Jornal Estado de Minas

TELEVISÃO

"O ataque ao Capitólio" reconstitui o dia em que Washington tremeu


Assistir a um evento de grandes proporções algum tempo depois de ocorrido permite novas leituras. É esta a intenção (alcançada) do documentário “O ataque ao Capitólio”. Recém-chegado ao catálogo da HBO Max, justamente para marcar o segundo ano da invasão do centro do poder nos Estados Unidos, o longa dos irmãos franceses Gédéon e Jules Naudet é um filme sobre política que tenta não tomar partido. 





Em cena, estão dezenas de pessoas que estavam no Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando milhares de manifestantes pró-Trump invadiram a sede do Congresso americano com violência, para tentar impedir a certificação da vitória do presidente Joe Biden, então recém-eleito. É impressionante, ainda mais impactados que estamos com a recente invasão e depredação de Brasília.

Estão em cena policiais, jornalistas, senadores e congressistas falando para a câmera sobre o que vivenciaram nas quatro horas em que o prédio público foi tomado de assalto. A única negativa dos realizadores foi ouvir os extremistas – o ponto de vista é sempre das vítimas.
 

 

Os fatos que motivaram a insurreição e suas consequências se alastram até os dias de hoje. Novecentas e cinquenta pessoas foram presas, e a polícia ainda procura outras 350. Além disso, o ataque gerou uma divisão no Partido Republicano, o que dificultou a escolha do novo presidente da Câmara dos Deputados, neste ano. A decisão ocorreu somente no último dia 7, após 15 rodadas de votação.




Mapas

As imagens do ataque foram assistidas zilhões de vezes mundo afora. “O ataque ao Capitólio” preenche suas 2h30 também com muitas imagens do ocorrido. Mas todas são muito próximas, muitas delas realizadas por jornalistas independentes, que, lado a lado com os insurgentes, entraram no Capitólio durante a invasão.

Para o espectador compreender o passo a passo da invasão, o documentário exibe mapas computadorizados de cada área, na medida em que os extremistas alcançavam cada ponto.

O documentário acompanha o ocorrido na base do minuto a minuto, concatenando as imagens cronológicas dos acontecimentos com depoimentos de pessoas que estavam lá. Há sequências impressionantes, como a de fotógrafos que estavam com os revoltosos dentro de gabinetes invadidos que relembram do que passaram, como uma espécie de narração.

Relatar grandes tragédias com vários personagens atuando quase como narradores do ocorrido é uma marca dos Naudet em documentários anteriores, como o longa “11 de Setembro” (2002), sobre o atentado às Torres Gêmeas (os dois estavam em Nova York naquele dia), e a minissérie “13 de novembro: Terror em Paris” (2018, disponível na Netflix), sobre os ataques terroristas de 2015 na capital francesa.





A despeito da profusão de imagens, a essência de “A invasão do Capitólio" está na histórias pessoais dos envolvidos, sejam políticos ou policiais. Com muita franqueza, cada personagem dá o seu relato. Há momentos tocantes, como o de um congressista que havia enterrado seu filho um dia antes, morto por suicídio, e que havia decidido, mesmo em luto, dar o seu voto na certificação de Biden. Cometeu um grande erro: levou dois filhos para o Capitólio – todos ficaram acuados no gabinete.

A quantidade de democratas que deram depoimentos para o documentário é imensamente superior à de republicanos. Segundo os diretores, somente quatro – entre os 50 senadores e cerca de 115 congressistas do Partido Republicano – responderam ao convite para participar do filme. Um deles é Adam Kinzinger, que até o início deste ano foi representante dos EUA no distrito de Illinois.

Há também duas jovens jornalistas francesas que entraram no edifício e permaneceram durante um bom tempo captando imagens e entrevistando os revoltosos (elas falaram inclusive com o extremista Jacob Chansley, que ficou conhecido como o “viking do Capitólio”), mesmo com o medo que tinham de ser confundidas com eles pela polícia.

Mas os relatos mais fortes vêm dos policiais, cujas diferentes forças tiveram que se unir para tentar controlar a turba. Dificuldades, exaustão, desespero, tudo se une nas descrições, ainda muito vívidas, passados dois anos.

“O ATAQUE AO CAPITÓLIO” 

O documentário está disponível na HBO Max