos que ficaram no Brasil. É preciso estar bem alimentado e hidratado, pois as filas são inevitáveis em alguns pontos de visitação, como a Igreja do Santo Sepulcro.

Um roteiro para conhecer a cidade deve incluir, além dos locais sagrados da Cidade Velha, o Santuário do Livro, no Museu de Israel, onde estão expostos os pergaminhos do Mar Morto, e o Museu do Holocausto, com a memória do flagelo dos judeus durante o nazismo.
A 142 quilômetros de Jerusalém, muitos incluem na visita Belém, especialmente a Basílica da Natividade, onde Jesus nasceu.

Não perca

» Monte das Oliveiras: O nome decorre das oliveiras que antigamente cobriam as encostas. Dá vista magnífica para a Cidade Velha. Foi lá que Jesus passou mais tempo durante a missão em Jerusalém

» Getsemani: O Jardim das Oliveiras fica no sopé do Monte das Oliveiras, por um caminho florido. Nesse local ocorreu a prisão de Jesus. Há oliveiras milenares, algumas da época de Jesus

» Via Dolorosa: A via-crúcis tem marcadas as 14 estações onde ocorreu a flagelação de Jesus. O caminho tem lojas e grande movimento

» Igreja do Santo Sepulcro: Sagrado para os cristãos, o templo marca o lugar onde Cristo foi crucificado, sepultado e onde ressuscitou. Logo na entrada está a Pedra da Unção. Há filas enormes, então, é preciso paciência

» Muro das Lamentações: Há rigoroso esquema de segurança para entrar. Homens devem usar quipá (proteção para a cabeça), sendo oferecido um de papel aos não judeus

» Domo ou Cúpula da Rocha: A construção do século 7 fica na Esplanada das Mesquitas e é parte do conjunto reconhecido como patrimônio mundial. Teria sido ali o altar de sacrifícios usado por Abraão, Jacó e outros profetas, os quais introduziram o ritual nos cultos judaicos.
Os muçulmanos apontam este lugar como o de partida de Maomé aos céus

» Tumba do Jardim: Fica nas proximidades do Portão de Damasco. Protestantes acreditam que Jesus está sepultado nesse local, que tem perto uma cisterna

» Museu do Holocausto: Fora da Cidade Velha, mostra os horrores sofridos pelos judeus durante o nazismo, especialmente na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

» Museu de Israel/Santuário do Livro: Guarda os manuscritos do Mar Morto (passagens do Antigo Testamento), encontrados por beduínos em 1946 nas cavernas de Qumran, na região do Mar Morto


Sempre atento

» Antes de viajar, consulte autoridades sobre comprovante de vacinação contra COVID-19

» Segurança é rigorosa. No aeroporto, tenha em mãos dados sobre o hotel e outros documentos que o identifiquem como turista

» Nos lugares de maior visitação, como museus e o Muro das Lamentações, há muitos policiais, equipamentos de raios X e revista

» Em muitas igrejas, mesquitas e sinagogas, mulheres não podem entrar com os ombros de fora ou sem cobrir a cabeça, muito menos de saia curta. Já homens devem usar o quipá, mas muitos lugares emprestam peças até de papel

» Há muitas ruas de pedra na Terra Santa, algumas de piso escorregadio. Portanto, use calçados confortáveis, mas preferencialmente sem sola lisa

» No verão, sol escaldante, com temperatura ultrapassando os 40ºC

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