Viajar pelo Vale do Rio São Francisco é viver uma experiência ímpar do contato direto com a natureza. Melhor ainda é poder, além de apreciar as belezas do Velho Chico, saborear a culinária “barranqueira” e conhecer a história e a cultura de povos tradicionais, vendo de perto onde começou a ocupação de Minas Gerais. Esse privilégio é permitido aos visitantes de Manga, município de 18,9 mil habitantes.
Banhada pelo Rio da Integração Nacional, no Norte de Minas, perto da divisa com a Bahia, Manga estará em festa no período de 6 a 10 de setembro próximo, para celebrar 100 anos de emancipação político-administrativa, que serão completados em 7 de setembro, data da Independência do Brasil. O centenário será comemorado com uma programação de shows artísticos, com a expectativa de receber milhares de pessoas.
O Velho Chico é o maior atrativo turístico de Manga. Navegar em suas águas, pescando ou observando a vegetação das suas margens e o modo de vida simples do povo barranqueiro, é uma sensação indescritível. No entanto, mesmo quem não queira pegar no anzol ou entrar no rio, é possível curtir as suas belezas do mesmo jeito.
Vale a pena observar os pescadores artesanais subindo ou descendo o rio com seus barquinhos movidos a motor (conhecidos como “rabeta”) ou tocados a remo. Diante de tanta beleza e tranquilidade, dá para “esquecer” o calor forte da região, com temperaturas que se aproximam dos 40 graus. Um momento divino: o pôr do Sol no Velho Chico.
Lago dos cisnes
Manga e arredores oferecem uma série de atrativos turísticos. Um dos seus cartões-postais é o aprazível Parque Uirapuru, localizado no Centro da cidade, com uma área de 5,7 hectares, concluído pela atual administração do prefeito Anastácio Guedes (PT). O parque conta com um lago, onde chama atenção uma ilha, dispondo ainda de área verde, coreto, quadra de areia, espaço para piqueniques e pista de caminhada.
Para qualquer pessoa, o simples fato de apreciar o espelho d'água do lago do Parque Uirapuru já é uma imensa satisfação, para não dizer um verdadeiro privilégio – ali, é difícil resistir a uma selfie. Mas o visitante pode curtir o local mais ainda com um passeio em um dos 10 pedalinhos no lago em formato de cisnes. E ainda tem uma vantagem: o passeio nos pedalinhos é gratuito, tal como a entrada no parque ambiental.
Embelezado com a instalação de três fontes luminosas, o bonito espaço é aberto ao público, diariamente, das 6 às 22h. E os pedalinhos funcionam de sexta-feira a domingo, de 14h às 17h30, mesmo horário de atividades dos feriados.
Sabores do Velho Chico
Em Manga, o Rio São Francisco também mostra a sua influência na culinária. O destaque é “muqueca de surubi”. O prato típico é o carro-chefe do cardápio do Restaurante “Barrancos”, que, como o próprio nome indica, está localizado na beira do rio, o que possibilita uma combinação de satisfação do paladar e também de alimentar o espírito e a alma, com apreciação das belezas no intervalo entre o pedido e a chegada da iguaria a mesa.
A moqueca no Barrancos sai por 90,00, servindo o peixe acompanhado com arroz, salada e pirão, suficiente para quatro pessoas. A porção menor (para duas pessoas) fica por R$ 60. O cardápio do restaurante tem como outro prato típico da região “língua de boi”, acompanhada de alface, cebola e tomate, cuja porção é vendida a R$ 30.
Programação do centenário
A prefeitura municipal de Manga preparou uma programação especial com shows de artistas da região e nomes do sertanejo para comemorar o centenário da cidade com acesso gratuito ao público. “A nossa expectativa é receber cerca 25 mil pessoas. Já tem gente querendo alugar casas na cidade para o pessoal que vem para a festa”, afirma o prefeito do município, Anastácio Guedes.
A programação de shows começará no dia 6 de setembro, com apresentações de Washington Brasileiro, Tiago Doidão e do padre Ivan Clementino. Antes dos shows, haverá missa campal, às 18h.
Para o dia 7 de setembro estão previstos shows de Dorgival Dantas, Cowboy Estradeiro e Jhotapê. As festividades terão continuidade no dia 8, com apresentações de Sérgio e Rodrigo, Rafael Silva e Banda, Grupo Du Swing e o cantor Negruxo.
Na programação comemorativa será feita a entrega de uma medalha a 100 pessoas e personalidades que contribuíram com o desenvolvimento do município ao longo de um século. A solenidade de entrega da “medalha do Centenário de Manga” está marcada para o dia 7 de setembro, às 18h.
Importância histórica
Além do contato com a natureza e da paisagem deslumbrante, o Rio São Francisco em Manga permite uma imersão na história e ver de perto onde começou o povoamento de Minas Gerais. Foi na região, próximo à divisa com a Bahia, que iniciou a ocupação do estado, por meio dos “Currais do Rio São Francisco”, conforme explica o antropólogo e pesquisador João Batista Almeida Costa, professor aposentado da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
Segundo a antropólogo, a ocupação da região limítrofe entre Minas Gerais e a Bahia foi iniciada no Século 17, “com a fixação do grupo comandado por Mathias Cardoso de Almeida, que veio para cá debelar a organização de indígenas e quilombolas que estavam fazendo guerra contra a penetração da colonização portuguesa".
Almeida Costa ressalta a região de Manga e adjacências foi ocupada por diversas comunidades quilombolas, que se estabeleceram na chamada “Mata da Jahyba”(hoje, região do Jaíba), e por volta de 1640, se juntaram aos povos indígenas, visando impedir a entrada da colonização portuguesa.
“A importância maior da região, seja do ponto de vista histórico, cultural e econômico é ter contribuído para a consolidação da sociedade mineira que resulta da articulação entre a formação histórica, cultural e econômica minerária e a formação histórica, cultural e econômica pastoril localizada nos chamados Currais do São Francisco”, assegura o antropólogo e pesquisador.
Arredores
Na mesma região, o visitante pode “voltar no tempo” com uma parada em Matias Cardoso, “encostadinho” em Manga (a uma distância de apenas 15 quilômetros), também às margens do Rio São Francisco. No antigo distrito de Manga se encontra a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, considerada a mais antiga de Minas Gerais. Ela foi construída de 1670 a 1673, antes da edificação das igrejas de Ouro Preto e Mariana, erguidas no “ciclo do ouro”, no século 18.
Ainda na “viagem na história e na cultura” em Manga, vale a pena uma visita à comunidade quilombola de Brejo de São Caetano, localizada a 18 quilômetros da sede. O lugar tem cerca de 1.200 moradores, a maioria descendente de escravos que preservam a tradição e os costumes do povo negro, destacando a dança, a música e a devoção. O visitante também encontra peças de artesanato em madeira, feitas pelo povo tradicional.
Serviço:
• 100 anos de Manga
• Data: 6 a 10 de setembro
• Local dos shows: Parque Uirapuru
• Instagram: @prefeiturademangamg