Paulo Betti está em dose dupla na televisão com os personagens Jonas, de “A vida da gente”; e Téo, de “Império”, ambas reprisadas na Globo. Nas novelas das 18h e das 21h, o ator vive papéis completamente opostos. Enquanto o primeiro é um rígido advogado, o segundo exerce a função de jornalista em um blog de fofocas e age de maneira espalhafatosa. De acordo com o intérprete, ele se divertia com os trejeitos e falas do blogueiro criado por Aguinaldo Silva.
“Herdei o personagem do José Wilker (1944-2014). Ele ia fazer, mas morreu naquele ano. Lembro que tinha feito tantas coisas com o Wilker... Como ele me dá o personagem dessa forma trágica? Enfim, gravava duas vezes por semana no mesmo local, fazia as maiores loucuras e o Papinha (Rogério Gomes, diretor) sempre achava bom. Guardei os óculos do Téo. Estou possuído pelo personagem até hoje”, conta.
A missão não foi nada fácil. Paulo ainda recorda da nota zero que levou da crítica especializada após a estreia de “Império”. Segundo o ator, a vergonha era tão grande que deixou de ir a um compromisso para evitar o assunto. No entanto, correu atrás do prejuízo e aceitou sugestões para encontrar o tom certo do papel.
“Lembro-me do carnaval de 2015. Os garis corriam atrás de mim e gritavam 'cruzes' (bordão de Téo). Achava que estava abafando, mas eles estavam me zoando. Levei logo um zero quando a novela começou. Meu personagem demorou a estrear, disseram que estava tudo errado. Quando você toma essa nota, parece que vai levantar voo, mas leva o tiro em uma asa. Aceitei fazer todas as entrevistas na época, porque queria me defender do zero”, confessa.
''Ele (José Wilker) ia fazer, mas morreu naquele ano... Como ele me dá o personagem dessa forma trágica?''
Paulo Betti, ator
VIDA REAL
O ator também sente como se estivesse viajando através de um túnel do tempo com a reprise de “A vida da gente”. A novela, escrita por Lícia Manzo, segue viva na memória de Paulo. Na trama, ele deu vida ao pai ausente de Rodrigo (Rafael Cardoso) e Nanda (Maria Eduarda de Carvalho), que se separa de Eva (Ana Beatriz Nogueira) para assumir um relacionamento com a personal trainer Cris (Regiane Alves).“Parece que estou fazendo a novela de novo. Tenho essa sensação. É tão gratificante que passe agora! Lembro-me dos bastidores o tempo todo. A novela era feliz no sentido da escrita, tinha uma coisa interessante na proposta de direção do Jayme (Monjardim), que não era o jeito arroz com feijão de fazer”, avalia.
Por já ter sido casado com uma mulher mais jovem, Paulo sentiu medo de que o público o achasse parecido com Jonas. Havia a dificuldade extra em dar vida ao papel por ser um trabalho mais naturalista e não um personagem cômico, como o próprio Téo, de “Império”, por exemplo. Mas ele sabia que não podia criticar o comportamento do pai de Rodrigo, apesar de pensar diferente dele.
“O meu personagem, primeiro, se separa da Eva. Aí, se apaixona por uma jovem, a Cris, e é traído. Isso é gozado. O meu conflito na novela era ser o vilão. Como o papel era muito próximo de mim, não queria que o público me confundisse com o Jonas”, revela. (Estadão Conteúdo)