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Estado de Minas Natureza e arqueologia

Serra da Capivara, um tesouro na caatinga "mais perto'

Formações rochosas colossais e o maior conjunto de pinturas rupestres do mundo integram parque nacional no Piauí, que entra em rota de voo comercial em dezembro


02/08/2022 04:00 - atualizado 01/08/2022 23:24

Pedra Furada
Beleza natural dos paredões, como a Pedra Furada, símbolo do parque, estão entre as atrações (foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS)
 
São Raimundo Nonato (PI) – As últimas cores outonais pontuam os caminhos na caatinga, tingindo de ocre, cinza, branco e vermelho a vegetação desse bioma único no mundo e presente na região do semiárido brasileiro, de forma especial no Nordeste. Nesses movimentos que a natureza faz e o homem parece copiar há milênios, os tons da terra são encontrados também, magnificamente, nos paredões e grutas da Serra da Capivara, o colossal conjunto de formações rochosas que atrai os olhares maravilhados de visitantes de todo canto. As pinturas rupestres, registro gráfico daqueles que viveram há mais de 10 mil anos, não só encantam como transportam homens e mulheres para a pré-história com escalas espetaculares nas cenas de dança, caça, luta, animais e contatos íntimos, como um possível um beijo.
 
Vamos, portanto, no embarque imediato em direção a um diamante bruto de múltiplas facetas, incrustado em cidades onde vivem pessoas espontâneas e acolhedoras, dispostas a trazer, à luz do sol ou das estrelas, histórias surpreendentes, e que se sentem extremamente gratas quando o turista diz ter gostado do lugar. “Comentários assim nos deixam bem satisfeitos”, diz o taxista José Dias de Santana, o seu Deto, de 70 anos, apaixonado pela terra natal e pronto para fazer “as vontades” dos visitantes, o que se traduz em conduzi-los aos pontos turísticos, sem pressa, falar dos atrativos e mostrar suas descobertas. “Não sou guia, mas sei muito daqui”, orgulha-se.
 
Antes de iniciarmos a viagem, uma boa notícia. A partir de 15 de dezembro, começa a operar comercialmente o Aeroporto Internacional de São Raimundo Nonato, que fica a 9,4 quilômetros do Centro da cidade. De acordo com a Empresa de Administração Aeroportuária (Esaero), contratada pelo governo do Piauí, por licitação, para administração do aeroporto nos próximos quatro anos, serão dois voos semanais, da Azul, procedentes de Petrolina e Recife (PE). A expectativa é grande na região, pois a operação abre caminho para maior fluxo turístico e cria oportunidades de trabalho. “Estamos esperançosos”, diz um estudante de arqueologia. Atualmente, o indicado é ir de avião até Petrolina (distante 300 quilômetros de São Raimundo Nonato) e depois pegar um ônibus, táxi ou van. Da capital Teresina até o local são 521,9 quilômetros, tornando-se inviável essa rota.
 
Desenhos
Desenhos feitos há mais de 10 mil sobre as rochas (foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS)
 

DE QUEIXO CAÍDO Localizado no Sudeste do Piauí, criado em 1979 e administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Parque Nacional Serra da Capivara é, como se diz popularmente, “de cair o queixo”. A paisagem reúne a beleza das trilhas, o silêncio absoluto quebrado apenas pelo canto dos pássaros ou vento forte nas alturas dos blocos de arenito, o olhar arisco do mocó, roedor que dá as boas-vindas entre as frestas, e, claro, a marca registrada gravada nas lapas e paredões.
 
Trilhas
As trilhas não exigem preparo de atleta, mas é preciso muita disposição, estimulada pela beleza do loca (foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS)
 
 
As pinturas rupestres da região, o maior conjunto desse tipo de arte no mundo, encontram-se presente em cerca de 900 abrigos sob rocha arenítica, dos mais de 1,4 mil sítios arqueológicos encontrados na área (arqueológica) da Serra da Capivara, com boa estrutura de visitação, incluindo acessibilidade, distribuídos pelos municípios de São Raimundo Nonato (cidade-polo da região), João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias, o mais próximo do parque.
 
roedor mocó
Pode observar também a fauna, como o roedor mocó (foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS)
 
 
Em cada canto, paira a figura quase mítica da arqueóloga Niède Guidon, de 89, paulista de origem francesa que chegou a São Raimundo Nonato na década de 1970 e lutou pela fundação do parque nacional, sem deixar de lado a questão socioeconômica e melhores condições de vidas das famílias. Um exemplo está na produção de cerâmica, com os motivos das pinturas rupestres, que fazem a alegria de quem viaja e quer levar uma “lembrancinha” para os amigos.
 
Entre as obras de Niède Guidon, e abertas à visitação, estão o Museu do Homem Americano, inaugurado em 1998 em São Raimundo Nonato, sob gestão da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), e o Museu da Natureza, em funcionamento há quatro anos, em Coronel José Dias. Instalada no meio da caatinga, a construção em forma de espiral avermelhada sobressai sem competir com a beleza dos blocos de arenito.
 
Reconhecido em 1991 como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e, dois anos depois, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Parque Nacional Serra da Capivara, onde curiosamente não há esse tipo de roedor, se agiganta aos olhos de quem chega  pelo potencial arqueológico, etnográfico e paisagístico.

O VENTO FAZ A CURVA Impossível conhecer todo o patrimônio natural em poucos dias, avisa, com simpatia e conhecimento, o arqueólogo e nativo da comunidade de Zabelê, Iderlan de Souza, da agência de turismo Quipá. “O parque nacional é formada pelas serras da Capivara, Talhada, Vermelha e Branca, então precisaríamos de meses para conhecer tudo. Mas o visitante, nos passeios, terá uma boa visão do conjunto”. Vale dizer que, para entrar no parque, é preciso de guia credenciado pelo ICMBio, que mantém uma relação de nomes no site oficial, e também de táxi ou mototáxi. “Se não for assim, a pessoa será impedida de entrar nas portarias”, acrescenta outro guia e conhecedor da área, o professor de história Evair do Nascimento Lima.
 
No primeiro dia, o turista pode conhecer o Desfiladeiro da Capivara, que inclui as tocas do Pajaú, de Entrada do Pajaú, do Barro, Inferno, de Entrada do Baixão da Vaca e do Baixão do Paraguaio. Os nomes se traduzem por cânions, boqueirões e topo das serras, onde parece que o vento faz a curva de tão forte e revigorante. Em completa harmonia com  o meio ambiente, e sempre lembrado pelos guias de que “o sertão já foi mar”, o visitante pode imaginar, no desenho dos maciços, as torres de castelos medievais, catedrais, enfim, tudo está aberto à imaginação. Se bateu aquela fome, o almoço será no restaurante Trilhas da Capivara, na comunidade de Sítio do Mocó, em Coronel José Dias, com comidinhas bem saborosas.
 
No dia seguinte, prepare as canelas e use sapato confortável, de preferência tênis com reforço, para conhecer o Circuito Sítio do Meio – Toca do Boqueirão do Pedro Rodrigues, Toca do Sítio do Meio, com vistas panorâmicas – e o Circuito Pedra Furada, com destaque para a Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Tocas da Fumaça I, II e III, Tocas do Carlindo e a Pedra Furada, um cartão-postal símbolo do parque nacional e que merece fotos e selfies. O almoço, desta vez, será na Cerâmica Artesanal Serra da Capivara, no Sítio Barreirinho, na zona rural de Coronel José Dias. Há uma lojinha com vários tipos de peças e camisas feitas pelas costureiras da região.

AS ANDORINHAS CHEGARAM O dia termina, em clima tranquilo e inesperado, no Sítio João Pimenta, reserva particular fora do parque, administrado por Paulo Sérgio dos Santos Silva. Lá pelas 17h30, a natureza prepara um belo espetáculo no lusco-fusco. Milhares de andorinhas chegam “para dormir” nas cavidades dos paredões e impressiona a velocidade do voo. “Nenhuma erra o alvo”, brinca Iderlan, que, diante da paisagem, dá explicações sobre formações geológicas, povos pré-históricos, uso do Carbono 14 para datação de sítios arqueológicos e, claro, a importância de Niède Guidon, que foi sua mestra e deu novo rumo a essa região do Sudeste do Piauí. Atentos, quase já sob as estrelas, o repórter e Paulo Sérgio ouvem e mergulham nas palavras que aguçam ainda mais as belezas e mistérios da Serra da Capivara.
 
NÃO DEIXE DE VISITAR

» Museu da Natureza

A visita começa com as origens da Terra e da vida, passa por todo o processo de formação da Terra, mostra a evolução dos mamíferos, em ambiente virtual e exposição de fósseis encontrados na região. A entrada é por um buraco negro. Pessoas de todas as idades vão curtir o simulador de voo de asa delta sobre a região. Fica em Coronel José Dias, a 30 quilômetros de São Raimundo Nonato.

» Museu do Homem Americano

Durante os últimos 50 anos, a equipe científica da Fundação do Museu do Homem Americano (Fumdham) estudou a região. No local, há uma exposição que mostra a chegada do “Homo sapiens” ao Sudeste do Piauí, e o desenvolvimento tecnológico  e cultural do povos que aí viveram.

» Pedra Furada

Cartão-postal, símbolo do parque nacional e merecedor de fotos e selfies. Cenário de grande beleza, com um anfiteatro e iluminação especial à noite. Em julho, o ponto turístico tem programação cultural, 
a chamada Ópera da Pedra Furada. 
Faz parte do Circuito da Pedra Furada, 
em Coronel José Dias.

» Cerâmica Artesanal 
Serra da Capivara

Fica no Sítio Barreirinho, na zona rural de Coronel José Dias. Há uma lojinha com vários tipos de peças e camisas feitas pelas costureiras da região. 0s visitantes podem assistir ao processo de produção das peças feitas com argila e muita criatividade.


DICAS DE VIAJANTE


Junho e julho são os meses mais indicados para fazer os passeios na Serra da Capivara. Os dias são mais frescos e chega a fazer um "friozinho" de madrugada. De dezembro a maio também está em alta, “pois é época de chuva e a vegetação está toda verde”, diz o guia Iderlan de Souza, da agência de turismo Quipá.

Para contratar um guia na região, procure as indicações no site do ICMBio. A entrada no parque só é permitida com um profissional credenciado.

Não é preciso ser atleta para percorrer as trilhas, mas vale muita disposição. Pessoas com deficiência têm acessibilidade garantida, pois há passarelas adequadas em alguns sítios arqueológicos.

As lojinhas, nas portarias do parque, não aceitam cartão de crédito ou PIX. Então é bom levar dinheiro vivo para comprar bonés, chaveiros, camisetas, canetas e outras lembranças. Na cerâmica, cartões e PIX são bem-vindos.

Se o viajante for de ônibus de Petrolina (PE) para São Raimundo Nonato, o melhor é consultar, com antecedência, horário e valor da passagem no site das empresas.

Há poucos hotéis em São Raimundo Nonato. Então é indicado fazer a reserva com  antecedência. Em Coronel José Dias, município mais próximo do Parque Nacional, tem  a Pousada e Restaurante Trilhas da Capivara. 


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