O ano de 2022 estava preparado para celebrar o Jubileu de Platina – 70 anos de trono da rainha Elizabeth II. Parte das celebrações – cujo auge foi de 2 a 5 de junho – estava programada para se estender até o final deste ano, mas a maioria foi cancelada devido à morte da rainha, no dia 8 de setembro. Mesmo assim, milhares de turistas chegam ao Reino Unido ávidos por conhecer roteiros relacionados à Elizabeth II ou à realeza como um todo.
Uma recente pesquisa internacional de consumidores realizada pelo VisitBritain mostra a força da história e do patrimônio para o turismo no Reino Unido, acima até das atrações icônicas: cerca 11 milhões de turistas ao ano incluem ao menos uma visita a um castelo, palácio ou prédio histórico, geralmente ligados à realeza. Os recentes acontecimentos devem impulsionar ainda mais o turismo. O impressionante número de 4 bilhões de pessoas que, em todo o mundo, assistiram a ao menos um momento do funeral da rainha antecipa que, em 2023, ainda mais turistas lá estarão para acompanhar as celebrações da coroação do rei Charles III.
Passeio por Londres
A capital e maior cidade inglesa, Londres se enfeitou e preparou cada detalhe para o ano do Jubileu de Platina, e depois o funeral, de Elizabeth II. Em breve, a cidade terá muitos novos e majestosos eventos relacionados à coroação de Charles III, que é atrativa para o turista independentemente da época do ano.
Sempre é bom demais caminhar por Londres, seja pelos lugares famosos seja pelas ruelas, ruas e avenidas da cidade. Igualmente imperdível é visitar os muitos museus, sempre gratuitos, como The British Museum, Museum of London, National History Museum, Tate Modern, Victoria & Albert e National and Science Museum. À beira do Tâmisa e aprecie a vista do Big Ben, finalmente sem os andaimes que durante tantos anos em reforma decepcionaram os turistas. É lindo. Mas nem seria preciso olhar para os ponteiros do mais famoso relógio do planeta para saber que sempre é a vez e a hora de visitar Londres.
É fantástico andar lentamente pelas ruas de paralelepípedos e fazer tours com um dos Yeoman Warders, os guardiões cerimoniais, também conhecidos como Beefeaters, com suas icônicas roupas vermelhas e pretas. A proximidade com o Tâmisa deixa tudo ainda mais impactante, com cenários convidativos às fotos ou simplesmente à contemplação. Durante quase todo o tempo há também a companhia dos corvos, que, devido às asas cortadas, “caminham” sobre os verdes e perfeitos jardins ingleses. São cuidados pelos servos reais e recebem diariamente queijos, frutas secas, ovos cozidos, vitaminas e carne fresca trazida do Smithfield Market. Tudo isso porque uma lenda ou profecia garante que se os corvos deixarem o local, tanto a Torre quanto o próprio país podem desabar.
Torre histórica
A Torre de Londres (não confundir com a Tower Bridge, que é uma das pontes que unem os dois lados do rio Tâmisa) é um lugar extraordinário, com histórias sombrias e ao mesmo tempo repletas de beleza e heroísmo. Vale a pena conhecer a triste e trágica história das prisões e torturas, visitar as salas das armaduras utilizadas ao longo dos séculos e ver a exposição “Joias da Coroa”, com mais de 100 objetos, entre coroas, cetros e outras peças, com ouro, prata e dezenas de milhares de pedras preciosas. O preço do ingresso para a visita à Torre de Londres é de cerca de £ 30.
Dentro da exposição, as fotos, por razões de segurança, não são permitidas. Ficam guardadas nos melhores álbuns da memória. Em uma parte do percurso, uma esteira rolante conduz, como um túnel do tempo, por um caminho de coroas cravejadas de joias e histórias. Entre as peças, a Coroa de Santo Eduardo (St. Edward’s Crown), produzida em 1661 para a coroação de Charles II e utilizada em todas as coroações. Com cerca de dois quilos, é de ouro maciço e é cravejada de ametistas, rubis e safiras, entre outras pedras preciosas. Será utilizada na coroação de Charles III.
Jardim florido
Vinte milhões de sementes foram plantadas em março deste ano em um fosso de 14 mil metros em torno da Torre de Londres. Chamada Superbloom (super floração), essa foi uma das muitas atrações e eventos criados na capital e em outras cidades do Reino Unido.
É incrível que um fosso criado no século 13 justamente para manter os visitantes indesejados distantes da Torre e da Realeza tenha se transformado em um lugar para atrair ainda mais visitantes para celebrar o Jubileu da rainha nessa que é hoje uma das maiores atrações turísticas do país (segundo pesquisa da VisitBritain, em 2019, com quase três milhões de visitantes, a Torre de Londres foi a atração paga mais visitada do Reino Unido).
Criado pelo Historic Royal Palaces (HRP), o projeto Superbloom se baseou em um sistema de plantio que atraísse polinizadores, como abelhas e, também, pássaros que se alimentam das sementes. Agora, o fosso se torna o lar permanente de um incrível jardim.
Catedral de St. Paul
Criadas para celebrar os 70 anos da rainha no trono, a exposição “Jubilee: St. Paul's, the Monarch and the Changing World” (Jubileu: St. Paul’s, o Monarca e o Mundo em Mudança”, explora as cerimônias realizadas na Catedral para comemorar os Jubileus Reais de quatro monarcas britânicos: George III, Victoria, George V e Elizabeth II). Ficará até 1º de dezembro, na St. Paul's Cathedral (Catedral de São Paulo), em Londres. Essas celebrações traçam um fio de continuidade através das mudanças sociais, políticas e tecnológicas na Grã-Bretanha nos últimos 200 anos. A exposição, que está incluída no ingresso para a Catedral, traz fotografias, gravuras, vestimentas e pinturas.
As exposições do Jubileu nos palácios de Buckingham e Windsor tiveram seus finais antecipados. Como acontece a cada ano, Buckingham ficará fechado para visitantes e só reabre no verão, de junho a 7 de outubro. A Troca de Guarda, com o público que se aglomera em seus portões, permanece como uma das principais atrações turísticas londrinas.
Castelo de Windsor
A 35 km de Londres, o Castelo de Windsor reabriu no dia 29. Mesmo sem a exposição do Jubileu, segue instigante para quem tem paixão por realeza e, no caso, por mil anos de história. A residência real foi construída originalmente no século 11, após a invasão normanda por William, o conquistador, para proteger a região. É o castelo mais antigo ocupado de Europa. Começou a ser utilizado pelos monarcas britânicos a partir do reinado de Henry I (1106 a 1135). Desde então, já foi o lar de 41 monarcas (contando Charles III).
Abre à visitação o ano inteiro, sempre a partir das 10h. Até o início da pandemia era visitado por cerca de 1,5 milhões de pessoas por ano. De 1º de março a 31 de outubro, a entrada é até às 16h (com a permanência até às 17h15). De 1º de novembro a 28 de fevereiro, a entrada é até às 15h (com permanência até às 16h15). O preço para adultos é de £ 26,50 às quintas sextas e domingos e de £ 28,50 aos sábados. Fecha às terças e quartas-feiras. Às segundas, a entrada é gratuita.
Passeio guiado
Conhecido como “Guri in London’, o guia brasileiro Rafa Maciel, que vive na capital inglesa há nove anos, organiza o Passeio da Realeza, de 2h30, geralmente às sextas-feiras, das 10h às 12h30. O custo é de £ 30 por pessoa (https://guriinlondon.com/royal). No passeio, o guia revela em português histórias e curiosidades da realeza, como da princesa Diana e das rainhas Victoria e Elizabeth II, assim como sobre romances e intrigas da realeza em diferentes épocas. O grupo passa (sem entrar) por diversos pontos turísticos, como palácios e residências reais. Faz parte do roteiro, ver e compreender a troca da guarda montada e assistir em um lugar privilegiado aos últimos três minutos da troca da guarda tradicional.
Além disso, passa por monumentos em homenagem a vários monarcas, um parque real e pela Abadia de Westminster, onde 26 reis e rainhas foram coroados (a última delas, Elizabeth II), aconteceram 16 casamentos reais (como da própria rainha com o príncipe Phillip e do príncipe William com Kate Middleton) e onde estão os restos mortais de reis, rainhas, cientistas e escritores, como Henrique VIII, Elizabeth I, Charles Darwin, Isaac Newton e Charles Dickens. O passeio foi recentemente atualizado com o acréscimo de informações sobre os eventos e tradições que envolvem a coroação de Charles III. Rafa Maciel conta que anunciará em breve em seu site informações sobre o passeio virtual sobre a Rainha Elizabeth II. “O passeio visitará lugares relacionados à história de Elizabeth, quando princesa e quando rainha, como onde nasceu, onde morou, onde foi feito seus vestidos de casamento e de coroação e joias”
Cidade dos parques
Os orgulhosos londrinos gostam de dizer que há oito milhões de árvores na cidade, “uma para cada habitante”, distribuídas em cerca de três mil praças e parques. Há oito Parques Reais: Bushy Park, Green Park, Greenwich Park, Hyde Park, Kensington Gardens, Regent’s Park, Richmond Park e St. James’s Park.
O Hyde Park é o mais conhecido é o maior da região central, com um lago imenso, o memorial da princesa Diana, estátuas e monumentos, jardim italiano com flores, cisnes brancos e outros bichos e uma vista quase selvagem na fronteira do parque com grandes prédios. O lindo Regents Park tem inesquecíveis alamedas de ciprestes, teatro ao ar livre, zoológico e lago com barquinhos. Fica no centro, próximo a pontos turísticos como a Oxford Street e o Madame Tussauds.
Destaque para a Queen Mary Gardens, um jardim com 12 mil rosas, de mais de 100 espécies, e para o Jardim da Begônia, com nove mil flores. O Richmond Park é o maior e o mais surpreendente de todos. Fica distante e ao mesmo tempo a apenas 30 minutos de metrô ou trem do centro. Tem como maiores atrações o fato de estar à beira do Tâmisa e as duas espécies de veados que circulam livremente. Aliás, você viu a foto publicada aqui nesta página? Não, não é um erro da editora. Essa é uma cena real e incrível de um parque londrino....
Reino do futebol
Quem visita a região de Stratford, no Leste de Londres, onde foi erguido o estádio para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2012 vê de perto o que significa o legado citado há pouco. Claro que nem tudo é perfeito e mesmo na Grã-Bretanha há questionamentos sobre promessas que não foram cumpridas. Mas é evidente que a capital e o país como um todo usam a tradição e os eventos para impulsionar o futuro. Para um brasileiro, o passeio pode trazer sentimentos dúbios que vão da admiração à vergonha. Em Londres, o legado olímpico. No Rio, o largado olímpico. Medalha de ouro para os ingleses. De latão, ou menos que isso, para os brasileiros.
A região leste, antes degradada e cheia de problemas de infraestrutura, hoje, dez anos depois, é uma área pungente, com seu estádio administrado por concessão pelo West Ham, um dos mais tradicionais times de futebol londrinos; seu frequentadíssimo Queen Elizabeth Olympic Park; seu shopping center, bares, cafés, restaurantes e vários prédios residenciais e de empresas, especialmente dos setores de tecnologia e inovação que surgiram ou se mudaram para a região. Para se ter uma ideia, cerca de 40 mil empregos estão previstos para surgirem no Parque Queen Elizabeth até 2025. Outros 125 mil empregos serão criados até 2030 nos bairros vizinhos. Segundo uma pesquisa independente da Oxford Economics Here East, apenas no ano passado foram criadas 10.300 vagas de emprego, resultando em salários de £ 317 milhões.
Vale muito a pena subir na ArcelorMittal Orbit Slide (www.arcelormittalorbirt.com), um imenso prédio-escultura de 114,5 metros de altura, criado pelo artista Anish Kapoor, de onde se vê uma magnífica vista de 360 graus. Os mais corajosos aproveitam para descer, bilhete de cerca de £ 10, pelo tobogã fechado mais alto do mundo, com 178 metros de extensão.
O Parque Olímpico Rainha Elizabeth é um dos exemplos de uma das grandes atrações londrinas. Embora muita gente tenha uma imagem cinza de Londres, ela é a mais arborizada entre as grandes cidades europeias. Cerca de 47% da sua área é verde.
Passeio radical, em pleno Tâmisa
Navegar no Tâmisa é preciso! E pode ser feito em alta velocidade, com motores de 630 cavalos e 30 nós de velocidade (cerca de 56 km/h), em um pequeno bote, ao som de rock de bandas famosas de rock inglês, como Queen, Rolling Stones e Beatles. Passeio radical no Tâmisa, que passa em frente a um dos maiores símbolos do liberalismo: o Parlamento Inglês! Nos momentos em que a velocidade é reduzida, o guia conta destalhes e histórias sobre os pontos visualizados. Mas logo, o pequeno bote vermelho volta a navegar veloz, bate nas águas, faz curvas, provoca alguns sustos e deixa para trás atrações como a London Eye e a Tower Bridge. No Thames Rockets (www.thamesrockets.com), os preços variam de acordo com a opção de passeio. O Ultimate London Adventure, de 50 minutos, custa cerca de £ 40 para adultos e £ 30 (crianças); o Thames Barrier Explore’s Voyage, de 80min, cerca de £ 55 (adultos) e £ 41 (crianças).
Para quem quer algo mais tranquilo, há passeios em barcos maiores, como o Thames Clippers (www.thamesclippers.com), espécie de ônibus fluvial, que leva o passageiro (turistas e cidadãos comuns) em um percurso de cerca de 40 minutos, que começa no píer próximo à Torre de Londres e termina em Greenwich, com algumas paradas no meio do caminho para a entrada ou saída de passageiros. A região atrai muita gente, por seus lugares descolados, novas empresas da área de tecnologia, feira livre, parque e o Observatório Real de Greenwich, onde passa o Meridiano Greenwich, a linha imaginária que divide o planeta em Ocidente e Oriente.
Icônicos ônibus vermelhos
Se o leitor já esteve em Londres e nunca andou de bote ou barco no Tâmisa, provavelmente não é também “marinheiro de primeira viagem” em passeios nos icônicos ônibus vermelhos de dois andares que marcam a paisagem da cidade. Noventa e nove entre 100 turistas (esse número é pura especulação do repórter) fazem ao menos um passeio de ônibus e tiram, mesmo na era do telefone celular, ao menos uma fotografia na também vermelha cabine telefônica.
Mas quem já percorreu a cidade no conforto de um ônibus, de dois andares, e ao mesmo tempo saboreou uma excelente refeição? Nossa reportagem fez o passeio, na hora do almoço, que circulou por áreas famosas da cidade, como a London Eye e o British Museum. Durante o percurso do Bustronome (www.london.bustronome.com), um aparelho sonoro, em vários idiomas, inclusive o português, disserta, sem exageros, sobre cada um dos pontos percorridos. Se possível, faça o passeio à noite, onde o clima pode ser mais romântico, já que a cidade está toda iluminada. Além disso, há menos chances de pegar o trânsito parado. O preço para um jantar com seis pratos é de £ 150 por pessoa, com harmonização de vinhos (quatro taças de vinho, uma taça de champagne, água mineral, café ou chá). Com quatro pratos, sai cerca de £ 80.
Musicais
Uma das grandes atrações que há em Londres são suas peças de Teatro e Musicais. O West End, na região central, é usualmente comparado à Broadway. Até pouco antes da pandemia havia cerca de 45 teatros e casas de espetáculos na região, cujo primeiro teatro foi inaugurado em 1663, exatamente no local onde hoje está o Theatre Royal Drury Lane. Cerca de 15 milhões de ingressos eram vendidos anualmente para musicais ou peças na capital britânica. Lentamente, a cidade recupera seu apogeu. Assistimos no The Piccadilly Theatre, com casa cheia e um público entusiasmado, ao vibrante, encantador e emocionante (a adjetivação, no caso, não é excessiva) Moulin Rouge (www.moulinrougemusical.co.uk - bilhetes a partir de £ 74), adaptação do filme de Baz Luhrmann. O espetáculo, repleto de cores, brilho e glamour, com músicas de David Bowie, Queen e outros clássicos do rock e do pop, é uma ode à verdade, à beleza, à liberdade, à diversidade e ao amor. Uma dica para o turista que pouco domina a língua inglesa: assistir antes ao filme ou ler sobre o espetáculo. Ajuda muito a tornar o musical ainda mais inesquecível.
Onde ficar: The Treehouse Hotel London
Muito bem localizado, próximo à Regent Street e ao Piccadilly Circus, segue uma proposta verde, com muita madeira reciclada e quartos descolados e charmosos. Na entrada, ainda do lado de fora, há uma imensa escultura de um pássaro. Parece estranho chegar no hotel, pedir para fazer o check-in e ser conduzido para o elevador. No percurso para cima, uma surpresa: a música ambiente cede lugar ao canto de passados. Na hora em que a gente chega no local, percebe o motivo: a vista exuberante e acolhedora da cidade. No mesmo andar, fica o restaurante Madera, de culinária mexicana, supervisionado pela chef Ximena Gayosso, e a pizzaria Mozza, com também vistas ainda mais incrível, de 360 graus, para várias regiões de Londres. Dá até para ver a London Eye.
14-15 Langham Place London W1B 2QS
www.treehousehotels.com/london
O jornalista Airton Gontow viajou a convite do Visit Britain