Há 25 anos, o Brasil ainda era tetracampeão mundial de futebol, a internet discada, o sertanejo não tinha fama de universitário, John Ulhoa, do Pato Fu, era cabeludo... e o “Alto-falante” fazia sua estreia na Rede Minas. De lá pra cá, o programa, apresentado por um menino com figurino estranho, acompanhou a evolução do panorama musical no Brasil, no mundo e, quiçá, em Minas Gerais.
Da estreia – em junho de 1997 – até 2022, Terence Machado está à frente do “Alto-falante”, exibido aos sábados, às 14h, na emissora pública. "É difícil pensar nos poucos seres humanos que não gostam de música. É uma das principais fontes de entretenimento ou trabalho de todo mundo. Acaba virando profissão de muita gente e gerando outras no entorno”, diz.
Para Terence, a música movimenta e é apaixonante. “A gente vê o Paul McCartney e o Gilberto Gil fazendo 80 anos. São dois figurões que fico me perguntando como ainda estão no palco. A resposta é justamente essa troca constante, são novas gerações descobrindo e a gente, que já gosta há muito tempo, cada vez mais reverencia esses artistas que mexem com a gente mesmo. Mexem com a alma”, afirma.
Adriano Falabella, também desde o início do “Alto-falante”, e Sabrina Damasceno, a caçulinha do programa (oito anos na equipe), estão com Terence na empreitada musical. Todos creditam o sucesso do programa à capacidade de adaptação às mudanças ao longo dos anos em que ele está no ar, principalmente durante o isolamento imposto pela pandemia nos últimos dois anos, quando o on-line sobrepujou o presencial.
"Uma coisa bem legal é que esse formato permitiu fazer mais videoconferências. A gente acabou conseguindo aproveitar muitos artistas sem ficarmos limitados a suas passagens pela cidade para entrevistá-los, como ocorria antes", explica Sabrina.
Revelar talentos também sempre foi uma vocação do “Alto-falante” “Entrevistei várias bandas que não estavam no mainstream, digamos assim. A gente também funciona como uma janela."
Sobre o momento da música mineira, eles enxergam com naturalidade um movimento cíclico de passagem de bastão que acontece não apenas nas Gerais, mas em todo o mundo. A aposentadoria de Milton Nascimento, a turnê de despedida do Skank e o surgimento de cantores e bandas mais novas, como a Daparte, são, para Terence, algo normal.
Mas existe uma hora certa para parar? Para Terence, não. “Os Stones perderam o Charlie Watts e todo mundo falou: 'Agora eles param'. Já arranjaram baterista e caíram na estrada. É isso que mantém a música e os músicos vivos, girando."
Fitas K7 e capetão
Ao rememorar os 25 anos do “Alto-falante”, Terence brinca com a lembrança das fitas K7, que eram enviadas pelas gravadoras à produção e deram origem ao quadro "É coisa da demo". "Tinha uma vinhetinha que era uma fita pegando fogo, bem capetão, bem infernal", lembra, rindo.
Atualmente, um dos quadros da atração, o "HTTP", faz referência ao protocolo de transferência de hipertexto, da linguagem on-line, de onde sai grande parte dos artistas selecionados para serem exibidos no “Alto-falante”.
"É muito mais democrático neste sentido. A gente seleciona os artistas pelo YouTube e pode ser qualquer artista, um que tenha 2 milhões de visualizações, tipo Taylor Swift, ou um que está começando, que tenha 5 mil, 10 mil views, mas que a gente vê o clipe e pensa: 'Pô, isso é legal, merece espaço'”, explica Terence.
Adriano Falabella é figura lendária. Seu bordão "Gostas do delírio, baby?" ficou famoso, principalmente entre os seguidores dele nas redes sociais.
Ele lembra que nas primeiras edições, a figurinista o vestia como um correspondente internacional, mas diz que conseguiu ir desenvolvendo estilo próprio ao longo dos anos. "Hoje eu só uso camiseta de banda", ele brinca.
Falabella credita parte do sucesso à mistura de gerações que o programa proporciona. Enquanto Terence foca mais nas bandas da década de 1990, e Sabrina nas atuais, ele se debruça sobre o rock das décadas de 1960 a 1980.
Vem aí minifestival comemorativo
O apresentador do quadro "Enciclopédia do rock" conta já ter feito mais de 2 mil edições sobre a história de bandas famosas do gênero.
Terence, Falabella e Sabrina celebram o jubileu de prata, mas já pensando no de ouro. Com expectativa de estreia de vinheta e cenário, Terence revela o desejo de realizar um minifestival comemorativo.
"O 'Alto-falante' ajudou a gente a não perder o bonde da história. Acompanhamos as evoluções tecnológicas, da fita demo ao streaming. Se a gente tivesse ficado preso a um tipo de música ou formato, o programa não existiria mais”, afirma.
"O 'Alto-falante' ajudou a gente a não perder o bonde da história. Acompanhamos as evoluções tecnológicas, da fita demo ao streaming. Se a gente tivesse ficado preso a um tipo de música ou formato, o programa não existiria mais”, afirma.
* Estagiário sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro