Altamira e região concentram os maiores produtores de cacau no Pará. O estado que bate recorde na produção e ganha prêmios internacionais com a qualidade de suas amêndoas, promove o turismo rural e oferece visitas guiadas onde o turista aprende todo processo - plantio, passando pela colheita, secagem, fermentação, moagem e produção do chocolate. Fizemos a Rota do Cacau nos municípios Brasil Novo e Medicilândia e vamos te contar como foi.
A história do casal Verônica e José Renato Preus, proprietários da Kakao Bluemann, em Brasil Novo, a poucos quilômetros de Altamira, mostra a realidade de migrantes de Santa Catarina indo produzir um fruto amazônico, com todas as dificuldades e, mesmo assim, se destacando em concursos nacionais com uma amêndoa com alto sabor e aroma. Nesta última edição do Chocolat Xingu, ficaram em terceiro lugar na categoria inovação.
Com uma produção pequena, com apenas 6 toneladas ano, o sítio, com 10 mil pés de cacau plantados em uma área de 100 hectares, pretende, com o apoio do Ceplac e de novas tecnologias no agro, expandir a produzir 25 mil toneladas no próximo ano. “buscamos melhorar a cada ano, o prêmio recebido em 2021, ficamos gratos em ter ficado em primeiro lugar na categoria blend no Concurso Nacional de Cacau. Somos uma empresa pequena, familiar, e ganhamos projeção nacional e internacional”, admira José Renato.
No tour pelo sítio, o casal mostrou as plantações. O cacau híbrido é plantado no manejo da cabruca ( embaixo de outras árvores nativas sem precisar desmatar). O modelo sustentável e ecológico é orgulho dos produtores não só no Pará como também adotado por cacauicultores da Bahia e Espírito Santo. Em uma cozinha simples, conhecemos a fábrica onde são produzidos os chocolates de sabor inigualável com misturas fantásticas como cupuaçu, banana desidratada e lascas de pimenta. Um paraíso de sabor que merece cada pedaço degustado. “Crio receitas novas, testo variedades de frutas e, assim, surgem novos chocolates. Tem um pouco de ousadia e muita ternura em cada tablete, bombom e doce que ofertamos ao público”, finaliza Verônica Preus.
Chocolate da Amazônia
A cooperativa Cacauway ( Cacau da Amazônia) está no mercado há 13 anos. Hoje são 40 sócios que produzem o chocolate fino ( amargo, com alto teor de cacau e sem adição de leite). Ao todo, eles produzem cerca de 600 toneladas por ano que abastecem o mercado nacional. Para Ademir Ventura, presidente da Cacauway, a produção do cacau tem uma preocupação em ser sustentável e de não agredir a natureza.
“O cacau tem uma convivência harmoniosa de conservar o meio-ambiente. Antes, toda a região que aqui estamos era canavieira. Só a partir dos anos 2000 houve a transição para o plantio de cacau. Desde então, nosso projeto de conceito ecológico é respeitar a natureza. Queremos fortalecer a ideia que a atividade cacaueira respeita o meio-ambiente. A transamazônica, dos buracos e da poeira vai ficar para trás. Ela será vista como o caminho do chocolate do Pará. Temos potencial de aumentar a produção de cacau no Brasil sem precisar desmatar. A agricultura do futuro precisa estar agrupada no cooperativo, no respeito à natureza e pensar no bem-estar das futuras gerações ”, informa Ademir.
O presidente da cooperativa anunciou a novidade lançada na última edição do Festival Chocolate Xingu. Em parceria com as tribos indígenas Sidjä Wahiü e Iawá, dois novos produtos chegam ao mercado com sabores diferenciados de frutas da Amazônia. São chocolates finos livres de conservantes e aromatizantes artificiais.”Integrar as comunidades indígenas fortalece o papel sustentável e gera renda na divisão lucro”, finaliza.
Mundo das abelhas
“Se as abelhas desaparecerem, o mundo vai acabar. Muitas frutas existem por causa da polinização das flores por elas. E o cacau está diretamente ligado ao trabalho das abelhas”. O alerta é do meliponicultor e cardiologista Antonio Pantoja, da Fazenda Abelha Cacau. Estudioso, preocupado com o futuro do planeta, ele aponta que o mundo precisa estar atento às mudanças climáticas e que a educação ambiental deveria estar na grade escolar em todo o Brasil.
E completa: “ O futuro da medicina está na Amazônia. Há muito a ser estudado e desvendado em nossas matas. Temos um rico acervo fitoterápico conhecido. Mas, isso é muito ínfimo à grande farmácia escondida na selva. Os indígenas e ribeirinhos sabem que folhas, raízes e cascas são remédios para cura de muitos males existentes. Precisamos ouví-los e usar a ciência favor da humanidade”