Paraty (RJ) – A comunhão harmoniosa de mata atlântica, patrimônio cultural e águas oceânicas faz de Paraty muito mais do que “um lugar gostoso de passear”, como diz mineiramente. Na cidade fundada no século 17 e um dos polos da Estrada Real – chamada nestes lados de Caminho do Ouro, por onde eram transportadas, nos tempos coloniais, as riquezas minerais das Gerais para a corte portuguesa –, a história em meio à natureza exuberante conduz o visitante, lentamente, à descoberta de praias, trilhas, ruas de pedra, recantos para descansar e personagens que tornam a cidade sempre apaixonante.
Para quem está de viagem marcada, é bom saber da boa atração no próximo fim de semana: o festival de jazz (Bourbon Festival Paraty), de 20 a 22, com shows grátis ao ar livre. Já a partir de 27 de maio até 5 de junho, tem a Festa do Divino Espírito Santo, unindo moradores das regiões rural e costeira em procissões e outras celebrações. “O outono, principalmente em maio e junho, com o tempo mais seco, é uma época excelente para visitar a cidade, ainda mais com tantas atrações”, diz a guia de turismo Sibele Wizentier, paulista residente há 29 anos no município.
Para novembro (23 a 27), está agendada a 20ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que movimenta a cidade e eleva a temperatura cultural na região. Nunca é demais escrever que, em Paraty, nasceu Júlia da Silva Bruhns Mann (1851-1923), mãe do escritor alemão Thomas Mann (1875-1955), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1929 e considerado um dos maiores autores da língua germânica. Numa marina particular, ainda está de pé o casarão onde Júlia passou a infância até se mudar definitivamente para a Alemanha. No próximo ano, será celebrado o centenário de morte de Júlia e são esperadas homenagens à sua memória.
Reconhecida como patrimônio mundial, em 2019, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na categoria sítio misto, que inclui o Centro Histórico e a reserva de mata atlântica da região da Baía da Ilha Grande, a cidade do litoral fluminense tem estilo “passeio completo”: oferece calma para quem precisa “dar uma parada”, com passeios de barco e banhos de cachoeira para mandar o estresse para bem longe; cultura, com a visita a prédios centenários bem preservados; comida boa nos restaurantes; e um pouco de gandaia, já que Paraty, que se tornou sinônimo de aguardente, sempre foi lugar famoso pelos seus alambiques. Tem até a canção famosa “Camisa listrada”, de Assis Valente, com o verso: “Em vez de tomar chá com torrada, ele bebeu parati...” Em 2017, Paraty recebeu, também da Unesco, o título de Cidade Criativa pela gastronomia, em função da cadeia produtiva nesse setor.
TERRA E MAR
“Paraty chegou a ter mais de 100 engenhos de cana-de-açúcar. Hoje, há poucos, embora com oferta de produtos de qualidade”, conta o filho da terra e estudioso da história local Diuner Mello. Apaixonado por Paraty, Diuner sabe muito sobre a região e seus nativos. “Somos caiçaras, mistura de branco com o índio, com um linguajar próprio.”
Quando alguém elogia a beleza da região na qual as matas se debruçam sobre o mar, Diuner agradece e explica que, no dia a dia, os habitantes nem se dão muito conta do patrimônio admirado por brasileiros e estrangeiros. “Um turista francês uma vez me falou assim: ‘A gente, aqui, está dentro da água e com uma árvore sobre a cabeça’. Achei interessante a forma como veem nossa região”, diz o homem nascido e criado no Centro Histórico.
As cidades litorâneas têm seus encantos, características e muitos mistérios. Quem caminha pelo Centro Histórico, fechado com correntes para impedir o trânsito de veículos, vai ver algumas partes do calçamento alagadas pelo mar. A culpa é da maré alta. “Se é lua cheia, sobe mais; na lua nova, menos. Somos um povo lunático”, brinca o historiador. Diuner conta que o calçamento de Paraty se assemelha ao da cidade de Tomar, em Portugal pelo centro da rua rebaixado, uso de pedras retangulares e inclinação nas laterais. “No Centro Histórico, as ruas horizontais se ligam aos rios, enquanto as verticais, ao mar”, conta, lamentando que, ao longo dos anos, Paraty perdeu muitos casarões – “eram mais de 200, hoje são 30”.
RUMO A TRINDADE
As praias urbanas não são convidativas por estarem localizadas no fundo da baía, com muito lodo pegando no pé do banhista, mas, dependendo da necessidade, resolvem a vida de quem não pode ir muito longe. A dica dos conhecedores é Trindade, onde há várias praias, distante 30 quilômetros do trevo da cidade e localizada dentro da Área de Proteção Ambiental do Cairuçu e do Parque Nacional da Serra da Bocaina.
Para chegar a Trindade, o indicado é ir de carro. O estilo é rústico, com opções de hospedagem, compras de artesanato e gastronomia. Tem diversão para todo mundo, conforme a dica da guia Sibele: Praia do Cepilho, com onda boa para os surfistas; Praia dos Ranchos, oferecendo quiosques; e a Praia do Meio, de onde o turista pode seguir caminhando por um trilha ou pegar um barco até a Piscina do Cachadaço, considerada um pequeno pedaço do paraíso.
HiSTÓRIA E ARTE
Paraty é assim: azul do mar, verde das matas e as cores que vão tingindo as ruas dependendo do olhar. Ou do estado de espírito – impossível não ficar em alto-astral. Tem o vermelho das janelas de um sobrado, o verde de um portão, o tom do tempo nos telhados, o dourado da luz de outono infiltrado nas árvores.
Com tantos atrativos, nada como mergulhar na história. A cidade foi fundada em 1667, em torno da Igreja Nossa Senhora dos Remédios, padroeira local. No século 18, destacou-se como importante porto por onde embarcavam, para Portugal, o ouro e as pedras preciosas de Minas. Mais tarde, a abertura do Caminho Novo da Estrada Real, desembocando diretamente no Rio de Janeiro, levou a cidade a um isolamento econômico.
Com o tempo, o turismo cresceu e apareceu. Após a abertura da Estrada Paraty-Cunha (SP), e, principalmente, com a construção da rodovia Rio (RJ)-Santos (SP) na década de 1970, Paraty se tornou polo de turismo nacional e internacional, devido ao seu bom estado de conservação e graças às belezas naturais.
Na região, encontram-se o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a Área de Proteção Ambiental do Cairuçu, onde fica Trindade, a Reserva da Joatinga, e ainda o limite com o Parque Estadual da Serra do Mar.
Para todos
os gostos
1) Ainda dá tempo
20, 21 e 22 de maio
Bourbon Festival Paraty 2022, com shows grátis ao ar livre
2) Vai com calma
De 27 de maio a 5 de junho
Festa do Divino Espírito Santo, com muitas tradições das regiões rural e costeira
3) Para programar
De 23 a 27 de novembro
20ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip)
Passeios em
três dimensões
No Centro Histórico
Conheça mais sobre a cidade com a visita guiada em português e outros idiomas. A Associação de Guias de Turismo e Turismólogos de Paraty (Piratii) oferece saídas diárias às 9h30 e às 16h30. Caminhada aproximadamente de 1h30min, a R$ 35 por pessoa. O ponto de encontro é na Praça do Chafariz. Mais informações: piratiiturismo.blogspot.com ou instagram.com/paratywalkingtours
Não deixe de visitar a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, protetora de Paraty, tirar fotos diante da Igreja Nossa Senhora das Dores, à beira-mar, ir às galerias de arte (pinturas, ceramistas e outros), curtir os bares e restaurantes e conhecer o Teatro de Bonecos, na Rua Dona Geralda.
Na mata atlântica
Percorrer parte do Caminho do Ouro, nome local para a Estrada Real, que tem dois quilômetros de calçamento original. Há um passeio com quase quatro horas de duração, incluindo o traslado. Há opção de transporte por jipe, passeio em cachoeiras e alambiques.
No mar
O passeio às praias de Trindade vale a viagem. No roteiro, Praia do Cepilho, com onda boa para os surfistas; Praia dos Ranchos, oferecendo quiosques; e a Praia do Meio, de onde o turista pode seguir caminhando por um trilha ou pegar um barco até a Piscina do Cachadaço.