Jornal Estado de Minas

ESPECIAL LAGOA SANTA

Lagoa Santa, da alvorada ao poente, aqui o Sol é um espetáculo


 
O Sol se esconde no horizonte e deixa um rastro dourado na Lagoa Central, em Lagoa Santa. Um casal de noivos se posiciona diante do fotógrafo para o registro perfeito no local – no antigo Iate Clube da cidade – enquanto ao fundo, o espetáculo da natureza faz sua pintura diária, gratuita e silenciosa, diante dos olhos de todos. Na cidade onde o Sol impera do nascer ao poente, o turismo de contemplação faz da cidade do Vetor Norte, localizada a apenas 40 quilômetros de Belo Horizonte, um destino para quem precisa de “cura”. Se no passado as águas ‘santas’ da lagoa deram o nome ao local, mais que correto dizer, que nos dias atuais, apreciar o fim de tarde é reconfortante como alívio ao estresse e controle da ansiedade. Sim, o sagrado mora, vive, se alimenta e se diverte em Lagoa Santa.




Ao visitar lagoa Santa é possível se deparar com os treinos Isaquias Queiroz, medalhista olímpico na canoagem (foto: Carlos Altman/EM)
Cidade promove o turismo de contemplação da fauna e da flora como forma de atrair mais visitantes (foto: Carlos Altman/EM)

É fato que a Lagoa Central é o cartão de visitas de Lagoa Santa. Ao longo dos 6,3 quilômetros de orla, dezenas de atrativos circundam o entorno dela. Lugares, digamos, instagramáveis que oferecem aos milhares de visitantes paisagens belíssimas, enquanto caminham, fazem corrida ou andam de bike. É possível se deparar com o premiado atleta olímpico da canoagem Isaquias Queiroz e equipe treinando no local. Além é claro, da aparição do mascote Alfredo – o famoso jacaré que continua cada dia mais gordo e tranquilo, em seus rolês na orla. 
 
 
 
E olha que as opções de registrar com boas imagens as paisagens ao redor são muitas: seja lá no Iate antigo, seja no horto do florestal, seja na Praça do Piquenique Literário, seja no píer em frente à Praça Felipe Rodrigues (com cerca de 30 metros, que adentra sobre águas da lagoa), seja no deck em frente aos bares, seja nas dezenas de empreendimentos comerciais como o local onde foi instalada uma réplica da Torre Eiffel, que, construída no local como atrativo turístico, cumpriu seu propósito e atraiu centenas de visitantes só nesse fim de semana.  

Do píer do antigo Iate Clube se avista o melhor pôr do Sol de Lagoa Santa (foto: Carlos Altman/EM)

Mas a lagoa, com seu belíssimo espelho d’água, não é o único motivo para visitar Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Muito se ouviu dizer que a cidade era apenas passagem para a Serra do Cipó. Que não tinha atrativos turísticos e que não oferecia nada de lazer aos visitantes. Ledo engano. De acordo com a Secretaria de Bem Estar de Lagoa Santa são nove Rotas que oferecem diversos atrativos turísticos na cidade. Existem outros atrativos como a deliciosa e saborosa Rota das Doceiras, o encanto de paz no Caminho do Fidalgo, além de novos atrativos como o Mercadão Internacional e a bucólica Lagoa dos Olhos d'Água. 
 

Rota Lund

Em 1833, Peter Lund se mudou para Lagoa Santa e, em suas explorações científicas na região, descobriu a Gruta da Lapinha, em 1835 (foto: Carlos Altman/EM)

A via MG-010, que corta ao meio a cidade, deu sinal de colapso no último carnaval com milhares de turistas procurando o destino de cachoeiras como rota de fuga da folia que reuniu 5 milhões de pessoas nas ruas de Belo Horizonte. Mal sabiam eles, que no meio do caminho, um desvio poderia levá-los a um dos destinos mais importantes para a história da paleontologia e que projetou a cidade mineira internacionalmente - a histórica Gruta da Lapinha, descoberta pelo pesquisador dinarmaquês Peter Lund, em 1834.






“O futuro de Lagoa Santa está escondido no passado, é preciso vasculhar as profundezas e reencontrar o que temos de melhor: história”. Assim, define o publicitário aposentado Fernando Virgílio de Castro, 88 anos, morador há mais de 70 na cidade mineira, que desabafa sobre o legado deixado pelo Dr. Lund. “Temos uma riqueza histórica debaixo de nossos olhos, precisamos valorizar e melhorar a divulgação do Circuito das Grutas", comentou.

Fernando relembra também, com nostalgia, os tempos em que Lagoa Santa era destino de veraneio para os moradores de Belo Horizonte, entre os anos de 1940 e 1970. Ao longo da orla, cada casa tinha seu trampolim próprio sobre as águas. “No passado, podia-se nadar e, literalmente tomar banho, nessas águas, que eram limpas. Lembro até da praia que fizeram aqui. Vinham caravanas de ônibus da capital e de cidades da região para curtir a praia artificial. Apesar da sensação, o assoreamento não foi uma boa ideia. Bons tempos que não voltam mais”, finaliza

O passado revisitado

Na região de Lagoa Santa, Peter Lund descobriu mais de 12 mil peças fósseis que permitiram escrever a história do período pleistoceno brasileiro (foto: Carlos Altman/EM)


O naturalista dinarmaquês Peter Wilhelm Lund (1801 -1880) é respeitado e conhecido como pai da paleontologia brasileira. Em 1833 ele se mudou para Lagoa Santa e, em suas explorações científicas na região, descobriu a Gruta da Lapinha, em 1835. Relatos históricos dizem que o naturalista ficou deslumbrado com a descoberta. Nas cavernas da região, Dr. Lund descobriu mais de 12 mil peças fósseis que permitiram escrever a história do período pleistoceno brasileiro – o mais recente na escala geológica – numa época em que o passado paleontológico era quase desconhecido pela ciência. 
Ao todo são 9 salões iluminados por led que destacam as formas surrealistas das rochas (foto: Carlos Altman/EM)

Os estudos de Lund foram pioneiros e sem dúvida contribuíram de forma significativa para diversas áreas do conhecimento, como a Paleontologia, Espeleologia, Arqueologia e Antropologia. Suas pesquisas e análises também foram de enorme importância para a Teoria de Evolução das Espécies, publicada em 1859 por Charles Darwin.





O naturalista passou praticamente a vida toda na cidade mineira e veio a falecer em 25 de maio de 1880. Hoje, o túmulo do Dr. Lund se encontra em um terreno escolhido por ele como a última morada. Como não era católico, conforme as normas da época, não poderia ser enterrado no cemitério. Antes de morrer, Peter Lund plantou um pequizeiro no local. E, sob a árvore típica do cerrado, está seu túmulo e dos amigos e colaboradores de pesquisa.
 
Exposição improvável: réplica da Preguiça Gigante, com 4 metros de altura, encontra-se 'perdida' na rodoviária de Lagoa Santa (foto: Carlos Altman/EM)
 
Em uma das descobertas feitas por Dr. Lund, foi a constatação de que humanos e animais de grande porte conviveram em uma mesma época, por volta de 12 mil anos atrás. Uma réplica de uma preguiça gigante, com quase 4 metros de altura, apesar do tamanho está “escondida” em um local improvável na cidade – a rodoviária de Lagoa Santa. Sem placa ou indicativo do que se trata, a exposição dela passa “despercebida” por muitos. O melhor local seria no Museu Peter Lund, na Gruta da Lapinha, junto ao acervo paleontológico do ilustre morador da cidade mineira.