"É tempo de medo (por causa da pandemia), mas também de pensar que suas atitudes podem ser fatais para o teu próximo ou alguém distante. É violento o que a gente está passando"
Gisele Fróes, atriz
Era difícil para Gisele Fróes não julgar as ações da durona Vitória de “A vida da gente”. Na novela das 18h da Globo, exibida originalmente entre 2011 e 2012, a atriz fez o papel da tirana treinadora de Ana (Fernanda Vasconcellos) e mãe de Sofia (Alice Wegmann).
A profissional exigia o máximo das tenistas, muitas vezes excedendo limites com sua postura autoritária. Como se não bastasse ser assim com a pupila e a filha dentro de quadra, a personagem também mantinha regras rígidas na própria casa.
“O grande prazer da nossa profissão é nos transformarmos com cada personagem. No início, sofri muito, porque é sedutor. Não queria fazer uma vilã. Vitória é uma mulher que tem suas dores e prazeres, mas é difícil. Era um sofrimento compreender como humanizar alguém que, quando você olha de fora, julga essa pessoa”, conta a artista.
Segundo Gisele, cenas marcantes não faltaram na novela. A dedicação do elenco à trama é a lembrança mais forte que guarda daquele período. Conta que é muito presente na sua memória a imagem de Alice Wegmann ainda adolescente, aos 16 anos, indo gravar após sair do colégio, dando os primeiros passos na atuação. Comovida com as vivências de todos nos bastidores, a intérprete de Vitória também elogia a autora Lícia Manzo por explorar não só o lado ruim, mas também a parte mais humana da personagem.
Opressão
“Vitória era muito opressora, determinada a chegar, a qualquer custo, aonde ela achava que deveria, mesmo que fosse humilhando as pessoas. Sabiamente, o texto da Lícia a coloca também sendo muito correta. Quando sabe que uma atleta toma aditivos químicos para funcionar melhor, ela dá uma bronca na menina e rejeita aquela ideia de desonestidade violentamente”, relata.
Antes de “A vida da gente”, Gisele esteve na reprise de “A força do querer” (Globo, 2017). Quando questionada sobre o que pensa ao analisar o próprio trabalho na televisão, a atriz confessa que esta não é uma de suas atividades preferidas por ter o costume de se criticar. No entanto, relata ter mudado um pouco de ideia a respeito de se assistir após admirar o pai, o ator Rogério Fróes, se revendo em antigos projetos.
“Tenho muita dificuldade de me ver. Sempre acho que poderia ser melhor. Meu pai é ator e, há mais de 40 anos, fez 'O bem-amado' (1973). Outro dia, estava vendo meu pai, de 86 anos, assistindo à primeira cena dele na novela. Ele gargalhava. Então pensei que, me vendo 10 anos atrás, ia tirar onda. É sensacional a oportunidade de rever”, afirma.
isolamento
As reprises das novelas têm sido uma consequência da dificuldade de retomar as gravações de novos projetos, por conta da gravidade da pandemia do novo coronavírus. Ainda em isolamento social, Gisele observa como tem sido difícil estar sempre exposta ao medo de entrar em contato físico com qualquer pessoa devido à COVID-19. Mesmo com a vacinação engatinhando em diversos pontos do Brasil, o risco da contaminação continua e exige a atenção de todos.
“Estamos há tantos meses no isolamento, tomando cuidados. Vivemos com medo. Ao mesmo tempo, existe a complexidade da vida. É tempo de medo, mas também de pensar que suas atitudes podem ser fatais para o teu próximo ou alguém distante. É violento o que a gente está passando”, conclui. (Estadão Conteúdo)