Jerusalém – Conhecer a cidade sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos concretiza, certamente, o sonho de grande parte da humanidade. Melhor ainda se a viagem ocorrer na semana santa, quando a história da Paixão de Cristo aumenta a peregrinação a Jerusalém e leva milhares de pessoas à Via Dolorosa, à Igreja do Santo Sepulcro e a outros locais milenares da fé.
Na Cidade Velha, cercada de muralhas, há também comidas típicas, bom artesanato e uma atmosfera que parece abrir as portas da percepção e conduzir o visitante a outro tempo. Então, com o coração lá nas alturas, convidamos você a passear “agora” por Jerusalém e fazer suas descobertas à luz da emoção.
Do alto do Monte das Oliveiras, numa manhã ensolarada e quente, vejo a Cidade Velha cercada de muralhas, me lanço aos seus milhares de anos de história e respiro os ares de uma paisagem que se aproxima dos tons das areias do deserto. Solo sagrado para as três maiores religiões monoteístas do mundo e um dos principais lugares de visitação da Terra Santa, Jerusalém transmite força espiritual, louva a cultura e, principalmente, indica os caminhos das crenças.
Impossível não se emocionar na Via Dolorosa, caminho que Jesus percorreu carregando sua cruz, ficar em silêncio diante das pedras do Muro das Lamentações ou simplesmente contemplar a paisagem, tomando um café na calçada e olhando o vaivém de turistas do mundo inteiro.
E há gente de todo canto mesmo, com vários idiomas convergindo e seguindo a força da cultura. Conforme dados do Ministério do Turismo de Israel, em 2019, portanto, antes da explosão do coronavírus, os números bateram recorde: foram 4,5 milhões de visitantes entre janeiro e dezembro – em comparação a 2018, crescimento de 11%.
Mineiros marcam presença, principalmente em grandes grupos comandados por guias religiosos ou leigos e, com antecedência, muitos agendam a próxima viagem. Momento, então, de se programar. O Brasil está entre os mercados em ascensão, sendo o principal país latino-americano em entrada de turistas. Em 2019, cerca de 82,1 mil brasileiros visitaram o país (5,1 mil só em dezembro), 31% a mais do que em 2018.
PÉ NO CHÃO Mas vamos deixar de lado as asas da imaginação, da vontade de voar rumo ao Oriente Médio, e pousar na terra, na Terra Santa, chamada assim pelos cristãos, pois é Israel para os judeus e Palestina para muçulmanos e árabes. Ainda lá do alto do Monte das Oliveiras, tenha calma ao admirar a cidade com seus oito portões – aguce os sentidos e aproveite cada instante dessa visão espetacular.
Só para lembrar: foi no Monte das Oliveiras que Jesus passou mais tempo durante sua missão em Jerusalém, que é chamada Dourada, Cidade da Paz, Cidade de Davi, Sião e Zion. Do monte, com vista para o templo, Ele ensinou a seus discípulos, profetizou a destruição de Jerusalém, chorou por seu destino e foi traído. Eis algumas citações bíblicas: “Se eu me esquecer de ti, Jerusalém, seja entregue ao esquecimento a minha mão direita” (Salmos 137:5) e “Seu monte é colina formosa, a exultação de toda a terra, o Monte Sião nas alturas do Norte, é a cidade do grande rei” (Salmos 48:3). E mais: “Assim disse o Senhor Deus: Esta é Jerusalém! Eu a estabeleci no centro das nações, rodeada de terras estrangeiras”. (Ezequiel 5:5).
Para quem já leu a “Bíblia” ou simplesmente para quem gosta de “se sentir” dentro da história, Jerusalém significa um livro de ensinamentos, de trilhas para reflexão e vias ligadas a todos os sentidos. E espetáculos: brilha ao sol da manhã a cúpula dourada do Domo da Rocha, construção do século 7 sagrada para o islã e parte do conjunto reconhecido como patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Também chamado Cúpula da Rocha, o santuário abriga histórias: teria sido ali o altar de sacrifícios usado por Abraão, Jacó e outros profetas, os quais introduziram o ritual nos cultos judaicos.
E há mais: os reis Davi e Salomão também consideraram o local sagrado. Mais tarde, foi a vez de a construção ganhar importância na fé islâmica, que leva em conta o ponto de partida da Al Miraaj (viagem aos céus feita pelo profeta Maomé). Segundo a tradição judaica, nessa rocha, Abraão preparara o sacrifício do seu filho, Isaac, a Deus e, mil anos antes de Cristo, o rei Salomão construíra o primeiro templo.
Comida e arte
Passear em cidade tão especial faz bem ao corpo e à alma. E, dos viajantes experientes, vale sempre uma dica: ainda que esteja um calor intenso de dia, à noite pode esfriar – e isso ocorreu com o repórter, que chegou despreparado à cidade (a mala foi extraviada) e enfrentou o vento gelado. Mas nada que o entusiasmo não resolvesse. Afinal, estamos em Jerusalém (uma das palavras mais bonitas que conheço) e ouvir o suave shalom, saudação judaica com significado de paz, aquece o coração.
Durante os passeios, o viajante encontrará muitas barraquinhas vendendo tâmaras (deliciosas), romãs, laranjas. Há também muitos tipos de pão, doces, bebidas, temperos. Ao longo da Via Dolorosa, com seu comércio movimentado, encontram-se opções de “lembrancinhas” para familiares e amigos que ficaram no Brasil. É preciso estar bem alimentado e hidratado, pois as filas são inevitáveis em alguns pontos de visitação, como a Igreja do Santo Sepulcro.
Um roteiro para conhecer a cidade deve incluir, além dos locais sagrados da Cidade Velha, o Santuário do Livro, no Museu de Israel, onde estão expostos os pergaminhos do Mar Morto, e o Museu do Holocausto, com a memória do flagelo dos judeus durante o nazismo. A 142 quilômetros de Jerusalém, muitos incluem na visita Belém, especialmente a Basílica da Natividade, onde Jesus nasceu.Não perca
» Monte das Oliveiras: O nome decorre das oliveiras que antigamente cobriam as encostas. Dá vista magnífica para a Cidade Velha. Foi lá que Jesus passou mais tempo durante a missão em Jerusalém
» Getsemani: O Jardim das Oliveiras fica no sopé do Monte das Oliveiras, por um caminho florido. Nesse local ocorreu a prisão de Jesus. Há oliveiras milenares, algumas da época de Jesus
» Via Dolorosa: A via-crúcis tem marcadas as 14 estações onde ocorreu a flagelação de Jesus. O caminho tem lojas e grande movimento
» Igreja do Santo Sepulcro: Sagrado para os cristãos, o templo marca o lugar onde Cristo foi crucificado, sepultado e onde ressuscitou. Logo na entrada está a Pedra da Unção. Há filas enormes, então, é preciso paciência
» Muro das Lamentações: Há rigoroso esquema de segurança para entrar. Homens devem usar quipá (proteção para a cabeça), sendo oferecido um de papel aos não judeus
» Domo ou Cúpula da Rocha: A construção do século 7 fica na Esplanada das Mesquitas e é parte do conjunto reconhecido como patrimônio mundial. Teria sido ali o altar de sacrifícios usado por Abraão, Jacó e outros profetas, os quais introduziram o ritual nos cultos judaicos. Os muçulmanos apontam este lugar como o de partida de Maomé aos céus
» Tumba do Jardim: Fica nas proximidades do Portão de Damasco. Protestantes acreditam que Jesus está sepultado nesse local, que tem perto uma cisterna
» Museu do Holocausto: Fora da Cidade Velha, mostra os horrores sofridos pelos judeus durante o nazismo, especialmente na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
» Museu de Israel/Santuário do Livro: Guarda os manuscritos do Mar Morto (passagens do Antigo Testamento), encontrados por beduínos em 1946 nas cavernas de Qumran, na região do Mar Morto
Sempre atento
» Antes de viajar, consulte autoridades sobre comprovante de vacinação contra COVID-19
» Segurança é rigorosa. No aeroporto, tenha em mãos dados sobre o hotel e outros documentos que o identifiquem como turista
» Nos lugares de maior visitação, como museus e o Muro das Lamentações, há muitos policiais, equipamentos de raios X e revista
» Em muitas igrejas, mesquitas e sinagogas, mulheres não podem entrar com os ombros de fora ou sem cobrir a cabeça, muito menos de saia curta. Já homens devem usar o quipá, mas muitos lugares emprestam peças até de papel
» Há muitas ruas de pedra na Terra Santa, algumas de piso escorregadio. Portanto, use calçados confortáveis, mas preferencialmente sem sola lisa
» No verão, sol escaldante, com temperatura ultrapassando os 40ºC